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Eles não escutam uma só palavra que os pais dizem e fazem pouco caso quando o assunto é acatar uma ordem. Convencer algumas crianças a se tornarem obedientes parece uma tarefa impossível, mas fingir que nada está acontecendo pode ser ainda pior já que pode resultar em sérios problemas na infância e na idade adulta da criança.
Conversas, castigos, broncas: tudo isso parece que não faz o menor efeito e deixa os pais desanimados e sem alternativas para minimizar o problema. Mas nada de desespero, com paciência e carinho é possível reverter essa situação. "A obediência é necessária para consolidar a sociabilidade e precisa ser encarada como um aprendizado ético. Ela vai muito além do simples cumprimento de regras. Obedecendo, a criança entende o certo e o errado, mesmo na ausência dos pais", afirma Kátia Teixeira, psicóloga do EDAC Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico /SP. "Para que a obediência seja mesmo conquistada é preciso que os pais se esforcem no equilíbrio entre limite e autoridade".
O limite
O importante é descobrir quando a desobediência está oferecendo riscos para o desenvolvimento das crianças, podendo causar sérios danos na vida adulta do filhote. A desobediência precisa de controle quando a criança não é capaz de compreender uma ordem e quanto ela não respeita as pessoas ao redor. Normalmente, nesses casos elas agem acreditando que podem fazer tudo o que desejam. "O principal problema de uma criança que cresce assim é a dificuldade em lidar com as frustrações na vida adulta, quando os limites se impõem", diz a psicóloga.
Obediência ou a vontade dos pais
É essencial entender que a obediência não significa anular as vontades da criança. "A criança deve ter espaço para se manifestar, sendo respeitada", diz a especialista. Além disso, os pais precisam entender que usar o poder tendo como referencial apenas o seu ponto de vista, sem considerar a opinião da criança, provoca revolta.
Obediência zero
Não adianta perder a paciência. Se a criança não completou um ano de vida, fica mais difícil impor obediência. "No primeiro ano de vida, a criança busca satisfação e tenta fugir do que considera desprazeroso. Assim a criança age por impulso instintivo e quer fazer tudo o que vem a sua mente, o que freqüentemente aborrece os pais. No entanto, essa impulsividade é necessária para o seu desenvolvimento e, quando reprimida, gera crianças apáticas, sem brilho e com comportamentos rígidos", diz a psicóloga.
Mas não pense que, durante essa idade, os pais devem ficar de mãos atadas. Desde o nascimento é fundamental que se exponha à criança o que é permitido e o que não, com paciência e insistência. Segundo a especialista, nesta idade, não adianta ficar explicando muito. O fundamental é deixar claro que um comportamento é inadequado.
Conquistando obediência e respeito
É importante lembrar que, para conquistar esse respeito, é preciso servir de exemplo para os filhotes. "Os pais são modelos para seus filhos, portanto se os respeitarem já é um ponto de partida para conquistarem sua obediência e respeito. Não podemos esquecer que a maioria dos comportamentos infantis é aprendido pela imitação, portanto é preciso que os pais tenham claro seus valores para transmitirem de maneira coerente para seus filhos", alerta Kátia Teixeira.
Obediência ou medo
Existem pais que se orgulham ao falar que o filho nunca ousou desobedecer a uma regra. Mas, por trás de toda essa obediência, pode estar escondido o medo que a criança sente, e não o respeito que os pais conquistaram. Conseguir separar esses dois sentimentos é essencial para quem deseja garantir qualidade de vida para os pequenos. "A diferença entre respeito e medo é que, no respeito, a criança admira quem a educa, confia nela, e sabe que seus atos representam cuidados que possibilitarão o seu afastamento de situações perigosas. Já o medo significa que existe imposição de idéias e valores nem sempre justificados".
Reeducando
Reeducar é sempre mais trabalhoso, mas possível. Uma criança desobediente indica que ela não aprendeu que deve respeitar os limites. Muitas vezes, aliás, a criança nem conhece os limites. Para corrigir o problema, o primeiro passo deve ser dado pelos pais, reconhecendo a dificuldade e mapeando no que ela consiste. Quando há culpa por ficar muito tempo longe da criança, por exemplo, muitos pais se ressentem na hora de impor autoridade. Mas seu filho precisa compreender que não pode fazer tudo o que quer. Isso evita revoltas e sofrimento diante de frustrações e facilita os relacionamentos.