Vôo de Natal para São Paulo.Trecho longo de três horas. Avião super lotado. Como sempre, as pessoas cheias de bagagem de mão. O calor entrava por toda cabine. Uma situação sempre caótica, a começar pelo aeroporto. Famílias com crianças pequenas, idosos, outros que não tiveram a oportunidade de fazer uma viagem de avião e, estavam ali pela primeira vez vivendo a oportunidade de entrar em uma das maiores invenções humanas. Realmente, uma alegria encurtar as distâncias, e logo, chegar ao seu destino.
Entrei no avião e, milagrosamente, consegui um lugar na primeira fileira e no corredor! Ao meu lado senta-se um casal com uma criança. Era uma menininha linda, graciosa e seus olhos azuis transmitiam a naturalidade e a curiosidade, próprias das crianças. Pai se acomoda na poltrona do meio, mãe na janela com a filhinha no colo. A curiosidade, aquela coceirinha que está presente nas crianças, manifestava-se com força e alegria nesta pequena. Ela perguntava tudo, "o que é isto e aquilo mamãe"? Apertava todos os botões e se inquietava naquela cadeira que mal cabe uma pessoa.
O avião começa suas manobras para decolar. Cintos afivelados, pego meu livro e resolvo que vou aproveitar aquelas três longas horas para terminá-lo. Após cinco minutos, ponho os fones de ouvido e escuto meu repertório enquanto outras músicas vão sendo cantadas e tocadas. A criança ao meu lado, evidentemente, vai se desiludindo com a "espaçonave": ela voa, lá perto das nuvens, mas e daí? A inquietação toma conta dos pais e da filha. Eu não consigo estar alheia a uma criança, tampouco aos pais na sua relação com os filhos. Estou sempre observando e refletindo sobre os caminhos dessa relação familiar tão intensa e determinante em suas vidas.
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A criança, que resolvi chamar de Raquel, cada vez mais inquieta, despertava a atenção de outros passageiros, enquanto consegui manter-me quase focada na minha leitura. Sem querer invadir, eu olhava, ás vezes, até que percebi que os pais não tinham trazido qualquer brinquedo, papel, lápis de cor, coisas que fazem parte do mundo infantil. A criança também não tinha sido lembrada na sua alimentação. Tomava refrigerante e comia amendoim, distraía-se.
Sua mãe, assim que terminou o lanche teve a idéia de passear com sua filha pelo corredor do avião. E, surpreendentemente, trouxe para ela, mãe, uma distração: uma revista de palavras cruzadas, que volta e meia, como quem precisa de descanso, preenchia! "Seu brinquedo" foi lembrado. Voltaram às suas poltronas e a inquietação continuou. Raquel pediu para ficar no chão e iniciou uma brincadeira de abrir e fechar a mesa. Enquanto isso a mãe fazia palavras cruzadas... De repente, a música do choro atingiu um alto volume: Raquel prendeu o dedo! A mãe logo a coloca no colo e Raquel dorme. Onde estava o pai? Ao lado, mas pouco fazia para brincar e distrair a filha. Assistia a tudo com certa resignação, ao mesmo que parecia não ser muito da responsabilidade dele intervir naquela relação.
O que pensar dessa situação? Muitas coisas. A principal delas é que os pais sabem cada vez menos como cuidar dos seus filhos, como entrar no mundo da criança, já que o mundo deles é sobrecarregado, exigente e altamente mutável. Têm poucas horas para cultivar o divertimento, para o ócio criativo. Sem dúvida, aquele casal quer fazer o melhor, dar o melhor para sua filha. Era aparente o amor por aquela criança. Entretanto, era aparente também que não sabiam muito como manejar uma situação de restrição em conjunto com as necessidades de uma criança. Em decorrência disso, não se prepararam para uma viagem que, sabidamente, é longa, cansativa e limitada em termos de espaço.
Sou absolutamente desfavorável a qualquer tipo de julgamento, principalmente aos pais. Sou mãe e já passei por inúmeras situações parecidas. A gente acha que vai dar conta e que a coisa é simples. De fato é simples, desde que os aspectos infantis sejam considerados. Por esta razão decidi escrever sobre dicas para uma viagem razoavelmente tranqüila de avião com os filhos, principalmente, neste período de férias.
Aqui vão algumas orientações:
1- Prepare seu filho, se ele tem mais de dois anos, para a viagem. Conte o que é um avião, quantas pessoas ele carrega, como as pessoas vão e como serão todos os procedimentos. Para isso, use uma linguagem lúdica que estimule a fantasia e a alegria de poder viajar. Quem sabe alguns personagens das historinhas possam ser usados?
2- Leve alguns objetos que sejam da preferência da criança. Brinquedos pequenos, papel e lápis de cor, um objeto eleito pela criança quando ela está agitada ou quando vai dormir. São coisas muito simples, mas que trazem a sensação de conforto e familiaridade. Lembre-se que nós adultos, quando viajamos, sempre escolhemos alguns "brinquedos": revistas, livros, Ipod, computador, relatórios etc. Por que uma criança não teria a sacolinha mágica, recheada do que lhe é mais caro: a possibilidade de brincar ao seu modo?
3- Vocês, pais, são os responsáveis pela criança, por isso ensine-lhes que aquele espaço é compartilhado por outras pessoas e que há algumas que estão trabalhando para oferecer mais conforto para os passageiros. Distraia, brinque com seu filho, mas esteja atenta para que as pessoas não precisem fazer o papel de pai e mãe, chamando atenção do seu filho ou olhando para vocês, pais, como se fossem negligentes ou incompetentes para tomar conta de pequenas criaturas.
4- Lembre-se que, por menor que seja uma criança, ela tem absoluta competência para sentir a presença cuidadosa, amorosa e firme dos seus pais. A frase: "ela é muito pequena, não entende..." é um grande equívoco. Certos conceitos se falados, de fato, não serão apreendidos, dependendo da idade, mas, com certeza, serão absolvidos pelos sentidos aguçados da criança.
Educar é cuidar integralmente e continuamente. Para isso nem sempre precisamos falar; educa-se, também, com o que não é dito. Desejo feliz férias a todos os pais e filhos. Desfrutem da companhia um do outro e torne o momento uma excelente oportunidade de estreitar mais ainda o conhecimento recíproco. Abraço.
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