Cirurgiã-dentista graduada em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia desde 2001. Ela também é mestre e doutora n...
iA higiene oral como hábito é fruto do que incorporamos no nosso dia a dia, daquilo que aprendemos com os nossos pais, com os nossos professores de escola, ou com os nossos dentistas. Porém, não houve evolução nesta área, uma vez que ela não é absorvida pela cultura brasileira.
Para alterar um hábito, é preciso submergir o conhecimento e mudar de atitude na prática, durante pelo menos 20 dias. Parece difícil, não? Sem dúvida, assim como é necessário entender o processo saúde-doença, o comportamento das enfermidades bucais e o que cada atitude individual pode implicar na instalação ou na prevenção dos problemas.
Há duas doenças bastante comuns que afetam a nossa boca. Elas têm diferentes características e agentes causadores, mas, apresentam uma particularidade em comum. A cárie (que acomete dentes) e a doença periodontal (que compromete os tecidos ao redor dos dentes, como o osso alveolar, a gengiva e o ligamento periodontal) são doenças causadas por microrganismos cuja virulência (agressividade) acontece através da capacidade que eles têm de se aderir aos dentes e à gengiva.
A única forma eficaz de combater essas bactérias é removendo-as mecanicamente das superfícies dentais e gengivais através do correto uso da escova e do fio dental. É a única forma de impedir a instalação e a progressão das doenças bucais infecciosas.
O acúmulo de ácidos bacterianos sobre a superfície dos dentes causa cárie, que é a dissolução dos minerais do esmalte dental em diversos graus, até que ocorra a cavitação. Nesse estágio, torna-se impossível controlar a doença somente com as técnicas de escovação. É preciso restaurar a forma anatômica do dente para remover o foco de infecção.
As bactérias acidogênicas (alguns grupos de estreptococos orais) são dependentes de oxigênio e açúcares, encontram melhores condições de dominância em bocas cuja higiene é precária. Atualmente a cárie é restrita a pequenos grupos de indivíduos que não tiveram informações, que promoveram uma melhor higiene durante a infância e a adolescência.
A doença periodontal, por sua vez, é causada por bactérias intolerantes ao oxigênio (anaeróbias) em sua maioria, que se concentram na área de transição entre a gengiva e o dente (sulco gengival). Se esse biofilme bacteriano não for constantemente removido com a escova e o fio dental, ele incorpora os minerais provenientes da saliva, petrificando-se ao redor dos dentes e formando o cálculo (tártaro). O cálculo representa agressão local constante, pois, uma vez formado, não mais pode ser removido com as ferramentas corriqueiras de higiene oral (escova e fio dental).
Sua superfície, microscopicamente rugosa, estará sempre contaminada com bactérias, e não há outra saída para o organismo senão "fugir" da agressão, o que resulta em perda óssea, e consequente bolsa periodontal ou recessão da margem gengival (conhecida como retração gengival).
Já os problemas de gengiva, na maioria dos casos são de influência genética. Isso é compreensível na medida em que estudamos a causa e progressão da doença periodontal. Sabemos que ela decorre do desequilíbrio entre dois principais fatores: a bactéria e o hospedeiro (em termos de capacidade de defesa ou resposta do sistema imune).
Existem diversos graus e variações da doença periodontal, que são dependentes do tipo de bactéria presente e de fatores moduladores tais como estresse, cigarro e determinadas doenças sistêmicas. Mas, o que realmente preocupa é que os indivíduos com doença periodontal ativa têm focos de infecção em boca, que podem influir negativamente a nível sistêmico, causando, por exemplo, o nascimento prematuro de crianças com baixo peso ou dificultando o controle da diabete e até mesmo gerando doenças fatais, como a endocardite bacteriana.
Problemas diferentes requerem soluções igualmente distintas, assim como cada indivíduo merece uma atenção personalizada diante do seu problema. Por isso, não dá para generalizar os ensinamentos acerca da higienização bucal. Mesmo que o indivíduo seja submetido aos tratamentos odontológicos indispensáveis ao restabelecimento da saúde tudo terá sido em vão se ele não se reeducar quanto à higienização de seus dentes e gengiva, através da orientação do dentista.
O tratamento odontológico é a oportunidade de recomeçar, de rever os hábitos e de instituir um final feliz para a autoestima: um sorriso saudável e harmoniosamente bonito.
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