Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
iA restrição do crescimento fetal, também chamada de restrição de crescimento intra-uterino (RCIU), é o termo usado para designar um feto que não atingiu seu potencial de crescimento devido a fatores genéticos ou ambientais. Pode ser causada por fatores fetais, placentários e/ou maternos, mas nem sempre conseguimos realizar tal identificação. Este termo não deve ser usado para descrever um feto constitucionalmente pequeno que seja saudável.
Fatores fetais
1. Genéticos - estudos revelaram que fatores genéticos influenciam entre 30 e 50% na variação do peso ao nascer. O restante se dá devido a fatores ambientais. Genes maternos influenciam o peso ao nascer mais do que os genes paternos, mas ambos têm sua participação.
Mulheres que dão à luz a um feto de crescimento restrito têm mais risco de que isso aconteça numa próxima gestação e o risco aumenta quanto maior o número de filhos com crescimento restrito ela tiver.
A presença de uma anormalidade cromossômica geralmente resulta em restrição do crescimento fetal já no início da gravidez.
Anormalidades cromossômicas associadas à restrição de crescimento intrauterino incluem a trissomia 18 ou 13, síndrome de Turner, entre outras.
2. Gestação múltipla - crescimento fetal em gestações múltiplas tem relação direta com o número de fetos presentes e se são ou não idênticos. O menor peso dos fetos de gestações múltiplas é devido à incapacidade do meio ambiente em atender as necessidades nutricionais dos fetos múltiplos, bem como complicações na gravidez mais comuns nas gestações múltiplas como, por exemplo, a desnutrição materna, pré-eclâmpsia e anomalias congênitas.
3. Infecção - infecções que se desenvolvem no início da gravidez têm maior efeito sobre o crescimento do bebê, mas representam menos de 5% de todos os casos de restrição do crescimento fetal (RCF). Vírus e parasitas como, por exemplo, a rubéola, a toxoplasmose, o citomegalovírus, a varicela-zoster, a malária, a sífilis e a herpes, podem ter acesso ao feto pela placenta ou através das membranas fetais intactas, prejudicando o crescimento fetal por uma variedade de mecanismos, desde morte celular até insuficiência vascular.
Fatores placentários
Muitos casos de RCF, particularmente recorrentes, são resultado de doença placentária isquêmica. Este termo refere-se a um processo de doença da placenta que, clinicamente, manifesta-se como pré-eclâmpsia, restrição do crescimento fetal, descolamento da placenta ou pela combinação desses distúrbios. Todos estes transtornos podem ser associados ao nascimento prematuro ou à perda fetal e representam manifestações tardias do desenvolvimento placentário anormal.
1. Lesões macroscópicas e histológicas - qualquer desencontro entre exigências fetais nutricionais ou respiratórias e fornecimento placentário pode resultar em comprometimento do crescimento fetal.
Fatores maternos
1. Redução do fluxo sanguíneo para o útero - pode ser diminuído pelo desenvolvimento defeituoso, pela obstrução, ou pelo rompimento dos vasos útero-placentários. Distúrbios médicos maternos como, por exemplo, hipertensão, insuficiência renal, diabetes, doença vascular do colágeno, lúpus eritematoso sistêmico e síndrome antifosfolípide; e complicações obstétricas, como pré-eclâmpsia, diminuem a entrega de sangue satisfatória para o combo útero-placentária e resultam em RCF.
2. Ingestão calórica diminuída - peso pré-gestacional e ganho de peso durante a gravidez são geralmente responsáveis por cerca de 10% da variação do peso fetal. Entretanto, a fome materna grave durante a gravidez pode ter grande impacto sobre o crescimento fetal.
A população holandesa, por exemplo, sofreu grande fome durante o inverno de 1944, fazendo a ingestão calórica materna cair para um valor entre 450 e 750 kcal por dia. Como resultado dessa privação, o peso de nascimento infantil médio durante este período diminuiu em 250 gramas. Da mesma forma, em Leninegrado durante a 2ª Guerra Mundial, os períodos de fome mais longos e mais profundos (abaixo de 300 kcal) fez o peso médio dos bebês cair em mais de 500 gramas.
Graus leves de deficiência nutricional também têm efeito sobre o peso ao nascer. Mulheres que estão abaixo do peso no início da gravidez ou que têm ganho de peso prejudicado durante a gravidez estão em maior risco de dar a luz a um bebê com peso inferior a 2.500 gramas.
Má absorção de nutrientes em gestantes com doença celíaca (intolerância ao glúten) também tem sido associada com restrição de crescimento intra-uterino.
3. Hipoxemia ? hipoxemia (menos oxigênio para os tecidos) crônica materna devido à doença pulmonar, doença cardíaca e anemia severa estão associadas ao crescimento fetal diminuído. Como exemplo, um estudo de 96 gestações de mulheres com cardiopatia congênita informou que o peso médio dos bebês ao nascer a termo foi de apenas 2.575 gramas, o que é significativamente menor do que o peso de nascimento médio, de 3.500 gramas, na população em geral.
Moradores de altitude elevada também sofrem de hipoxemia crônica e baixo peso ao nascer.
4. Doenças hematológicas e imunológicas - doenças hematológicas, como anemia falciforme, podem causar trombose da placenta. Doenças auto-imunes podem causar inflamação crônica da placenta e isso pode causar subnutrição fetal e hipóxia.
5. Uso de drogas e tabagismo - o tabagismo, o consumo de álcool e o uso de drogas ilícitas podem causar restrição do crescimento intrauterino, quer por um efeito tóxico direto ou indireto a partir de variáveis relacionadas, tais como alimentação inadequada.Fumar durante o terceiro trimestre parece ter maior impacto sobre o peso ao nascer. As mulheres que param de fumar no terceiro trimestre podem ter peso de nascimento semelhante aos dos não fumantes.
Numerosos estudos têm tentado determinar a relação entre a exposição de mulheres grávidas ao fumo do tabaco ambiental e do tabagismo passivo com o peso do bebê ao nascer. Resultados foram discordantes, embora a maioria mostre um aumento do risco de baixo peso em mulheres com fumo passivo. Estes estudos são limitados pela dificuldade na quantificação com precisão da exposição materna e ajuste para os múltiplos fatores que afetam o peso ao nascer.
6. Toxinas - substâncias tóxicas, incluindo vários medicamentos, tais como anticonvulsivantes e os antineoplásicos, podem produzir restrição do crescimento. Não está claro se a restrição de crescimento em mulheres hipertensas é apenas resultado da doença ou, em parte, um efeito colateral de medicamentos anti-hipertensivos.
O consumo de cafeína pode ter um pequeno efeito negativo sobre o crescimento fetal.
7. Tecnologias de reprodução assistida - gravidez concebida por meio de tecnologias de reprodução assistida aumentam o risco de baixo peso fetal.
8. Outros - restrição de crescimento é mais comum entre as grávidas nos extremos da vida reprodutiva, portanto adolescentes e mulheres acima dos 40 anos.
Estresse materno crônico pode também ser um fator e é uma área ativa de investigação. O estresse crônico está associado a altos níveis de hormônios que, por sua vez, podem estar associados com comprometimento do crescimento fetal e parto prematuro.
Em alguns casos, a razão para a restrição do crescimento fetal, muitas vezes grave, ainda ficam incertas. Mas um bom acompanhamento pré-natal pode fazer com que a mãe e o bebê possam chegar ao final da gestação saudáveis.
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