Médica Infectologista graduada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com residência médica pela Universidade...
iRedator de saúde e bem-estar, entusiasta de pautas sobre comportamento e colaborador na editoria de fitness.
O que é AIDS?
A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) caracterizada pelo enfraquecimento do sistema imunológico, aumentando o risco do surgimento de outras doenças oportunistas. Entre os sintomas mais comuns estão febre, fraqueza e diarreia prolongada.
Diferença entre HIV e AIDS
A diferença entre HIV e AIDS é que o HIV, sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana (human immunodeficiency virus), é o causador da AIDS. A doença, no entanto, se trata do estágio mais avançado da infecção por HIV.
O HIV é uma infecção sexualmente transmissível (IST), que também pode ser contraída pelo contato com o sangue infectado e de forma vertical, ou seja, a mulher que é portadora do vírus HIV o transmite para o filho durante gravidez, parto ou amamentação.
Causas
Cientistas acreditam que um vírus similar ao HIV ocorreu pela primeira vez em algumas populações de chimpanzés e macacos na África, onde eram caçados para servirem como alimento. O contato com o sangue do animal infectado pode ter permitido ao vírus entrar em contato com os seres humanos e se tornar o HIV.
Transmissão da AIDS
O virus da AIDS é transmitido principalmente por relações sexuais (vaginais, anais ou orais) desprotegidas, isto é, sem o uso do preservativo; e compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas com sangue, o que é frequente entre usuários de drogas ilícitas - que também podem contrair mais doenças, como hepatites.
Outra via de transmissão é por transfusão de sangue, porém, é muito rara, uma vez que a testagem do banco de sangue é eficiente. Também existe a transmissão vertical, que é a transmissão do vírus da mãe para o filho na gestação, na amamentação e, principalmente, no momento do parto, o que pode ser prevenido com o tratamento adequado da gestante e do recém-nascido.
A infecção pelo HIV evolui para AIDS quando a pessoa não é tratada e sua imunidade vai diminuindo ao longo do tempo, pois, mesmo sem sintomas, o HIV continua se multiplicando e atacando as células de defesa, principalmente os linfócitos TCD4+.
Por definição, a pessoas que têm AIDS apresentam uma contagem de linfócitos TCD4+ menor que 200 células/mm3 ou têm doença definidora de AIDS, como neurotoxoplasmose, pneumocistose, tuberculose extrapulmonar etc. O tratamento antirretroviral visa impedir a progressão da doença para a AIDS.
Saiba mais: Crianças com HIV: como é o tratamento e cuidados na infância
Sintomas
Sintomas da AIDS
Os primeiros sintomas da AIDS incluem:
- Fraqueza
- Febre
- Emagrecimento
- Diarreia prolongada sem causa aparente
Nas crianças que nascem infectadas, os efeitos mais comuns são:
- Problemas nos pulmões
- Diarreia
- Dificuldades no desenvolvimento
Sintomas da AIDS na fase inicial
- Candidíase oral
- Sensação constante de cansaço
- aparecimento de gânglios nas axilas, virilhas e pescoço
- Diarreia
- Febre
- Fraqueza orgânica
- Transpirações noturnas
- Perda de peso superior a 10%
Sintomas da AIDS na Infecção aguda
- Febre
- Afecções dos gânglios linfáticos
- Faringite
- Dores musculares e nas articulações
- Ínguas e manchas na pele que desaparecem após alguns dias
- Feridas na área da boca, esôfago e órgãos genitais
- Falta de apetite
- Estado de prostração
- Dor de cabeça
- Sensibilidade à luz
- Perda de peso
- Náuseas e vômitos
Os sintomas que pessoas com AIDS podem apresentar incluem:
- Emagrecimento não intencional
- Fadiga
- Aumento dos linfonodos, ou ínguas
- Sudorese noturna
- Calafrios
- Febre superior a 38ºC durante várias semanas
- Diarreia crônica
- Manchas brancas ou lesões incomuns na língua ou boca
- Dor de cabeça
- Fadiga persistente e inexplicável
- Visão turva e/ou distorcida
- Erupções cutâneas e/ou inchaços
Estes sintomas podem ser agravados sem o tratamento adequado, além de que, o paciente vivendo com HIV/AIDS pode apresentar outros sinais mais graves dependendo da doença oportunista que desenvolver.
Quanto tempo demora para os sintomas da AIDS se manifestarem?
Uma pessoa pode estar infectada pelo HIV, sendo soropositiva, e não necessariamente apresentar comprometimento do sistema imune com depleção dos linfócitos T, podendo viver por anos sem manifestar sintomas ou desenvolver a AIDS.
Existe também o período chamado de janela imunológica, que é o período entre o contágio e o início de produção dos anticorpos pelo organismo. Nesse período, não há detecção de positividade nos testes, pois ainda não há anticorpos, e pode variar de 30 a 60 dias. Embora nesse período a pessoa não seja identificada como portadora do HIV, ela já é transmissora.
Saiba mais: Conheça os sintomas de HIV em cada fase da doença
Diagnóstico
Diagnóstico de AIDS
Para o diagnóstico de AIDS, o médico analisará a condição de saúde geral do paciente, a evolução do HIV, a resposta aos tratamentos e a presença de doenças oportunistas. Existem vários testes para determinar em que estágio a doença está, dentre eles:
- Contagem de CD4: as células CD4 são um tipo de glóbulo branco que é especificamente destruído pelo HIV. A contagem de células CD4 em uma pessoa sem HIV pode variar de 500 a mais de 1.000. A infecção pelo HIV costuma diminuir a contagem de CD4. Quanto menor for o CD4, pior o comprometimento do sistema imunológico. Contagens abaixo de 200 células/mm3 mostram que o paciente tem risco de apresentar infecções oportunistas
- Carga viral: o teste mede a quantidade de vírus no sangue e quanto maior a carga viral, mais o sistema imunológico pode ser agredido
O especialista também pode solicitar testes para outras infecções ou complicações relacionadas ao HIV/AIDS, como tuberculose, sífilis, hepatite e outras infecções sexualmente transmissíveis.
Teste de AIDS
Os principais testes de AIDS incluem:
- Testes convencionais: é feita a coleta com uma amostra do sangue do paciente e busca por anticorpos contra o vírus. Se a amostra não apresentar nenhuma célula de defesa específica para o HIV, o resultado é negativo e, então, oferecido ao paciente. Porém, caso seja detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de um teste adicional, o chamado teste confirmatório, para que se tenha certeza absoluta do diagnóstico. Nele, os profissionais buscam por fragmentos de HIV na corrente sanguínea do paciente
- Teste rápido: o resultado sai no mesmo dia, cerca de trinta minutos até duas horas após a realização do exame. Pode ser feito com sangue (inclusive na ponta do dedo) e na saliva. Isso permite com que o paciente fique sabendo do resultado no momento da consulta médica. O teste é feito após o aconselhamento pré-teste
- Fluído oral: é necessário retirar uma amostra do fluido presente na boca, principalmente das gengivas e da mucosa da bochecha, com o auxílio de uma haste coletora. O resultado sai em 30 minutos e pode ser realizado em qualquer lugar, dispensando estruturas laboratoriais. No entanto, o teste de fluido oral serve apenas como triagem para o paciente
- Western Blot: é um exame que detecta diferentes tipos de anticorpo contra o HIV 1 e 2 e pode ser útil no caso de resultados discrepantes nos exames acima
- PCR ou carga viral para HIV: via de regra, este exame é solicitado quando um dos exames acima é positivo. Ele detecta e quantifica o vírus HIV no sangue e é importante para monitorar o tratamento
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar AIDS são:
- Clínico geral
- Infectologista
Caso a pessoa já tenha sido diagnosticada como portadora do HIV, o médico analisará a evolução da doença, a resposta do organismo ao tratamento, os exames do paciente, a sua condição geral de saúde e quais doenças oportunistas ele contraiu neste período de tempo.
É importante levar suas dúvidas para o consultório por escrito, começando pela mais importante. Isso garante que você conseguirá respostas para todas as perguntas relevantes antes da consulta acabar.
Buscando ajuda médica
Nem todas as pessoas infectadas pelo HIV apresentam sintomas. Por isso, a testagem para HIV é recomendada para todas as pessoas, especialmente aquelas com vida sexual ativa. Os centros de testagem do SUS (CTA, Centro de Testagem e Acolhimento) realizam não só o teste rápido para HIV (em sangue ou saliva) bem como exames para hepatites B, hepatite C e sífilis.
Tratamento
Normalmente, o tratamento é feito com a combinação de pelo menos três drogas. Com o objetivo de uniformizar o tratamento, já é possível encontrar um único comprimido que combina a ação dos três remédios. No caso de contraindicação, efeitos adversos ou resistência, existem opções de outros antirretrovirais, que deverão ser individualizados para cada paciente.
O importante é que, uma vez iniciado o tratamento, o paciente deve estar ciente de que ele não deve ser interrompido sem motivo, já que se utilizado de maneira irregular, o tratamento pode falhar por surgimento de vírus resistentes. Outras medicações são utilizadas para prevenção de algumas doenças oportunistas, que em geral são suspensas com a melhora da imunidade do paciente.
- Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa: classe de medicamentos que atua sobre a enzima transcriptase reversa, tornando conversão do RNA em uma cadeia de DNA viral defeituosa, impedindo a inclusão desta no DNA das células de defesa do organismo hospedeiro. Essa ação impede que o vírus se reproduza. Os medicamentos incluem Abacavir, Lamivudina, Tenofovir, Zidovudina e Truvada.
- Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa: classe de medicamentos que também atua sobre a enzima transcriptase reversa, bloqueando diretamente sua ação, impedindo a multiplicação do vírus. Os medicamentos incluem Efavirenz, Nevirapina e Etravirina.
- Inibidores de protease: medicamentos que atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e impedindo a produção de novas cópias do vírus HIV. Estão inclusos nesta classe Atazanavir, Darunavir e Ritonavir.
- Inibidores de fusão: medicamentos que impedem a entrada do vírus do HIV nas células de defesa do organismo hospedeiro via proteína CD4, impedindo o ciclo reprodutivo do vírus. Os medicamentos incluem o Enfuvirtida (T20).
- Inibidores da integrase: medicamentos que bloqueiam a atividade da enzima integrase, responsável pela inserção do DNA do vírus HIV (após ação da transcriptase reversa que converte RNA do vírus em DNA) ao DNA humano. Isto permite a inibição da replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células. Dolutegravir e Raltegravir são alguns dos medicamentos incluídos nessa categoria.
Tem cura?
A AIDS não tem cura. Porém, apesar de ainda não se ter descoberto a cura para a infecção, este cenário é diferente nos dias atuais. Com a evolução dos medicamentos antirretrovirais os soropositivos, os pacientes possuem uma sobrevida maior. No entanto, é fundamental que o tratamento e as orientações médicas sejam seguidos corretamente. Caso contrário, o vírus pode se tornar mais resistente, dificultando o tratamento e a saúde.
Prevenção
Como prevenir a AIDS?
A forma mais efetiva de prevenir a AIDS é se proteger da infecção pelo vírus HIV. Algumas medidas podem ajudar a evitar situações de risco, como:
- Faça sexo (vaginal, anal ou oral) sempre com proteção
- Não compartilhe agulhas e seringas
- Não reutilize objetos perfurocortantes no geral
- No caso de violência sexual, comunique as autoridades o quanto antes e vá a um hospital, de preferência especializado, para que eles possam ministrar os remédios de profilaxia de infecção pelo HIV ou outras infecções sexualmente transmissíveis (IST)
As chances de não se desenvolver essas doenças quando a profilaxia é feita poucas horas após o ato é muito maior. Se você descobriu que tem o vírus, comunique o seu parceiro ou pessoas com as quais teve relações sexuais.
Convivendo (Prognóstico)
Pacientes com diagnóstico de AIDS podem adotar alguns hábitos mais saudáveis para obterem mais qualidade de vida, como:
- Ter uma alimentação saudável: Frutas e vegetais frescos, grãos e proteínas, em uma dieta equilibrada, ajudam a manter o paciente forte, a liberar mais energia e a dar suporte ao sistema imunológico. Cozinhe a carne até que ela fique bem passada ou até que não haja nenhum traço cor de rosa. Evite produtos lácteos não pasteurizados, ovos crus e frutos do mar crus, como ostras e peixes
- Manter o esquema vacinal atualizado: a imunização pode prevenir infecções como pneumonia, hepatite B, hepatite A, HPV, meningite, febre amarela, sarampo, tétano, gripe, entre outros. Converse com seu médico, que saberá dizer quando e qual vacina está recomendada para você
- Ter cautela no contato com animais de estimação: alguns animais podem carregar parasitas que causam infecções em pessoas soropositivas ou com o sistema imunológico enfraquecido. As fezes do gato, por exemplo, podem causar toxoplasmose, répteis podem carregar salmonella e os pássaros certos tipos de fungo. O ideal é conversar com o seu médico para saber se esta é a melhor hora de manter um bichinho em casa e sob quais condições
- Não fumar: pacientes soropositivos têm o sistema imunológico enfraquecido e estão mais suscetíveis a diversas doenças, inclusive comorbidades relacionadas aos pulmões. Então, se ainda fuma, busque parar de fumar o quanto antes
- AIDS na gestação: durante toda a gestação, a mulher soropositiva deve ser medicada, pois isso reduz drasticamente o risco de transmissão para o bebê. Além disso, durante o parto, a mãe deve receber medicação endovenosa contra o HIV. Os bebês devem receber medicamento contra HIV no início da vida e NÃO devem receber leite materno – todas estas estratégias combinadas diminuem muito o risco do bebê ser infectado pelo HIV
- AIDS na terceira idade: os pacientes idosos com HIV enfrentam os mesmos problemas relacionados ao envelhecimento que as outras pessoas. No entanto, a infecção pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares
Saiba mais: Idosos e HIV: viver mais (e bem) com o vírus já é realidade
Complicações possíveis
Quando o sistema imunológico está muito enfraquecido pelo HIV, outras infecções e doenças podem se desenvolver, as chamadas infecções oportunistas. Dentre as infecções, é possível destacar:
- Tuberculose
- Salmonella
- Citomegalovírus
- Candidíase
- Meningite criptocócica
- Toxoplasmose
- Criptosporidiose
- Câncer, como o Sarcoma de Kaposi e linfomas
- Síndrome de Wasting (ou definhamento)
- Complicações neurológicas, como esquecimento e ansiedade
- Doenças renais
- Lipodistrofia
- Doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC
Referências
Revisado por: Sumire Sabake, médica infectologista, CRM 94070
Karina T. Miyaji, médica infectologista do Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) – CRM: 108285/SP.
Graziella Hanna, médica infectologista do Hospital Santa Cruz de São Paulo – CRM: 51071/SP.
Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais
Clínica Mayo – organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que reúne conteúdos sobre doenças, sintomas, exames médicos, medicamentos, entre outros.
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).