Qual a probabilidade de ter um filho com TDAH quando o pai, o avô e um irmão da criança tem o problema? Respostas dos nossos especialistas

* Algumas características dos pais se associam ao risco de TDAH nos filhos e a principal é quando um dos pais tem o TDAH, o que pode dobrar as chances do filho ter o transtorno. Se ambos os pais têm o TDAH as chances aumentam para até oito vezes.
A importante contribuição de fatores genéticos no desenvolvimento do TDAH é mostrada por estudos epidemiológicos que revelam não só uma importante recorrência familiar como também uma herdabilidade bem alta (coeficiente de herdabilidade 0.86) no TDAH.

* O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, responsável por 30 a 50% dos encaminhamentos “dos pequenos” aos ambulatórios de Psiquiatria da Infância e Adolescência. Igualmente, responde por um alto percentual de encaminhamentos de adultos para avaliação em serviços especializados. O TDAH é um transtorno neurobiológico crônico, dimensional e de alta herdabilidade, com prevalência de 5 a 9% em crianças de idade escolar e de 4% em adultos. Os sintomas afetam todas as idades e ambos os sexos, têm início precoce e se não tratados corretamente costumam evoluir com prejuízos ao logo da vida (adulta) em mais de 60% dos casos, comprometendo a qualidade de vida em todos os setores, afetivo, conjugal, social, acadêmico e profissional.
Sem causa definida, a etiologia é multifatorial e o perfil bastante heterogêneo (pessoas com TDAH são diferentes entre si). Diante dessa diversidade, o TDAH é um problema de natureza complexa e está longe de ser entendido sob uma só ótica. Além de ser um transtorno do neurodesenvolvimento, tem bases neuroquímica, neurogenética, neurocomportamental e biopsicossocial.
Estudos genéticos evidenciam alta recorrência (agregação) familiar. Filhos de pais com TDAH têm duas a oito vezes mais chances de terem o transtorno, confirmando a importância do fator genético (herança poligênica). A influência significativa dos fatores genéticos e ambientais, em pessoas com predisposição genética, é amplamente aceita na atual literatura científica mundial.
A herdabilidade genética se dá por Herança Poligênica, onde vários genes de pequenos efeitos se somam e cada gene transmite certo grau de vulnerabilidade genética, podendo se somar aí outros fatores. Assim, a etiologia do TDAH depende dos genes de suscetibilidade, do tamanho de efeito de cada um, da interação dos mesmos entre si e com outros fatores de risco. A investigação detalhada da história familiar revela predisposição genética, esta última a condição herdada, cuja expressão fenotípica irá variar conforme a intensidade das cargas genética, ambiental e de outros possíveis fatores de risco.
Estudos mostram associação positiva entre fatores ambientais, adversidades psicossociais e o surgimento do TDAH. Outros evidenciam associação de outros fatores de risco (problemas pré/pós-natal, no parto, na mãe e ou na criança) e TDAH. Vários dados são obtidos a partir de estudos com gêmeos e adotados, exibindo prevalência três vezes maior de TDAH em pais biológicos de pacientes acometidos em relação aos pais adotivos. Estudos com gêmeos monozigóticos revelam índices bem maiores de concordância em relação aos dizigóticos, ratificando a alta herdabilidade estimada do transtorno. Os fatores de risco ambientais não são preditores e nem específicos. Os principais são:
- Adversidades psicossociais - discórdia marital severa, família numerosa, dinâmicas familiares caóticas e conflituosas, baixa renda familiar, pobreza, psicopatologia parental, colocação em lar adotivo, baixo nível de educação materna, filhos de pais solteiros, abuso sexual, etc.
- Gestação de risco e complicações no parto ou peri/pósnatais – eclampsia, injúria/estresse fetal, baixo peso ao nascer, prematuridade, parto prolongado, circular de cordão, etc.
- uso de cigarros, álcool e drogas na gravidez.
Importante ressaltar que se por um lado sabemos que partos de risco parecem estar mais frequentemente associados ao TDAH, por outro sabemos que mulheres com TDAH tendem a ser mais impulsivas e consequentemente, a se descuidarem mais, e assim, a terem mais problemas no parto, situações que falam a favor de fatores hereditários. Pelo exposto acima, o TDAH não pode ser puramente considerado um comportamento mais exuberante de algumas crianças, já que acarreta comprometimento funcional significativo em várias áreas. Tampouco pode ser entendido como decorrente de má educação dos pais ou de pais ausentes ou que não dão limites/ “palmadas”, uma vez que sua prevalência é igual em todo o mundo, independentemente de cultura ou área geográfica.
Como já descrito acima, os sintomas manifestados são fortemente determinados, na grande maioria, por razões genéticas, fatores externos e vulnerabilidade neurobiológica.
* Espero ter respondido a sua dúvida e para mais perguntas, me coloco à disposição.

Referências:
-American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4th ed. Washington (DC): American Psychiatric Association; 1994.
-Rev Bras Psiquiatr 2002;24(4):196-201
-Todd RD. Genetics of attention-deficit/hyperactivity disorder: are we ready for molecular genetic studies? Am J Med Genet (Neuropsychiatr Genet) 2000;96:241-3.