Médico formado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com especialização em Urologia pela UNESP. É pós-graduad...
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O que é Câncer de rim?
O câncer de rim representa 3% das doenças malignas que acometem adultos em todo o mundo e é o segundo câncer mais frequente do sistema urinário, ficando atrás apenas do câncer de bexiga. O tipo mais comum deste câncer é o carcinoma de células renais, que representa aproximadamente 90% dos casos¹. Entre os sintomas mais frequentes estão sangue na urina, dor abdominal e perda de apetite.
O rim também pode ser alvo de metástases de outros tipos de câncer que se originam em órgãos mais distantes, como a mama, a pele, a bexiga e os próprios ductos que transportam a urina até a bexiga, por exemplo².
O câncer de rim é o 14º câncer mais comum do mundo. Não à toa que, em 2020, houve mais de 430 mil novos casos e cerca de 179 mil óbitos. Os homens são os mais atingidos, correspondendo desse total a, aproximadamente, 270 mil casos e 115 mil mortes³.
Além disso, o número de novos casos de câncer de rim estão aumentando no mundo inteiro nas últimas décadas. Uma possível razão para isso pode ser o maior acesso a exames de imagem, como tomografia computadorizada, ultrassom e ressonância magnética, que levam à identificação da doença em um estágio precoce e sem sintomas⁴.
O câncer no rim também pode ser chamado de câncer renal, hipernefroma e adenocarcinoma de células renais.
Causas
O câncer de rim não possui uma causa exata⁵. Ele surge assim como todos os outros tipos de câncer. “São células normais do corpo humano que, por algum defeito de replicação, sofrem uma falha no DNA e se tornam autônomas, se desenvolvendo e fazendo cópias, dando origem ao tumor”, explica o urologista Danilo Galante Moreno.
Uma linha de investigação que vem ganhando muita aceitação na comunidade científica é a associação do câncer de rim com a síndrome plurimetabólica. Nessa condição, o organismo como um todo sofre os efeitos crônicos de sedentarismo, obesidade, estresse, sono de baixa qualidade e alimentação pobre em antioxidantes e rica em carne animal⁶𑁦⁷.
Esse quadro mantém níveis cronicamente elevados de cortisol, que é um potente inibidor do sistema de imunidade do corpo, o que favorece a multiplicação descontrolada das células cancerígenas⁶𑁦⁷.
Tipos
Existem cinco tipos diferentes de câncer de rim. São eles:
- Carcinoma de Células Renais Claras: é o mais tradicional, originado no tubo responsável por filtrar as impurezas do sangue;
- Carcinoma Papilar de Células Renais: pequeno e pouco palpável, pode bloquear a urina e vias urinárias, além de causar dor;
- Carcinoma Cromófobo de Células Renais: não pode ser visto em exames incolores e reage apenas a corantes azul-escuro ou roxo. Ele é menos agressivo em relação aos outros;
- Ductos Coletores: tipo raro e agressivo, se origina em uma das estruturas do rim, chamado tubo de Bellini;
- Sarcomatoides: também é raro e agressivo, com características semelhantes às de carcinoma renal de células claras.
Sintomas
O câncer de rim raramente causa sintomas em seus estágios iniciais. Nos estágios mais avançados, no entanto, alguns sinais são muitos comuns, como⁵:
- Presença de sangue na urina, dando a ela uma coloração anormal e avermelhada;
- Tossir sangue;
- Dor nas costas persistente, concentrada principalmente na região lombar ou lateral, logo abaixo das costelas;
- Dor abdominal;
- Dor nos ossos;
- Perda de apetite e de peso;
- Hipertensão;
- Sudorese noturna;
- Fadiga;
- Febre intermitente;
- Inchaço das veias dos testículos (varicocele).
Alguns desses sintomas, como tosse com sangue e dor nos ossos, só se manifestam após o câncer se espalhar para outras partes do corpo, como os ossos ou pulmões⁵.
Diagnóstico
O diagnóstico de câncer de rim é, na maioria das vezes, incidental⁵. “[Isso ocorre] em até 90% dos pacientes. Ou seja, pacientes que fizeram ultrassom ginecológico de rotina, tomografia para investigar outras condições ou ultrassom de abdômen para ver a vesícula e acabam descobrindo sem querer um tumor de rim”, conta Moreno.
Embora não exista um exame de sangue ou mesmo de urina que possa detectar o câncer de rim, um conjunto de exames podem ser aplicados para a detecção da doença⁵, incluindo:
- Cistoscopia;
- Exames de imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética;
- Biópsia, com a remoção de uma amostra de tecido do rim, que é enviada e testada em laboratório.
Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de cura. O diagnóstico precoce permite que o médico possa identificar o tumor ainda em estágios iniciais, localizado apenas dentro dos rins. Quando o câncer está concentrado em um lugar, é mais fácil de tratar do que quando ele se espalha para outras partes do corpo⁸.
O câncer de rim pode ser diagnosticado em quatro estágios diferentes, que variam conforme a extensão e malignidade do tumor. Veja⁹:
- Estágio 1: o tumor pode ter cerca de 7 cm de diâmetro e está confinado ao rim;
- Estágio 2: o câncer é maior, mas ainda está confinado ao rim;
- Estágio 3: o tumor aumenta de tamanho e se expande para além do rim e atinge o tecido que circunda o órgão, podendo se propagar até um nódulo linfático próximo;
- Estágio 4: Nesta fase final do câncer de rim, o tumor se espalha para múltiplos nódulos linfáticos ou, ainda, para partes distantes do corpo, como os ossos, fígado e pulmões – podendo causar metástase.
Fatores de risco
“Esse tumor é mais comum a partir dos 60 anos. Os homens têm o dobro de chances em relação às mulheres. E a incidência sobe em fumantes”, pontua o urologista Danilo Galante. Em resumo, os principais fatores de risco do câncer de rim são⁵:
- Idade avançada;
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Hipertensão (pressão alta);
- Histórico familiar;
- Condições genéticas hereditárias;
- Diálise de longa duração, usada para tratar insuficiência renal.
Exames
Embora não exista um exame de sangue ou de urina que aponte o câncer de rim, um conjunto de exames pode ser aplicado, como:
-
Exames de imagem, como tomografia computadorizada, ultrassom e ressonância magnética;
- Biópsia, com a remoção de uma amostra de tecido do rim, que é enviada e testada em laboratório.
Buscando ajuda médica
Os especialistas que podem diagnosticar um câncer de rim são:
- Cirurgião;
- Clínico geral;
- Nefrologista;
- Oncologista;
- Hematologista.
Tratamento
Cirurgia de câncer de rim
A cirurgia é o único tratamento definitivo para o câncer de rim. “Quando o tumor é muito grande, retiramos o rim inteiro. Mas, ultimamente, a maioria das cirurgias já são a nefrectomia parcial, quando é retirado apenas o tumor”, explica o urologista Danilo Galante Moreno.
Em casos onde, no momento da operação, o urologista identifica que o câncer do rim comprometeu o sistema linfático ao redor do órgão, a remoção em conjunto é recomendada. A este procedimento, damos o nome de esvaziamento de linfonodos ou linfadenectomia¹⁰.
Também pode ser utilizada a cirurgia robótica para o tratamento do câncer de rim. A plataforma permite ao cirurgião um maior controle dos instrumentos de precisão, e ainda favorece a reconstrução de tecidos com menor trauma. Para este tipo de intervenção, as chances de morte são bem menores e o tempo de internação reduz consideravelmente¹¹𑁦¹².
Casos avançados de câncer de rim
“A quimioterapia é reservada só para casos graves, com metástase. Ou seja, tumores que já passaram do momento de cura”, reforça o urologista.
Para esses casos, também pode ser recomendado o tratamento sistêmico com imunoterapia ou uso de drogas inibidoras da angiogênese. Esses medicamentos, associados ou não ao tratamento cirúrgico (dependendo muito do caso do paciente) podem levar ao controle e à regressão da doença¹³𑁦¹⁴.
Tem cura?
A principal chance de remissão do câncer de rim é através da cirurgia - há chances de cura em 40% a 60% dos casos -, principalmente quando feita no início do quadro⁸.
Prevenção
De acordo com o urologista Danilo Galante Moreno, não existe uma forma de prevenção específica para o câncer de rim. “Mas ter hábitos de vida saudáveis, como fazer exercício físico e evitar fumar, com certeza é a melhor forma de evitar a doença”, afirma o especialista.
Referências
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2 - Sociedade Brasileira de Urologia. Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/cancer-renal-diagnostico-e-estadiamento.pdf. Acesso em 06 de setembro de 2022.
3 - World Cancer Research Fund International. Kidney cancer statistics. Disponível em: https://www.wcrf.org/cancer-trends/kidney-cancer-statistics/. Acesso em 06 de setembro de 2022.
4 - Vendrami CL, Villavicencio CP, DeJulio TJ et al. Differentiation of Solid Renal Tumors with Multiparametric MR Imaging. RadioGraphics, 2017. Disponível em: https://pubs.rsna.org/doi/10.1148/rg.2017170039. Acesso em 06 de setembro de 2022.
5 - National Health Service, UK. Kidney cancer. Disponível em: https://www.nhs.uk/conditions/kidney-cancer/. Acesso em 06 de setembro de 2022.
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8 - Lewis G, Maxwell AP. Early diagnosis improves survival in kidney cancer. Practitioner. 2012 Feb;256(1748):13-6, 2. PMID: 22497103.
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