Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação...
iO IBGE publicou em 27 de agosto o resultado do POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), com a evolução dos dados de peso e estatura de crianças e adultos no Brasil em 2008 e 2009, comparando essa pesquisa com as estatísticas de 1974 (quando eu comecei meu curso na Faculdade de Medicina) e de 1989. O resultado? Assustadoramente previsível.
A obesidade, que é uma doença crônica, avança a passos largos e pesados e pode ser a maior epidemia em curso no nosso país, superando a dengue, o H1N1 e até a AIDS, entre outras, sem respeitar sexo, idade ou classe social. Mais da metade da população adulta no Brasil está com sobrepeso ou obesidade e a doença já atinge uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos de idade.
Quando falamos sobre o grave problema que representa a obesidade infantil hoje em dia, muitas vezes nos esquecemos da atribuir a responsabilidade a quem realmente a merece. Nenhuma criança (pelo menos até seus 4 anos de idade) come o que não lhe é oferecido ou não está ao seu alcance. Assim, grande parte dos quilos a mais da criança vem por causa dos pais e familiares.
O ambiente familiar, primeiro nicho social do qual a criança faz parte, além de prover um teto, boas condições de saúde, amor e segurança deve cuidar de toda a alimentação. Dessa forma, o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida deve ser a meta, a base para uma vida saudável. Depois disso, a introdução de outros alimentos deve seguir uma orientação adequada, fornecida nas consultas pediátricas de rotina e seguida por todos no ambiente familiar (em casa e na casa de parentes), escolar e social.
Como ajudar a criança?
É muito difícil colocar na criança a obrigação de se alimentar de forma correta, principalmente se as ofertas, guloseimas, são praticamente constantes, quer seja através do apelo da mídia, quer seja pelos amigos, pela escola ou pela própria família. Com a colaboração da comunidade que cerca essa criança, esse objetivo terá mais condições de ser atingido de forma eficaz e duradoura.
Isso pode ser comprovado por trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition (Volume 91, Number 4, April 2010, Pages 831-840). Entre 2004 e 2008, foram avaliadas e acompanhadas 12.000 crianças com idades de 0 a 5 anos, em uma comunidade da Austrália.
Foram instituídas alterações nessa comunidade (políticas, físicas e socioculturais) visando melhorar a qualidade da alimentação e da atividade física dessas crianças, com participação fundamental das escolas e creches e apoio financeiro no valor de 112.000 dólares australianos (cerca de R$ 172.000,00).
O programa contou com suporte de universidades (para treinamento e avaliação dos projetos), parceiros nas áreas psicológicas, dentais, entre outros, mobilizando a sociedade em prol dessa meta.Os resultados foram uma redução significativa no peso e IMC dessa população entre 3 a 5 anos e redução significativa do sobrepeso e obesidade em crianças entre 2 a 3 anos e meio, após redução significativa da oferta e consumo de sanduíches e refresco.
O que falta para que haja uma conscientização nacional da gravidade da situação de crianças com doenças de adultos (diabetes, hipertensão arterial, obesidade, entre outros)?
Quantos quilos extras e quantos dólares a mais precisaremos gastar para que a sociedade se mobilize em prol de uma infância saudável, gerando adolescentes e adultos produtivos e equilibrados?
Até quando continuaremos a cobrar apenas dessas crianças o controle de sua saúde, eximindo os familiares, a escola, a mídia, o governo e a sociedade dessa responsabilidade? Demorou para tomarmos alguma atitude.
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