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Antes o incômodo fosse apenas o cheiro forte impregnado nas roupas e no cabelo, mas os problemas são muito mais graves para quem é obrigado a conviver com a fumaça do cigarro dos outros.
"O fumante passivo corre tantos riscos quanto o dependente em tabaco. Muitas vezes até mais do que o próprio fumante", afirma o pneumologista Sergio Ricardo Santos, presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
"Não importa quem acendeu o cigarro, o que interessa é quem inalou a fumaça". Se você é fumante, veja os riscos que as pessoas à sua volta sofrem por causa disso. E, caso não fume, fique atento à qualidade do ar que você inala.
Irritações
Reações como tosse, irritação nos olhos, dor de cabeça, coriza, agravamento de doenças respiratórias e náuseas são os chamados sintomas de curto prazo para os fumantes passivos. De acordo com a especialista em tabagismo Sabrina Presman, da Associação Brasileira de Estudo do álcool e outras drogas (Abead), esses riscos aumentam quando os fumantes concentram-se em lugares fechados ou pequenos, como festas ou dentro do carro.
Doenças pulmonares
A especialista em tabagismo Sabrina Presman afirma que crianças expostas diariamente à fumaça do cigarro têm chances 50% maiores de desenvolver alguma doença crônica, como bronquite e asma. Nos adultos que já sofrem com esse tipo de problema, a intoxicação agrava os sintomas e provoca crises frequentes de falta de ar (dispneia).
Câncer
Se você acha que só os fumantes correm risco de ter câncer, está muito enganado. O ambiente onde uma pessoa acabou de fumar contém as mesmas substâncias inaladas pelo dependente. E pior: em maior quantidade. Os cânceres relacionados à inalação da fumaça do cigarro são os de pulmão, vias aéreas e brônquios, fígado e bexiga.
Piora da saúde mental
A exposição à fumaça do cigarro, para fumantes ou não fumantes, pode aumentar os riscos de doenças psiquiátricas. Estudo da University College London, no Reino Unido, avaliou os níveis de cotinina (substância indicadora de exposição ao fumo) na saliva de 5,5 mil não fumantes e 2,7 mil fumantes sem histórico de doenças mentais e constatou: a maior exposição ao cigarro aumentava em 50% as chances de aparecimento de algum tipo de sofrimento psicológico, como depressão e transtornos de ansiedade. E este número aumenta conforme aumenta a exposição aos gases tóxicos.
Afeta a aprendizagem de crianças
Rebeldia, irritação e dificuldades de relacionamento e na escola são comuns em crianças expostas à fumaça do cigarro. Uma pesquisa da Academia Americana de Pediatras, feita com mais de 55 mil crianças de até 12 anos, mostrou que cerca de 6% delas estava exposta ao fumo passivo dentro de casa e sofriam as consequências disso.
Os resultados mostraram que crianças que fumavam passivamente tinham 50% mais chances de desenvolver problemas de comportamento e aprendizagem, tanto na escola quanto na relação com os pais.
Sinusite crônica
A fumaça do cigarro é um dos principais gatilhos para a sinusite crônica, de acordo com estudo da Universidade de Brock, no Canadá. Para chegar a esse resultado, a pesquisa avaliou 306 adultos não-fumantes que desenvolveram sinusite e 306 não-fumantes saudáveis.
O acompanhamento desses voluntários permitiu descobrir que a exposição à fumaça do cigarro triplicou as chances de desenvolver a doença crônica.
A incidência da doença é maior em pessoas que já apresentam algum sintoma de sinusite. "Os sintomas da sinusite são agravados quando você é fumante passivo. Por causa disso, a doença eventual pode acabar se tornando um problema crônico", afirma Sabrina Presman.
Prejudica a audição de adolescentes
Adolescentes expostos à fumaça do tabaco têm quase o dobro do risco de sofrer perda auditiva em relação àqueles livres do ar tóxico, segundo estudo desenvolvido na Universidade de Medicina de Nova York, nos Estados Unidos.
A pesquisa envolveu mais de 1.500 adolescentes com idades entre 12 e 19 anos, avaliados inicialmente em suas casas e, depois, submetidos a testes de audição e avaliação de amostras de sangue para determinar os níveis de substâncias que pertencem à fumaça do cigarro.
Os pesquisadores concluíram que os adolescentes expostos ao fumo passivo estão mais propensos à perda auditiva neurossensorial, problema que costuma ocorrer na velhice ou entre crianças nascidas com surdez congênita.
Danos ao sistema vascular
O tabagismo passivo prejudica o funcionamento do coração, mesmo quando já não há mais fumaça no ar. Isso porque, mesmo depois que a fumaça se dispersa, as substâncias nocivas do tabaco continuam no ar e podem ser inaladas.
"Alterações na pressão sanguínea, AVC e infarto são alguns dos problemas relacionados ao fumo passivo", afirma o cardiologista Fernando Nobre, presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão.
Riscos ao bebê e às crianças
A amamentação, quando a mãe volta a fumar depois do parto, transforma o bebê em fumante passivo: a criança pode sofrer de overdose tóxica ou parada cardíaca, pois o leite materno apresenta altas concentrações de nicotina.
De acordo com o pneumologista Alberto de Araújo, presidente da comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, bebês que são constantemente expostos à fumaça do cigarro ainda podem ser vítimas da Síndrome da Morte Súbita Infantil, causada pelas substâncias tóxicas do cigarro.
E não adianta fumar longe da criança: as substâncias ficam impregnadas na sua roupa, nas paredes e nos móveis da casa, onde a criança pode passar a mão e levar os dedos contaminados à boca, sendo afetada.
Cigarro faz mal mesmo depois de apagado
Ficar longe do seu amigo fumante somente no momento em que ele acende o cigarro não basta para proteger a sua saúde. O ar que circula na casa de uma pessoa fumante chega a conter três vezes mais nicotina e monóxido de carbono e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça inalada pelo fumante - afinal, os gases passam pelo filtro do cigarro antes de chegar à boca. As substâncias tóxicas se depositam nos móveis e nas paredes e não existe nenhum sistema de ventilação capaz de evitar isso, conta Sabrina.
Ainda não existem pesquisas que conseguiram mensurar o tempo necessário para que as substâncias desapareçam completamente de um ambiente, pois depende muito de quantos cigarros foram fumados e do tamanho do estabelecimento ou cômodo.