Em 1997, iniciou sua formação em Psicologia na Universidade Mackenzie, na cidade de São Paulo, concluindo o curso no fin...
iDesde que nascemos, recebemos dos nossos familiares valores para que possamos ser "boas meninas" e no futuro "boas mulheres". Assim, são sempre esperados pensamentos, atitudes e sentimentos nobres, para sermos aceitas e amadas pelos que nos rodeiam. Ser amável, educada e gentil, não sentir raiva, ódio ou inveja são alguns dos exemplos de qualidades esperadas para "boas pessoas". Porém, sentimentos menos nobres também fazem parte do nosso mundo emocional. No entanto, nem sempre podemos e/ou conseguimos reconhecê-los, o que pode nos causar diversos danos emocionais.
A vivência de infertilidade é frustrante demais para uma mulher. Na maioria das vezes, traz em seu bojo sentimentos de raiva (por exemplo, quando perguntam o porquê você e seu marido não têm filhos), inveja (quando uma amiga engravida assim que pára de tomar a pílula), sensação de fracasso (por tentar engravidar todo mês e se deparar com a vinda da menstruação), dentre muitos outros. Todos esses sentimentos, rechaçados pela sociedade e quase sempre por, nós mesmas, são experimentados e logo em seguida bloqueados. Não é permitido que as mulheres entrem em contato com eles, para não irem contra "o modelo ideal de menina e mulher".
Lembro-me de uma paciente que se culpava muito por invejar a irmã, que engravidara antes dela, e, a cada menstruação, acreditava estar sendo castigada por Deus por alimentar este sentimento. Outra paciente suportava calada todas as cobranças de amigos e familiares por receio de ser indelicada, caso dissesse que não queria falar sobre esse assunto, quando, na verdade, a infertilidade cabe somente a ela e ao marido.
Há necessidade de uma certa flexibilidade emocional e de permissão para que alguns sentimentos hostis possam ser reconhecidos e vivenciados, sem culpa, em meio às dificuldades para obtenção da gravidez. Nossos sentimentos e atitudes nem sempre são nobres e nem têm obrigação de ser. Sendo menos rígidas e mais tolerantes com nós mesmas, abrimos a possibilidade de vivenciar a totalidade de nossas emoções, boas ou más, tornando-nos, assim, mais humanas.
Luciana Leis é psicóloga da Clínica Gera e é especializada no tratamento de casais com problemas de fertilidade. Para saber mais sobre o seu trabalho, é só acessar: http://compartilhandovivencias.blogspot.com