Aline Melo de Aguiar é apaixonada por acompanhar mulheres durante um dos períodos mais marcantes do ciclo de vida femini...
iDia desses fui assistir à peça "A história de nós 2", que trata de um casal em crise após o nascimento do filho. Quem me indicou a peça foi uma mãe do meu grupo mãe-bebê, que disse ter se identificado com a história. Tive que ir conferir. É uma comédia, mas, como toda brincadeira, tem um fundo de verdade. Então, pude entender porque essa peça tem tocado tanto o coração de mulheres no puerpério (fase pós-parto).
Que o relacionamento do casal muda após o nascimento do filho, é óbvio. Mas será que tem que ser tão complicado como mostrado na peça e como tenho visto com um grande número de mulheres que conheço?
Alexandra Richter e Marcelo Valle capricham na interpretação do texto de Lícia Manzo. Interpretam um casal como tantos que conhecemos: se conhecem, casam e, um dia, descobrem que serão pais. A notícia cai como uma bomba. Na vida real é bem assim: a descoberta da gravidez traz sentimentos contraditórios.
Por mais que o casal queira o filho, saber que ele está na barriga da mãe e em poucos meses estará nos braços dos dois pode dar um nó na cabeça da mulher e do homem. Por tabela, o casal pode entrar em crise. É preciso reorganizar a relação para entrar nesta nova fase de corpo e alma. Homem e mulher, agora, serão também pai e mãe de uma criança indefesa e dependente deles por um longo período de tempo. Isso pode provocar muito medo e insegurança.
Na peça, o grande problema do casal após o nascimento do filho é a vida sexual, que fica em segundo plano. A mulher vive de camisola, com um coque horroroso na cabeça e uma fralda de pano suja pendurada no ombro. E, claro, morta de cansada por conta das demandas do bebê e da casa. O homem sai para trabalhar e quando volta quer a mulher, mas só encontra a mãe. "Como pode? Onde está a mulher que casei?", ele se questiona. Por conseguinte, o homem começa a ficar mais na rua, sair com amigos e ter atitudes infantis enquanto a mulher espera que ele seja mais maduro e participativo, assumindo o seu papel de pai.
O que vou escrever é meio clichê, mas é exatamente o que pode salvar a relação: diálogo, diálogo e mais diálogo entre o casal. Cada um expor os seus sentimentos, sem um jogar as culpas pelos problemas no outro, é fundamental. É preciso que um se coloque no lugar do outro. Ser empático faz uma boa diferença. Só percebendo os sentimentos de cada um, as suas necessidades e obrigações advindas dessa nova realidade, que será possível buscar uma solução.
Empurrar os problemas com a barriga não leva a nada, aliás, pode levar à separação do casal. O momento é difícil para os dois. Para a mulher, principalmente, devido à sobrecarga física e emocional. É natural que o homem fique em segundo plano, por conta das necessidades do bebê, e se sinta abandonado. Por isso, não se pode perder de vista, que, além do bebê, homem e mulher também precisam de cuidados. Precisam cuidar um do outro!
Aproveitem aquela visitinha que a vovó ou a dindinha fazem de vez em quando e deixem o bebê com elas. Confiem nas pessoas que lhes dão apoio diariamente. Saiam a sós! Nem que seja para tomar um suco na esquina de mãos dadas, como nos tempos de namoro!
Aos poucos, esta fase difícil vai ficando para trás. É um momento difícil, mas, se bem conduzido pelo casal, não se transforma em uma vida inteira. E é possível torná-la mais fácil e, por que não, com sexo. Havendo amor e vontade de ficar junto, vale à pena investir no homem e na mulher que já foram um dia e deixar surgir naturalmente o pai e a mãe, que agora habitarão, também, a vida de cada um de vocês.
Resumindo: uma coisa é ser pai e mãe, outra é ser marido e mulher. Um papel não pode impedir ou anular o outro. Por mais trabalho que dê integrar essas duas coisas de forma harmônica, esse é um objetivo que deve ser seguido com determinação, coragem e, sobretudo, cumplicidade. O filho agradece, o pai agradece e a mulher agradece!
Obrigada pela leitura deste artigo. Meu objetivo como mãe, psicóloga e uma pessoa apaixonada pela maternidade é trazer reflexões que levem pessoas a vivências mais felizes. Até a próxima quinzena!
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