Graduada em Medicina com especialização em psiquiatria pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Especializada tam...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Transtorno obsessivo-compulsivo?
O transtorno obsessivo-compulsivo, conhecido popularmente pela sigla TOC, é um distúrbio psiquiátrico de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e intrusivos, ou seja, que tendem a se repetir e são bastante negativos.
A condição também causa comportamentos compulsivos e repetitivos, que comumente estão relacionados à limpeza e à organização.É muito comum que pacientes com TOC acreditem que, se deixarem de cumprir o ritual, algo terrível poderá acontecer. Esse comportamento tende a agravar-se à medida em que a doença não é tratada ou diante de algum evento estressante ou traumático.
Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoces são muito importantes e essenciais para a recuperação.
Causas
Os médicos ainda não são capazes de entender completamente o que está por trás do transtorno obsessivo-compulsivo, mas as principais teorias que cercam as causas do TOC dizem respeito a três fatores: a biologia, a genética e o meio ambiente.
Alguns pesquisadores acreditam que o TOC pode ser resultado de alterações ocorridas no corpo ou no cérebro da pessoa. Outros estudos apontam o distúrbio para uma predisposição genética – muito embora os genes que estariam eventualmente envolvidos não tenham sido identificados até agora.
Fatores ambientais, como infecções, também parecem estar envolvidos. Pesquisas adicionais, no entanto, ainda precisam ser realizadas para corroborar essa hipótese.
O que já se sabe é que o TOC se manifesta por um conjunto de fatores, sendo eles desde hereditários até os fatores relacionados ao estilo de vida, situações de estresse e estrutura familiar frágil.
Tipos
O transtorno obsessivo-compulsivo é subdivido em dois tipos de comportamento, são eles:
- Obsessão: caracterizada pela presença de pensamentos negativos recorrentes e involuntários;
- Compulsão: caracterizada pelos rituais que se repetem com frequência, a fim de aliviar a ansiedade causada pelos pensamento obsessivos. Tais tarefas, que são repetidas compulsivamente, podem chegar a atrapalhar diretamente a vida de quem sofre com o transtorno obsessivo-compulsivo e de pessoas próximas;
Existem casos em que o TOC é identificado como subclínico. Ou seja, embora os rituais se repitam, eles não atrapalham a vida da pessoa. Além disso, o transtorno obsessivo-compulsivo pode ser dividido de acordo com os sintomas apresentados.
Sintomas
Os principais sinais e sintomas do TOC são divididos entre os dois comportamentos que o distúrbio causa: obsessão e compulsão. No entanto, é comum encontrar pessoas que desenvolvam apenas um dos tipos de sintomas.
Sintomas de obsessão
Uma obsessão, dentro do transtorno obsessivo-compulsivo, consiste em uma série de imagens, pensamentos e ideias que vêm à cabeça da pessoa insistente e repetidamente, sem que ela possa controlar.
Geralmente, a obsessão vem seguida da compulsão, que nada mais é do que uma forma de se livrar da própria ansiedade por meio de rituais e comportamentos repetidos e irracionais. No entanto, a obsessão em uma pessoa com TOC também pode manifestar-se isoladamente. Os casos obsessivos mais comuns na doença são:
- Obsessão por limpeza, que são, geralmente, resultado de um medo irracional de contaminação ou sujeira causando a dificuldade de entrar em locais considerados sujos, tocar em outras pessoas ou até objetos;
- Dúvida constante, causada por receio de ter se esquecido de algo que possa causar algum dano (deixar o gás ou a porta aberta, por exemplo);
- Fixação por uma organização rígida, que segue obrigatoriamente uma determinada ordem e simetria;
- Pensamentos agressivos, com cunho de auto agressão ou outros pensamentos de carga negativa;
- Pensamentos indesejados, incluindo de temas sexuais ou religiosos.
Sintomas de compulsão
Em pessoas com TOC, compulsões são comportamentos repetitivos que o paciente se sente compelido a executar para controlar, prevenir ou reduzir a ansiedade causada pelas obsessões ou, ainda, para impedir que algo terrível aconteça.
O cumprimento dos rituais característicos do TOC, no entanto, não trazem prazer para a pessoa, sendo capaz de reduzir a ansiedade apenas temporariamente. São alguns deles:
- Lavar ou limpar algo repetidas vezes, para evitar contaminação;
- Verificar algo para eliminar dúvidas, como, por exemplo, verificar muitas vezes que uma porta está trancada;
- Contagem de ações a fim de criar uma simetria em tudo, como repetir uma ação um determinado número de vezes;
- Ordenar para manter um padrão de organização rígido criado na mente, como seguir uma escala de cores e tamanhos, por exemplo.
A maioria dos rituais é visível, mas algumas pessoas podem ainda apresentar cálculos ou frases repetidas por diversas vezes apenas mentalmente.
Como age uma pessoa obsessiva-compulsiva?
Os sintomas de TOC geralmente começam gradualmente e oscilam em intensidade e gravidade durante toda a vida do paciente. Eles dependem, também, da aderência ao tratamento, principalmente, de um que inclua não somente medicamentos, mas também psicoterapia individual.
Os picos geralmente acontecem quando a pessoa está vivenciando um período de estresse intenso, mas também podem oscilar aleatoriamente sem haver gatilhos óbvios.
Muitos pacientes são capazes de compreender que suas obsessões e compulsões são irracionais. Tanto que muitas das compulsões são realizadas em segredo, para que não gerem preocupações. Ainda assim, há casos de pessoas que não conseguem compreender a irracionalidade de seus atos e pensamentos, o que dificulta a busca por um tratamento. Sobretudo crianças têm dificuldade em reconhecer o que está errado.
Diagnóstico
Para ajudar a diagnosticar uma pessoa com TOC, o médico ou especialista em saúde mental pode solicitar a realização de determinados exames e testes, incluindo:
- Exame físico: feito no próprio consultório médico e serve, principalmente, para excluir possíveis outras causas dos sinais e sintomas que a pessoa manifestou;
- Testes de laboratório: podem incluir, por exemplo, um hemograma completo, triagem para detectar a presença de álcool e outras drogas no organismo, além de um check-up geral, principalmente para medir a função da tireóide e para poder iniciar tratamento medicamentoso com segurança;
- Avaliação psicológica: um médico ou profissional de saúde mental poderá lhe fazer perguntas específicas sobre seus pensamentos, sentimentos, sintomas e padrões de comportamento. O especialista pode, também, querer falar com familiares e amigos próximos, a fim de entender melhor o que se passa.
Fatores de risco
Os principais fatores capazes de aumentar o risco de uma pessoa desenvolver o transtorno obsessivo-compulsivo incluem:
- Histórico familiar, como ter algum membro próximo da família com diagnóstico positivo de TOC ou outras doenças psiquiátricas;
- Acontecimentos traumáticos e estressantes que tenham ocorrido na vida da pessoa, como a morte de um ente querido ou um acidente grave.
Cerca de 1% a 2% da população é afetada pelo transtorno obsessivo-compulsivo, que atinge um pouco mais as mulheres do que os homens. Em média, o TOC tem início entre os 19 e 20 anos de idade. Contudo, mais de 25% dos casos começam antes dos 14 anos de idade.
Além disso, não é impossível que o TOC possa surgir já na vida adulta.
Buscando ajuda médica
Os sintomas relacionados ao TOC não são simples preocupações com organização, limpeza ou ordem. Muitas pessoas tendem a confundir práticas comuns e cotidianas, como levantar sempre do lado direito da cama, manter a casa limpa e os copos dispostos sempre numa mesma ordem com sinais e sintomas típicos do transtorno obsessivo-compulsivo. No entanto, isso é um engano.
Um dos pontos principais a serem observados é se a prática dos rituais ou a impossibilidade de praticá-los gera sofrimento. Ter a rotina afetada por precisar fazer algo de acordo com uma regra rígida também é algo que costuma apontar para que a pessoa precisa procurar a ajuda de um profissional.
Manias e TOC: como diferenciar?
Pessoas com TOC desenvolvem essas características de forma muito mais intensa, irracional e acompanhada de interferência negativa na qualidade de vida. Sendo assim, não é incomum que elas tenham seu desempenho no trabalho afetado, não consigam cumprir regras e horários de convenções sociais e, por isso, evitem a interação social.
E é nisso que o médico irá se basear para definir se há necessidade de ajuda de um ou mais especialistas.
As manias, contudo, costumam não ser tão rígidas. De fato, uma pessoa com manias gosta de segui-las, mas a impossibilidade de realizar um ritual não é sinônimo de que algo ruim poderá acontecer ou de desencadear uma crise de ansiedade, por exemplo.
Tratamento
O tratamento disponível para o transtorno pode ajudar a controlar os sintomas e evitar que eles interfiram ainda mais na qualidade de vida do paciente. Em geral, as pessoas precisam de tratamento por toda vida.
As duas principais abordagens de tratamento para TOC são a psicoterapia e o uso de medicamentos. No entanto, o tratamento é mais eficaz quando há uma combinação das duas.
Terapia cognitivo-comportamental para TOC
A psicoterapia cognitivo comportamental é considerada pelos médicos como uma das formas mais eficientes de tratamento para o transtorno obsessivo-compulsivo, principalmente se combinado com medicamentos.
As técnicas psicoterápicas consistem em identificar os pensamentos obsessivos e tratar a causa de cada um deles por meio de psicoeducação, apresentação de evidências, testes comportamentais entre outros.
Além disso, há também a terapia de exposição e prevenção. Essa prática consiste em expor a pessoa gradualmente a situações em que, normalmente, ela lançaria mão de obsessões e compulsões para lidar. Esse processo continua até que o paciente consiga aprender maneiras saudáveis de lidar com a própria ansiedade, sem recorrer a essas características.
Medicamentos
Certos medicamentos psiquiátricos podem ajudar a controlar as obsessões e compulsões do TOC. Em geral, é necessário utilizar doses mais elevadas do que em outros transtornos e também fazer uso contínuo por maior intervalo de tempo.
Costuma-se optar primeiramente por antidepressivos, porém outras medicações como antipsicóticos e ansiolíticos também são usados para tratar ou controlar os sintomas do TOC.
Os medicamentos mais usados para o tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo são:
- Anafranil
- Assert
- Citalopram
- Clomipramina
- Cloridrato de Fluoxetina
- Escitalopram
- Paroxetina
- Pondera
- Sertralina
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Tem cura?
O TOC é uma doença crônica para a qual não há cura. Os sinais e sintomas da doença oscilam entre períodos de melhora e piora ao longo de toda vida.
Não é comum, no entanto, que uma pessoa diagnosticada com este transtorno vivencie períodos sem absolutamente nenhum sintoma aparente. Por essa razão, é imprescindível que pacientes com TOC sigam à risca o tratamento recomendado.
A qualidade de vida tende a melhorar muito com a psicoterapia aliada ao uso de medicamentos.
Prevenção
Não existem formas conhecidas de se prevenir contra o transtorno obsessivo-compulsivo. No entanto, é possível evitar se expor a alguns riscos que levam ao agravamento da doença como, por exemplo, não consumir bebida alcoólica e drogas ilícitas.
Além disso, o diagnóstico e tratamento precoce tendem a dar uma melhor qualidade de vida ao paciente.
Complicações possíveis
Indivíduos com TOC podem apresentar complicações ou outras doenças que não são necessariamente causadas pelo distúrbio, mas podem ser resultantes da associação de mais de um transtorno mental, tais como:
- Prejuízo no desempenho do trabalho, nos estudos ou em atividades sociais;
- Envolvimento em relacionamentos problemáticos e instáveis;
- Má qualidade de vida;
- Transtornos de ansiedade;
- Depressão;
- Fobia social;
- Transtornos alimentares;
- Pensamentos e possíveis tentativas de suicídio;
- Alcoolismo e abuso, uso nocivo ou dependência de drogas ilícitas ou outras substâncias, como o cigarro;
- Dermatite de contato;
- Tique nervoso.
Referências
Organização Mundial da Saúde
Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais – DSM V
Manual MSD - Versão Saúde para a Família
TOC: Transtorno Obsessivo-compulsivo: Site de divulgação de pesquisas feitas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sobre o transtorno obsessivo-compulsivo