Aline Melo de Aguiar é apaixonada por acompanhar mulheres durante um dos períodos mais marcantes do ciclo de vida femini...
iCom frequência, sou procurada por mulheres grávidas que manifestam o desejo de tornarem-se boas mães. Quando lhes pergunto o que significa para elas, especificamente, ser uma "boa mãe" é comum ouvir: é ser a mãe que está sempre pronta, que ama incondicionalmente, que protege, que é incansável, imaculada, santa.
E, mesmo quando as respostas são menos idealizadas, me deparo com a angústia e o vazio. O termo "boa mãe" representa uma cobrança muito grande para a mulher.
A boa mãe, aquela ideal, que habita nosso imaginário, nem sempre é a mãe possível. A suposta mãe ideal é criada pela cultura que vivemos, está situada em um tempo e um espaço, dentro de um contexto sociocultural específico.
Alguém duvida que ser uma boa mãe no Brasil é diferente de ser uma boa mãe no Afeganistão? Em contrapartida, cada mulher tem vivências individualizadas e personalidades próprias, que fazem parte de sua história de vida.
E é aí que os conflitos começam: adequar cada mulher a um modelo genérico.
É preciso deixar um pouco de lado as cobranças e refletir sobre o que realmente necessitamos como mulher e como mãe. Veja que digo "necessitamos", ou seja, olhar para dentro, olhar para si, confrontar necessidades com ideais impostos pela sociedade em que vivemos.
A mãe na sociedade
A "boa mãe", aquela cultuada pela sociedade, a que tem que amar, a que tem que sofrer, a que tem que dar conta, a que tem que... a que tem que.... a que tem que... São tantos "tem que" que pode não sobrar espaço para, de fato, "ser" mãe.
Vivemos em uma sociedade capitalista, de consumo, que soma aos tantos "tem que", já citados, o "ter". Mais uma cobrança que recai sobre os ombros da mulher moderna: "tem que ter".
Além de suprir as necessidades básicas de seus filhos, a mulher tem que suprir as necessidades supérfluas, também ditadas pela sociedade na qual vive: tem que ter o carrinho- mega-super-de-último-modelo-caríssimo e por aí vai...E onde fica o "ser"?
Ser mãe com serenidade, com falhas (por que não?), com menos cobrança, com mais prazer? A verdadeira "boa mãe" é aquela que se respeita, também, é aquela que se aceita, com suas qualidades e defeitos (quem não os tem?), que se permite pedir ajuda quando está se sentindo cansada ou se depara com uma situação difícil, que se permite amar o filho pelo que ele é, que recebe o filho nos braços e, aos poucos, vai conhecendo essa nova pessoa que veio ao mundo (também com defeitos e qualidades!).
Mãe e filho
A relação mãe-filho torna-se muito mais prazerosa e satisfatória quando os dois podem apenas "ser" o que são. Partilhando emoções, momentos bons e ruins, sem medo, sem máscaras, com uma intimidade real que só as pessoas que se deixam mostrar por inteiro podem desfrutar.
Certa vez, em um grupo de mães, sugeri que elas fizessem com os filhos algo que fosse prazeroso. Sugeri que em uma noite daquela semana toda a família acampasse na sala para dormir.
Que armassem barracas com lençóis, assistissem um filme divertido juntos, todos deitados no chão, comendo pipoca, chocolate, enfim, desfrutassem o momento em família.
A primeira reação das mães à proposta foi: "mas, e aí, as crianças não vão escovar os dentes depois do chocolate? Mas vai dormir todo mundo junto mesmo?"
Ou seja, a cobrança se apresentou, firme e forte. Eu não falei mais nada, somente repeti que desfrutassem o momento e observassem suas sensações.
As mães que conseguiram se livrar das cobranças relataram que há muito tempo não se sentiam tão bem, tão leves, alegres. Até disseram que seus filhos ficaram mais calmos e que pediram para repetir a brincadeira.
É óbvio que cuidar de filhos requer um equilíbrio entre afeto e limite, ou seja, nem só afeto, nem só limite.Portanto, ser boa mãe pode ser muito mais tranquilo quando encaramos a maternidade como um encontro entre duas pessoas diferentes: mãe e filho!
Obrigada pela leitura deste artigo, que é o primeiro que escrevo para este site. Meu objetivo como mãe, psicóloga e uma pessoa apaixonada pela maternidade é trazer reflexões que levem mulheres a vivências mais felizes.
Sugestões de temas são bem vindos (aline@amapsicologia.com.br). Até a próxima quinzena!
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