Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iO consumo de álcool tem sido associado ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer como na cavidade oral, faringe, laringe e esôfago. Só em 2020, um estudo com estatísticas populacionais estimou que mais de 740 mil novos casos de câncer no mundo foram atribuíveis à substância. Tais riscos tendem a aumentar conforme a quantidade de álcool ingerida.
Especificamente em relação ao câncer de mama, de acordo com a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o risco de desenvolvê-lo aumenta de 7% a 10% a cada dose* de álcool consumida diariamente por mulheres adultas. A ingestão de bebida alcoólica também é responsável por 5% de todos os casos de câncer de mama no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
A associação entre álcool e câncer de mama tem sido estudada nos últimos 30 anos e uma das primeiras pesquisas importantes a apontar essa relação foi o Nurses Health Study, realizado entre 1980 e 1984, nos Estados Unidos. A amostra era composta inicialmente por 89.538 enfermeiras entre 34 e 59 anos de idade, sendo identificados 601 casos de câncer de mama ao longo do estudo.
Em comparação ao grupo abstêmio (ingestão de menos de cinco gramas de álcool por dia), as mulheres que consumiam diariamente de 5 a 14 gramas de álcool apresentaram aumento de 30% no risco de desenvolver câncer de mama, ao passo que aquelas cujo consumo diário era de 15 gramas ou mais registraram um risco maior, de 60%.
Desde então, muitas outras pesquisas foram feitas e os resultados reforçam a associação entre álcool e câncer de mama. Um estudo mostrou que, em 2012, dos 144.000 casos de câncer de mama, 8,6% foram atribuíveis ao álcool. Já em relação às mortes causadas pela doença, 7,3% tiveram relação com o consumo da substância. No Brasil, por exemplo, um estudo realizado pela FIOCRUZ com mais de 1.500 mulheres com mais de 50 anos mostrou que, aquelas que consumiam álcool regularmente por 10 anos ou mais tiveram um risco três vezes maior de desenvolver câncer de mama comparadas com mulheres abstêmias ou bebedoras ocasionais.
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Outra frente de estudos que tem despertado o interesse dos pesquisadores é a associação entre o uso da terapia de reposição hormonal (TRH), o consumo de álcool e o risco de câncer de mama em mulheres na pós-menopausa. Dados dos últimos anos apontam que essa combinação tem um efeito aditivo ao desenvolvimento da doença. Usuárias de TRH há cinco ou mais anos que consumiam diariamente 20 g ou mais de álcool (cerca de uma dose ou mais) tinham um risco relativo de câncer de mama quase duas vezes maior do que as não bebedoras e não usuárias de TRH.
A explicação para isso, segundo os pesquisadores, está relacionada ao aumento dos níveis de estrogênio, hormônio associado ao câncer de mama. Tanto a reposição hormonal quanto o consumo de álcool podem contribuir para esse aumento, que, consequentemente, é potencializado pela combinação dos dois hábitos.
A boa notícia vem de um estudo americano que avaliou mais de 8 mil casos de câncer de mama invasivo em mulheres na pós-menopausa. Ele mostrou que mais de um terço desses casos são evitáveis por meio de mudanças nos fatores de risco modificáveis, como manutenção de um peso saudável ao longo da vida, prática de atividades físicas, alimentação equilibrada, amamentação prolongada e não abusar do consumo de álcool.
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Por isso, como sempre gosto de lembrar, hábitos saudáveis são a chave para a prevenção do câncer de mama e de outras doenças. Adotar um estilo de vida saudável e fazer um acompanhamento periódico com seu médico, realizando os exames anuais, como a mamografia, são atitudes que certamente contribuirão para a sua saúde. Cuide-se!
* Uma dose padrão de álcool corresponde a 14 gramas de álcool puro, o que equivale a uma lata de cerveja (350 ml) ou uma taça de vinho (150 ml) ou um shot de destilado (45 ml).