Transtorno Bipolar pode atingir a memória, fazendo com que ela se perca aos poucos? Respostas dos nossos especialistas

Bom diaO transtorno afeta muitas áreas do cérebro, podendo afetar a memória também.E útil fazer uma avaliação neuropsicológica

não.

A sua pergunta deixa entender que você compreende o transtorno bipolar como se fosse uma doença do cérebro. O fato que certos medicamentos agem no cérebro para mudar o comportamento pode levar à ideia que qualquer comportamento -- no caso o comportamento bipolar -- seria alguma coisa no cérebro. De um lado, isto é banal, pois onde queremos que esteja a contraparte física do pensamento e comportamento se não no cérebro? Do outro lado, o que acontece no cérebro não está só, mas é somente isto: a parte física da vida mental.

A sua pergunta, se a memória "se perde" deixa entender que você pensa que ela é uma matéria que pode aumentar e diminuir. Mas a memória não é só uma matéria. Ela é informação armazenada -- ninguém sabe exatamente como -- na matéria do cérebro. Quando a memória parece ficar fraca, isto não sempre significa que a matéria do cérebro diminui. O que diminui é o uso que dela faz a mente. (O contrário também existe: por exemplo no caso da demência a matéria cerebral realmente diminui ela mesma.)

Concluindo: A depressão (que faz parte do transtorno bipolar) explica perfeitamente que a pessoa vira as costas ao mundo, pelo menos temporáriamente, e isto pode incluir que ela faz menos uso da sua memória. Mesmo sem querer e, inicialmente, sem se dar conta. Ninguém vai esperar de uma pessoa deprimida que ela fale sem problema do passado, das coisas decoradas etc. Se existe um perfil do que ela parece ter escecido, este perfil pode até ser um guia para entender de onde, de qual experiência, vem a sua depressão.

Na hora que a depressão termina, a memória volta. Não temos nenhum conhecimento da matéria cerebral, quantitativamente falando, diminuir por causa de depressão ou bipolarismo. Estudos procuraram mostrar que a massa cerebral seria menor em pessoas esquizofrênicas, mas existem pessoas com massa cerebral menor que a média e que não tem esquizofrenia, e existem pessoas com esquizofrenia que tem a massa cerebral normal. Conclui-se que o tamanho do cérebro é, em limites, independente do estilo de comportamento da pessoa.

Pode-se especular ainda que a depressão diminui o uso do cérebro e que um cérebro menos usado diminui, como um músculo pouco usado fica menor. Mas ninguém pode dizer que a pessoa depressiva use o seu cerebro "menos." Pelo contrário, a depressão é um estado de excitação mental, expressamente contido por um comportamento externo freiado. Se a pessoa depressiva parece pouco usar certa memória, ela certamente usa bastante certas outras, tais como do que lhe faz medo e de coisas negativas).