Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iO Japão é um dos países com maior expectativa de vida. Na verdade, segundo dados do Banco Mundial, é o país com maior esperança de vida e um dos que possuem as chamadas zonas azuis — áreas do mundo onde as pessoas vivem mais.
Para alcançar essa longevidade, os japoneses contam com o ikigai (i-ki-gái, como se pronuncia), que pode ser definido como a razão de viver ou propósito de cada pessoa. O ikigai é considerado a chave para a felicidade e é algo que se ensina às crianças desde cedo.
Mas, além dessa busca espiritual, existe outro segredo que contribui para a longevidade dos japoneses: a alimentação. Levar uma vida saudável começa pela forma como comemos. Para alguns, esse é o segredo japonês para viver mais; para outros, é algo que deveria ser aprendido desde a infância. E, de fato, no Japão isso já acontece com o shokuiku.
Segundo a UNICEF, entre os 41 países desenvolvidos da União Europeia e da OCDE, o Japão é o único onde menos de uma em cada cinco crianças está acima do peso, e o shokuiku é o grande responsável por isso. Esse conceito, ensinado nas escolas japonesas, tornou-se parte integrante da cultura do país e uma das principais razões pelas quais as crianças japonesas estão entre as mais saudáveis do mundo.
O que é shokuiku?
Sagen Ishizuka, médico e farmacêutico, inventou a dieta macrobiótica e, em 1896, criou o termo shokuiku. A palavra é formada por dois caracteres que significam “comer” e “crescer”, e pode ser traduzida como educação alimentar. O shokuiku ensina às crianças rotinas que melhoram seus hábitos alimentares, como explicam os cientistas japoneses.
Desde 2005, o Japão conta com a Lei Básica do Shokuiku, que promove hábitos alimentares saudáveis nas escolas, buscando preservar a dieta tradicional e evitar problemas de nutrição. Todos os alunos japoneses entre 5 e 16 anos participam desse programa e aprendem não apenas sobre a importância de uma alimentação saudável, mas também como escolher, comprar, preparar e consumir alimentos de forma equilibrada. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), uma alimentação saudável pode ajudar a aumentar a longevidade.
Segundo Yuko Tamura, tradutora, editora-chefe do Japonica e colaboradora do The Japan Times, há quatro práticas que os pais japoneses adotam para tornar seus filhos os mais saudáveis do mundo:
1. Ensinar o shokuiku desde cedo
No Japão, é comum que médicos recomendem, durante a gestação, um estilo de alimentação chamado ichiju sansai, que significa “uma sopa, três pratos. Cada refeição inclui um prato de arroz, uma sopa (ichiju) e três acompanhamentos (sansai), sendo geralmente uma fonte de proteína e dois pratos de vegetais. Essa dieta garante a ingestão equilibrada de vitaminas, minerais e fibras, como explica Tamura.
O próximo passo é ensinar o shokuiku às crianças, o que muda completamente a visão delas sobre a alimentação desde a infância.
2. Conversar sobre comida com as crianças
Tamura explica que mais de 95% das escolas primárias e secundárias japonesas possuem um sistema de merenda escolar. As refeições são planejadas por nutricionistas e também envolvem a participação ativa das crianças.
Caso o almoço não seja fornecido pela escola, as crianças são incentivadas a conversar sobre os lanches que levam de casa. Essa prática as deixa mais abertas a experimentar novos alimentos que os colegas trouxeram em suas bento boxes (marmitas), e os pais se envolvem mais na preparação dessas refeições.
Essa prática pode ser adaptada ao Ocidente, onde o equivalente seria discutir o que levamos para o lanche escolar. Substituir opções pouco saudáveis, como salgadinhos ou doces, por alternativas nutritivas também é essencial.
Em casa, a interação também é importante. “Outra forma de implementar o shokuiku é preparar smoothies com frutas frescas e iogurte com minha filha”, conta Tamura. “Conversamos sobre como a fruta cresce e de onde vem. Experiências como essa ajudam a manter hábitos alimentares saudáveis.”
3. Praticar o preparo de refeições em lote
Tamura revela que, inicialmente, teve dificuldade em seguir as regras alimentares da pré-escola, que proibiam alimentos ricos em açúcar, gordura ou cafeína, como batatas fritas, biscoitos e refrigerantes. Quando a escola exige certos padrões, os pais precisam se envolver mais na alimentação das crianças.
Para facilitar, muitos pais no Japão preparam refeições em lote e congelam porções previamente separadas. Assim, garantem almoços nutritivos, mesmo quando não há ingredientes frescos disponíveis em casa.
4. Substituir refrigerantes por água ou chá
Dados do Statista mostram que refrigerantes são populares em países como México, Nigéria, Estados Unidos e Reino Unido. No entanto, no Japão, menos de um terço da população consome essas bebidas regularmente, e esse hábito começa na infância.
No Japão, as crianças geralmente bebem água ou chá de cevada, uma infusão sem estimulantes que é muito popular também na Coreia. Estudos indicam que o consumo de cevada pode regular os níveis de colesterol e açúcar no sangue, além de estimular o sistema imunológico. Além disso, tem muito menos calorias do que refrigerantes, sendo uma opção mais saudável.
Leia também: Se você quer que seu filho seja seu amigo na adolescência, precisa praticar esses 5 hábitos desde a infância