Dra. Fernanda D. Spengler é psicóloga especialista em Desenvolvimento Infantil com enfoque comportamental/cognitivo e ta...
iVivemos em uma sociedade rodeada de informações e tecnologias que se renovam constantemente em um ritmo acelerado. Em meio a esse cenário, diariamente, são lançados no mercado brinquedos altamente tecnológicos e atrativos, com inúmeros recursos audiovisuais. Alguns destes brinquedos têm a função de ensinar, divertir, estimular ou simplesmente manter a criança ocupada por certo período de tempo.
Este contexto nos faz pensar que "Chapeuzinho Vermelho" anda meio fora de moda ou que "Peter Pan" se perdeu na "Terra do nunca" e que o tempo do "Era uma vez" ficou para trás. Assim, esquecemos de apresentar estes maravilhosos - e importantes - contos para nossas crianças, pensando que, de repente, não despertarão o interesse neles.
É justamente nesse ponto que nos surpreendemos quando oportunizamos essa vivência para as crianças que, mesmo recebendo diariamente milhares de informações e novidades, deixam-se envolver e viajar na literatura tradicional.
Cabe refletir: como as histórias infantis que atravessam gerações conseguem, ainda, conquistar crianças no século XXI? O que há de tão impressionante e mágico nestes enredos tradicionais, capazes de entreter os pequenos a tal ponto de quererem ver e rever os mesmos personagens e conflitos?
Não pretendemos fazer uma análise dos temas abordados em determinadas histórias, mas sim compreender a importância dessa literatura que atravessa tempo e espaço.
Apesar de cada conto apresentar temáticas e situações bem diversificadas, numa análise geral, podemos perceber que eles têm características parecidas.
É comum aparecer um personagem bom e justo que passa por situações difíceis ou tristes, muitas vezes causadas por outros personagens que tem o objetivo de prejudicar os demais. O final apresenta a vitória do bem sobre o mau e a história se resolve com alegria e festa.
Contos tradicionais como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, Cinderela, Patinho Feio, entre outros, que conhecemos desde sempre, tem um papel importante no desenvolvimento da personalidade infantil. Eles são repletos de emoções, sentimentos e sensações como angústia, medo, tristeza, ansiedade, alegria etc.
A criança ainda pequena, muitas vezes, não consegue expressar suas emoções. Ela precisa construir, experimentar e vivenciar para poder desenvolver estes aspectos emocionais. Assim, ela tende a conseguir lidar com a realidade de forma mais tranquila.
Portanto, acompanhando a trajetória do personagem, a criança compartilha as emoções, sofre com seus conflitos, vibra e torce pelo seu sucesso.
Estas experiências possibilitam a constituição de recursos emocionais importantes para que a criança tenha meios de lidar com situações reais, que envolvem insegurança, frustrações e ansiedade.
Outro aspecto interessante estimulado pelos contos de fada é o desenvolvimento do senso de justiça, de valores morais e de habilidades sociais presentes na literatura tradicional. Isso nem sempre de forma clara e objetiva, mas é perceptível para quem mergulha nesses textos e se deixa levar pela história com emoção e motivação.
Com isto, podemos entender porque certas histórias cativam tanto determinadas crianças, que querem repeti-las incansavelmente várias e várias vezes. É possível que ali haja um conflito com o qual ela se identifica e revive a situação de forma imaginária para facilitar seu entendimento da realidade.
Portanto, pais, mães, educadores e todos que convivem com crianças modernas: possibilitem a elas conhecer e vivenciar histórias tradicionais em diferentes formas, com livros, filmes, textos e imagens, quantas vezes forem desejadas.
Desta forma, estaremos contribuindo para a constituição de um adulto emocionalmente tranquilo, capaz de resolver conflitos internos e externos com segurança, motivado para os desafios da vida, com coragem para enfrentar os problemas, inovar e ousar na ?vida real?.
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