Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
iMuitas doenças ginecológicas precisam ser tratadas por cirurgia. No entanto, antigamente toda mulher com sangramento anormal tinha a cirurgia de retirada do útero (histerectomia) como única opção de tratamento. Hoje existem muitas alternativas antes de chegar a essa opção.
Quando falamos de doenças benignas, como miomas, adenomiose e pólipos endometriais, existem tratamentos hormonais e cirurgias que preservam o útero. Mas quando a histerectomia é inevitável ou mesmo outras cirurgias ginecológicas importantes, como para endometriose profunda, em que a fertilidade pode estar em jogo, temos à disposição uma tecnologia avançada com inúmeras vantagens: a cirurgia assistida por robô. Hoje escreverei um pouco sobre essa tecnologia que vem para revolucionar os atos cirúrgicos.
O robô cirúrgico é um dispositivo computadorizado controlado por médico cirurgião experiente que pode ser programado para auxiliar o posicionamento e manipulação de instrumentos cirúrgicos. O equipamento é formado por um console que funciona como uma base de controle, na qual o cirurgião principal fica sentado manipulando os braços do robô remotamente. O robô propriamente dito é dotado de braços para segurar os equipamentos que serão utilizados na cirurgia.
A equipe é formada por pelo menos dois médicos cirurgiões: um ficará no console e outro em campo cirúrgico, auxiliando no que for preciso e disponível para qualquer emergência. Além disso, fazem parte da equipe o médico anestesista, instrumentador e enfermeiros especializados em robótica. Na maioria dos casos, o procedimento também conta com a participação de mais dois ou três cirurgiões.
A primeira vez em que a cirurgia robótica foi utilizada foi em 1985 em neurocirurgia, em seguida em urologia e ortopedia. Hoje as principais áreas que utilizam são ginecologia, urologia e cirurgia geral.
A cirurgia robótica é normalmente indicada para procedimentos antes realizados apenas por videolaparoscopia. Em ginecologia, a principal indicação é a histerectomia e cirurgia para endometriose profunda. Desde a década de 1980, os robôs cirúrgicos foram desenvolvidos para vencer as limitações da laparoscopia, como a visualização 2D, a articulação incompleta de instrumentos e as limitações da posição dos cirurgiões. O objetivo da cirurgia laparoscópica assistida por robô é ajudar os cirurgiões a melhorar a assistência, tornando o procedimento mais preciso, com menor perda de sangue, melhor recuperação e alta mais precoce.
Cirurgia laparoscópica assistida por robô tem todas as vantagens da cirurgia minimamente invasiva por videolaparoscopia, incluindo dor pós-operatória menor, incisões mínimas, menor tempo de internação, menor tempo de recuperação e retorno mais rápido ao trabalho, acrescentando ainda mais precisão e maior conforto para o cirurgião, aumentando também a segurança da paciente.
Dentre as vantagens podemos citar ainda a possibilidade de cirurgia à distância. A tecnologia permite que o cirurgião principal esteja em outra sala, em outro hospital ou até mesmo em outro país. É claro que sempre haverá uma equipe médica completa na presença da paciente, mas é possível ampliar as possibilidade de tratamento aproveitando a experiência profissionais que vive em outro lugar, por exemplo.
As maiores vantagens do robô sobre a laparoscopia convencional são:
- Melhor visualização do campo operatório pelo cirurgião principal: tridimensional (3D) versus bidimensional (2D)
- Melhorias mecânicas: os instrumentos robóticos têm sete graus de liberdade, semelhantes ao braço e mão humanos, enquanto instrumentos rígidos convencionais de laparoscopia têm apenas quatro graus de liberdade. Embora já existam instrumentais laparoscópicos flexíveis mais recentes, que se movem em sete graus, os movimentos com estes instrumentais não são intuitivos como os movimentos realizados com o robô e seu uso pode requerer um treinamento mais avançado
- Estabilização de instrumentos dentro do campo cirúrgico: na laparoscopia convencional, pequenos movimentos por parte do cirurgião são amplificados (incluindo erros ou tremor da mão). Já na cirurgia assistida por robô os tremores são minimizados
- Melhor ergonomia para o cirurgião, que trabalha sentado confortavelmente em um console. Cerca de 8 a 12% dos cirurgiões relatam dor e dormência nos braços, pulsos ou ombros após a realização de cirurgia gastrointestinal laparoscópica convencional.
Entre as desvantagens da cirurgia robótica podemos citar:
- Treinamento cirúrgico adicional
- Aumento de custos e tempo de sala de operação
- Limitações de instrumentação: ainda não há toda a variedade de instrumentais laparoscópicos para cirurgia robótica. Por isso nem todos os procedimentos que podem ser realizados por laparoscopia podem ser feitos por robótica
- Risco de falha mecânica, mas que também pode acontecer em laparoscopia convencional. Existem vários controles mecânicos e equilíbrios disponíveis em sistemas robóticos, de modo que o risco de falha mecânica se torna menor do que em laparoscopia convencional.
Portanto, é importante que se saiba que essa tecnologia já existe e está disponível em alguns centros em nosso país. A principal barreira para termos mais robôs operando é o custo tanto do equipamento quanto da formação da equipe médica e de enfermagem na técnica.
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Devo ressaltar que a cirurgia robótica traz muitos ganhos para assistência das pacientes com câncer de endométrio e em cirurgias de retirada do útero por doenças benignas como miomas e adenomiose. O ganho também é enorme para endometriose, em que é preciso muito cuidado para preservação de tecidos para evitar dor pélvica e infertilidade. A precisão adquirida com o robô pode e já está nos ajudando a trazer melhores resultados a mulheres com endometriose. Ainda são necessários mais estudos para avaliar esses resultados, porém estamos otimistas.
Referências
Ergonomic problems associated with laparoscopic surgery. AUBerguer R, Forkey DL, Smith WD - SoSurg Endosc. 1999;13(5):466.
A consensus document on robotic surgery. AUHerron DM, Marohn M, SAGES-MIRA Robotic Surgery Consensus Group - SOSurg Endosc. 2008;22(2):313.