Médico especialista em Imunologia e alergologia. Diretor Superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Alb...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Anafilaxia?
Anafilaxia é uma reação alérgica aguda e muitas vezes grave, que começa subitamente, entre menos de um minuto e até algumas poucas horas após a exposição a um alérgeno ao qual a pessoa desenvolveu um tipo de hipersensibilidade. Se não houver socorro rápido, o desfecho pode ser fatal.
Quando o corpo é exposto a substâncias que ele considera perigosas, o sistema imunológico é ativado para produzir anticorpos e outros elementos para proteger o organismo deste “ataque”, isso é normal.
Algumas pessoas têm uma reação exagerada a substâncias que são inofensivas, produzindo sintomas de alergia, é o caso, por exemplo, de quem tem alergia ao calor. Em geral, estes sintomas são incômodos, mas não causam perigo de morte.
Contudo, algumas pessoas podem desenvolver uma hipersensibilidade e ter reações alérgicas mais severas a estas substâncias inofensivas, que geram sintomas como inchaço de partes moles do corpo (como boca e glote) e falta de ar. E aí é um caso de anafilaxia.
Saiba mais: Como a alergia surge no corpo
Anafilaxia e choque anafilático
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria e outras associações médicas brasileiras, o termo anafilaxia é geral e deve ser utilizado tanto para descrever casos em que esta reação é mais leve, quanto em situações mais graves, acompanhadas de choque, o chamado choque anafilático.
Choque, de maneira geral, é uma situação em que existe colapso cardiovascular, ou seja, uma incapacidade do organismo de levar sangue aos órgãos que têm papel vital. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando há hemorragia com perda de grande volume de sangue (choque hipovolêmico), pelos efeitos de uma infecção (choque séptico) e por uma reação alérgica - o choque anafilático -, que coloca em risco a vida do indivíduo e pede cuidados intensivos.
Causas
Várias substâncias podem ser causas de anafilaxia, sendo as mais comuns:
- Medicações, especialmente penicilina, analgésicos, anti-inflamatórios não-hormonais e antibióticos
- Alimentos, como amendoim e outras oleaginosas, trigo (principalmente em crianças), peixes, crustáceos, ovos e leite
- Picadas e ferroadas de insetos como abelhas, marimbondos, vespas ou formigas-de- fogo, entre outros
Além disso, outros desencadeantes de reações anafiláticas podem ser o látex (substância contida em equipamentos médicos, balões e preservativos sexuais) e estímulos físicos, como exercício ou frio.
Sinais
Os sinais e sintomas da anafilaxia incluem:
- Urticária: coceira na pele
- Angioedema: inchaço de partes moles como lábios, olhos e língua
- Tosse e rouquidão (que podem preceder a obstrução da via aérea)
- Edema de glote (estrutura localizada na garganta) que pode dificultar a passagem de ar
- Dificuldade para respirar, causada pelo estreitamento das vias aéreas que o inchaço provoca
- Dificuldade em engolir
- Cólicas abdominais
- Náuseas
- Vômito
- Diarreia
- Aumento da frequência cardíaca
- Fraqueza súbita
- Queda da pressão arterial
- Dor de cabeça
- Ansiedade
- Confusão.
Em casos mais graves ocorre o choque anafilático, que pode causar queda brusca da pressão arterial, bloqueio total da passagem de ar e pulsação fraca à palpação. A condição pode levar ao coma.
Diagnóstico
O diagnóstico da anafilaxia é feito com base nos sinais e sintomas descritos acima e também no histórico de exposição a possíveis alérgenos. O médico documentará ainda qual a via de administração da substância que causou o quadro, a dose, a sequência e tempo de início dos sintomas e tratamentos utilizados anteriormente. No momento da consulta, afastado qualquer risco maior, o médico poderá fazer exames, como a dosagem de triptase plasmática, para confirmar o diagnóstico.
Poderão ser feitos ainda:
- Testes de alergia, como o prick test e o patch test
- Dosagens sanguíneas de uma classe de anticorpos (IgE) específicos para alérgenos suspeitos
- Dosagem de duas moléculas no sangue, histamina e triptase
Fatores de risco
Os fatores de risco que podem aumentar a gravidade da anafilaxia são:
- Infusão intravenosa do alérgeno (caso, por exemplo, de um medicamento)
- Idade avançada
- Presença de doença cardíaca
- Asma associada
Tratamento
O principal tratamento para a anafilaxia é o uso da epinefrina (adrenalina) para contenção da crise. Esse hormônio atua aumentando a resistência dos vasos sanguíneos periféricos, a pressão arterial e a perfusão das artérias coronarianas que são responsáveis por irrigar de sangue o músculo cardíaco e também podem se estreitar em resposta à crise. Ele também reduz o inchaço e a urticária. Dessa forma, a circulação sanguínea, principalmente para órgãos com papel vital, é restaurada e o inchaço da glote, que pode fechar as vias aéreas, é aliviado.
No momento do ataque, também pode ser usado oxigênio para compensar o déficit de oxigenação causado pela obstrução das vias aéreas, anti-histamínicos e corticoides intravenosos, que reduzem a inflamação, hidratação para manter a adequada quantidade de sangue e β2-Agonistas, que revertem o broncoespasmo.
Em casos mais graves, podem ser indicados intubação orotraqueal, uso de ventilação mecânica e administração contínua de drogas vasoativas, que ajudarão a restaurar a circulação sanguínea.
Depois da crise, em geral, algumas medicações podem ser mantidas para caso haja recorrência dos sintomas. É o caso dos corticoides e anti-histamínicos. O tratamento também visará determinar qual substância desencadeou a alergia e tomar medidas para evitar o contato com ela, principalmente se for um alimento ou algum tipo de medicamento.
Além disso, é importante que o paciente que já teve uma anafilaxia ande com o medicamento específico para seu problema consigo, no caso, uma injeção ou caneta de epinefrina.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de anafilaxia são:
- Decadron, que é um corticoide
- Epinefrina (adrenalina)
- Anti-histamínicos (antialérgicos)
- β2-Agonistas.
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Primeiros socorros
Anafilaxia é uma situação de extrema emergência e que pode se desenvolver muito rapidamente. Por isso, é importante buscar ajuda médica imediatamente assim que a pessoa apresentar sintomas, principalmente o edema de glote, caracterizado como fechamento da garganta.
Se você está com alguém que está sofrendo uma anafilaxia, o primeiro passo é ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no número 192.
Enquanto a ajuda não chega, coloque a pessoa em uma posição confortável, eleve suas pernas e administre um medicamento para as crises, caso a pessoa o tenha disponível. Em geral, são usados anti-histaminicos (antialérgicos) ou injeção de epinefrina (adrenalina). Não se esqueça de relatar ao médico da emergência que medidas você tomou quando ele chegar ao local.
Prevenção
A anafilaxia só pode ser prevenida se o paciente sabe que tem a alergia e qual é o alérgeno que a causa.
Quando o alérgeno é um alimento, além de evitá-lo diretamente, o paciente precisa saber de que formas ele pode ser descrito entre os ingredientes de um produto, já que um produto pode ter mais de um nome. Além disso, é importante sempre ler atentamente os rótulos de tudo que for comprar.
Em casos de medicamentos, é importante entender a substância que causa e todos os medicamentos que podem contê-la. Além disso, o paciente deve alertar qualquer médico que o atender sobre esses impedimentos.
Em caso de crianças, é importante sempre avisar pessoas próximas ao seu filho, como parentes, professores e diretores, pais de amigos da escola, entre outros cuidadores, para que elas não coloquem as crianças em contato com alérgenos em potencial.
Já os adultos devem saber quais são os sintomas iniciais da anafilaxia para ficarem atentos e injetarem em si mesmos a injeção de epinefrina antes que a situação se agrave.
Referências
Anafilaxia: atualização 2021. Documento elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22970c-GPA-Anafilaxia_-_Atualizacao_2021.pdf
Anafilaxia Brasil: livro elaborado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível em: https://anafilaxiabrasil.com.br/anafilaxia-saiba-mais
Diretrizes de Diagnóstico da Anafilaxia – Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia e Sociedade Brasileira de Anestesiologia (2011)