Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Além das razões óbvias que levariam uma criança a se distanciar dos pais à medida que envelhecem – por exemplo, se foram vítimas de abusos quando ou se viveram com pais narcisistas –, esse movimento nem sempre é uma consequência dramática ou um acontecimento único. Há momentos em que uma lacuna é criada ao longo do tempo por decisões ou comportamentos acumulados.
Todos os relacionamentos precisam de esforço de ambos os lados, comunicação, amor, confiança e compreensão, mesmo se estivermos falando de pais e filhos. Mas, à medida que crescemos, a vida pode nos levar para uma direção diferente da de nossos pais, e podemos adotar hábitos que acabam enfraquecendo os laços. Por isso, vamos falar sobre comportamentos comuns às pessoas que se afastam de seus pais à medida que crescem. E muitos deles ocorrem sem que nos demos conta disso.
1. Considerar o relacionamento garantido
Um estudo sugere que os adultos que moram longe (a várias horas de distância) têm menos contato e se sentem menos próximos emocionalmente de seus pais. É possível que o que aconteça nesse caso seja que o relacionamento é considerado garantido, sem perceber que a suposição de que nossos pais sempre estarão ao nosso lado pode se transformar em comodismo.
Como explica o psicólogo Rincón, “ter alguém em um relacionamento garantido significa presumir que essa pessoa sempre permanecerá, independentemente do esforço feito para nutrir o vínculo”. Em outras palavras, podemos parar de nos esforçar e esperar que o relacionamento se sustente sem cuidados, o que significa que, com o tempo, o vínculo se enfraquece e nos distanciamos da pessoa sem nem mesmo perceber.
2. Não conseguir se comunicar de forma significativa
O dramaturgo George Bernard Shaw disse que “o maior problema na comunicação é a ilusão de que ela já ocorreu”. Nesse caso, achamos que já conversamos com eles, mas, na realidade, apenas trocamos palavras sem nos aprofundarmos ou estabelecermos uma conexão real. A comunicação não é fluida com eles porque talvez tenhamos valores diferentes de nossos pais, pensamos de maneiras diferentes ou não damos prioridade a eles em uma vida em que estamos sempre correndo.
E, embora enviar um WhatsApp ou fazer uma rápida ligação não exija muito esforço, aqueles que inconscientemente se distanciam de seus pais geralmente percebem que a comunicação se torna menos frequente e de pior qualidade. Por exemplo, evitando tópicos que possam provocar uma discussão, se concentrando em coisas cotidianas ou lidando com questões superficiais.
Como a psicoterapeuta Jennifer Gerlach ressalta, “evitar conversas difíceis pode levar à falta de comunicação, ao rompimento do relacionamento e à perda de valores”. Com o tempo, essa evitação pode criar um senso de distância emocional que dificulta a conexão e, na rotina, a comunicação desaparece.
3. Ter problemas não resolvidos na infância
Crescer achando que seus pais não o entendem, que você não está correspondendo às expectativas deles, que há desigualdades entre você e seus irmãos, ou ter crescido em dois lares porque seus pais se divorciaram, pode voltar a assombrá-lo à medida que você envelhece.
Segundo o psicólogo Carl Jung, a maior tragédia da família não é o conflito, mas as feridas não expressas e não resolvidas. Essas emoções, muitas vezes complexas, podem persistir e influenciar nossos relacionamentos, nos levando a se distanciar de nossos pais sem perceber, como um mecanismo de defesa. Nesse caso, talvez a melhor coisa a fazer seja procurar um psicólogo para investigar essas feridas abertas de sua infância e ajudá-lo a curá-las.
4. Medo de perder sua independência
Ser e se sentir independente não é algo ruim. Há muitas pessoas que valorizam a solidão, a independência e o crescimento pessoal, mas se sempre nos esforçarmos mais para construir nossas vidas e estabelecer nossas rotinas, podemos criar um senso de autossuficiência que afasta nossa família.
Isso não é necessariamente uma decisão consciente, mas uma reação inconsciente para proteger nosso senso de independência estabelecido, ou simplesmente porque foi criada uma lacuna pelo fato de termos nos tornados adultos que tomam nossas próprias decisões. Mas é possível ser independente e, ao mesmo tempo, manter relacionamentos saudáveis com nossos familiares. Encontrar o equilíbrio é fundamental se quisermos manter um vínculo com nossos pais.