Médica responsável pela área de Endocrinologia Pediátrica do IOEP. Atua hoje também no Centro de Diabetes de Curitiba (C...
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O que é Desidratação?
A desidratação é uma condição grave caracterizada pela deficiência de água no corpo, o que dificulta o organismo realizar funções básicas. Diversos fatores podem causar quadros de desidratação, como vômito, diarreia, diuréticos e insuficiência renal. O paciente sente sede e, conforme o quadro piora, pode apresentar sintomas como sonolência extrema, pouca ou nenhuma micção e irritabilidade.
Causas
A desidratação pode ser causada por muitos fatores, como:
- Febre
- Sudorese, normalmente relacionado ao calor intenso ou ao esforço físico
- Vômito, diarreia e aumento da frequência urinária devido à infecção
- Urinar em excesso, sintoma normalmente relacionado com o diabetes
- Incapacidade de ingerir comida e água apropriadamente, como no caso de pessoas com deficiência
- Capacidade diminuída para ingerir líquidos (por exemplo, alguém em coma ou em um respirador)
- Falta de acesso à água potável
- Lesões significativas na pele, como queimaduras ou feridas na boca, e doenças de pele graves ou infecções (a água é perdida através da pele danificada).
Tipos
A desidratação pode ser dividida em três tipos, sendo eles:
- Isotônica: esse tipo de desidratação é decorrente da perda de volume sanguíneo (após um quadro de diarreia, por exemplo). O termo “isotônica” significa que há perda de água e de sais minerais na mesma proporção
- Hipertônica: é a desidratação que cursa com perda de água e aumento do sódio no sangue. Esse tipo de desidratação é geralmente secundário a alguns problemas de saúde, como o diabetes insipidus ou a doenças mais graves, como queimaduras extensas ou febres prolongadas
- Hipotônica: está relacionada à perda de sal e à consequente diminuição do sódio no sangue. Esse quadro geralmente é causado pelo uso abusivo de diuréticos (que fazem o rim excretar excesso de sal) ou em portadores de problemas renais
Sinais
Sintomas de desidratação
Os sintomas de desidratação leve a moderada são:
- Boca seca e pegajosa
- Sonolência ou cansaço
- Sede
- Diminuição da produção de urina (para bebês, não molhar a fralda por três horas ou mais)
- Pouca ou nenhuma lágrima ao chorar
- Pele seca
- Dor de cabeça
- Prisão de ventre
- Tonturas ou vertigens.
Os sintomas de desidratação severa são:
- Sede extrema
- Preguiça extrema ou sonolência em bebês e crianças
- Irritabilidade e confusão em adultos
- Boca, pele e membranas mucosas muito secas
- Pouca ou nenhuma micção
- Toda a urina que é produzida será mais escura do que o normal
- Olhos fundos
- Pele seca e murcha, sem elasticidade
- Em bebês lactentes, fontanelas afundadas
- Pressão arterial baixa
- Batimento cardíaco rápido
- Respiração rápida
- Sem lágrimas ao chorar
- Febre
- Nos casos mais graves, delírio ou inconsciência.
Saiba mais: Torne a água que você bebe mais saudável
Infelizmente, a sede nem sempre é um indicador confiável da necessidade do corpo por água, especialmente em crianças e idosos. O melhor indicador é a cor da urina: clara ou de cor clara significa que o corpo está bem hidratado, enquanto uma cor amarela ou âmbar escuro geralmente sinais de desidratação.
Diagnóstico
O diagnóstico de desidratação é feito com base nos sinais e sintomas físicos apresentados pelo paciente. Se estiver desidratado, é provável que apresente pressão arterial baixa (especialmente ao passar de uma posição deitada para uma posição em pé), aumento da frequência cardíaca, respiração ofegante e um fluxo sanguíneo reduzido para as extremidades. Além disso, o médico poderá solicitar uma série de exames de sangue e de urina para confirmar o diagnóstico.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco da desidratação são:
- Bebês e crianças: as crianças tendem a desidratar porque têm com maior frequência quadros de febre, diarreia, vômitos e outras infecções. Como o organismo da criança tem uma proporção maior de água, qualquer perda que não é corrigida pode levar à desidratação
- Idosos e pessoas na meia idade: conforme a pessoa envelhece, se torna mais suscetível à desidratação por várias razões: a capacidade do organismo para conservar a água é reduzida, o senso de sede torna-se menos aguçado, e há uma menor capacidade de responder às mudanças de temperatura
- Pessoas com doenças crônicas: ter diabetes não controlada coloca em alto risco de desidratação. Mas outras doenças crônicas, como doença renal e insuficiência cardíaca, também aumentam o risco do problema. Infecções ou feridas na garganta, em menor proporção, também podem contribuir para desidratação uma vez que podem impedir a pessoa de comer ou de beber adequadamente
- Atletas de resistência: qualquer pessoa que se exercita pode ficar desidratada, especialmente em climas quentes e úmidos ou em altas altitudes. Mas os atletas que treinam para participar de uma ultramaratona, triathlon, expedições de alpinismo ou torneios de ciclismo, por exemplo, estão em risco particularmente elevado. Isso porque quanto mais você se exercita, mais difícil é manter-se hidratado
- Viver em grandes altitudes: viver, trabalhar e se exercitar em altitudes elevadas (geralmente definidos como acima 8.200 pés, ou cerca de 2.500 metros) pode causar uma série de problemas de saúde. Um deles é a desidratação, que geralmente ocorre quando o corpo tenta se ajustar a altas altitudes através do aumento da micção e de uma respiração mais rápida — quanto mais rápido você respira para manter os níveis adequados de oxigênio no sangue, mais vapor é expirado
- Trabalhar ou se exercitar em um clima quente e úmido: quando está quente e úmido, o risco de desidratação e de doenças provocadas pelo calor aumenta. Isso porque quando o ar está úmido, o suor não consegue evaporar tão rapidamente como normalmente faz — e isso pode levar a um aumento da temperatura corporal e à necessidade de mais fluidos
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar a desidratação são:
- Clínico geral
- Pediatra
- Gastroenterologista.
Buscando ajuda médica
Se você é um adulto saudável, geralmente conseguirá tratar desidratação leve a moderada ingerindo mais líquidos — como água ou uma bebida isotônica. Obtenha cuidados médicos imediatos se surgirem sinais e sintomas graves, tais como sede excessiva, falta de urina, pele enrugada, tonturas e confusão.
Vá ao médico em caso dos seguintes sintomas:
- Vômito constante por mais de um dia
- Febre acima de 38°C
- Diarreia por mais de dois dias
- Perda de peso
- Diminuição da produção de urina
- Confusão
- Fraqueza.
Leve a pessoa para o departamento de emergência do hospital se ocorrerem essas situações:
- Febre superior a 39°C
- Confusão
- Lentidão (letargia)
- Dor de cabeça
- Dificuldade em respirar
- Dor no peito ou abdominal
- Desmaio
- Falta de urina nas últimas 12 horas.
Tratamento
O tratamento de desidratação leve a moderada pode ser feito a partir da reposição de água e de sais minerais perdidos, como sódio e potássio. Às vezes, a ingestão pode ser feita pela administração de soluções intravenosas.
Quadros mais graves exigem a restauração do volume de sangue e de fluidos corporais. Na emergência, os especialistas podem:
- Resfriar o corpo do paciente, se a causa for exposição excessiva ao calor
- Fazer a reposição de líquidos via oral se não houver náusea e vômitos ou desidratação excessiva. Caso contrário, fazer a reposição intravenosa
- Fazer exames de sangue e urina para determinar as causas da desidratação
Se o paciente apresenta melhora no quadro, ele pode ser enviado para casa, de preferência sob os cuidados de amigos ou familiares que podem ajudar a monitorar sua condição. Se permanecer desidratado, confuso, febril, com sinais vitais anormais persistentes ou sinais de infecção, pode precisar ficar no hospital para tratamento adicional.
Medicamentos
Nos casos de desidratação decorrente de febre, os medicamentos antitérmicos podem ajudar a controlar a temperatura. Os medicamentos que podem ser usados são:
- Dipirona
- Novalgina
- Conmel
- Cetoprofeno
- Ibupril
- Advil
- Paracetamol.
Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
A desidratação tem cura, mas deve ser tratada o mais rápido possível para que não haja consequências nos órgãos e na saúde da pessoa.
Prevenção
Como evitar a desidratação?
A desidratação pode ser prevenida a partir de alguns hábitos, como:
- Ingira quantidades extras de água em eventos ao ar livre que há risco de aumento da sudorese. Atletas e trabalhadores ao ar livre devem repor os líquidos em uma taxa que é igual a perda
- Evite exercício e exposição durante os dias de índice de calor intenso
- Certifique-se de que as pessoas mais velhas e lactentes e crianças têm água potável adequada
- Certifique-se de que qualquer pessoa incapacitada ou prejudicada está ingerindo quantidade adequada de líquidos
- Evite o consumo de álcool, especialmente quando o clima está quente, uma vez que o álcool aumenta a perda de líquido pela urina
- Use roupas de cores claras e soltas se você deve estar ao ar livre no calor
- Não permaneça o tempo inteiro no sol. Procure uma sombra e refresque-se
- Controle o diabetes.
Convivendo (Prognóstico)
Saber conviver com a desidratação é, também, saber tratá-la. Siga à risca as orientações médicas e livre-se o quanto antes do problema. Veja algumas medidas caseiras que você pode adotar para acelerar o tratamento e a recuperação:
- Beba de 8 a 10 copos de líquidos leves (de preferência água)
- Use soro caseiro
- Faça refeições pequenas ao longo do dia, em vez de três refeições grandes
- Coma alimentos salgados, como bolachas, sopa e bebidas energéticas
- Descanse bem.
Como preparar o soro caseiro: misture em um litro de água mineral, de água filtrada ou de água fervida (mas já fria) uma colher pequena (tipo cafezinho), de sal e uma colher grande (tipo sopa), de açúcar. Ofereça o dia inteiro ao doente em pequenas colheradas.
Complicações possíveis
A desidratação pode levar a complicações graves, incluindo:
- Lesão térmica: a lesão pode causar exaustão pelo calor ou insolação, com potencial risco de vida
- Inchaço do cérebro (edema cerebral): se a reidratação for feita de forma inadequada, pode ocorrer que algumas células inchem e se rompam. As consequências são especialmente graves quando as células do cérebro são afetadas
- Convulsões: eletrólitos, como potássio e sódio, ajudam a transportar os sinais elétricos de célula para célula. Se os seus eletrólitos estão fora de equilíbrio, as mensagens elétricas normais podem se confundir, o que pode levar a contrações musculares involuntárias e, por vezes, a uma perda de consciência
- Choque por baixo volume de sangue (choque hipovolêmico): este é um dos mais graves e às vezes com risco de vida. Ele ocorre quando o volume de sangue baixo provoca uma queda da pressão arterial e uma queda na quantidade de oxigênio em seu corpo
- Insuficiência renal: este problema potencialmente fatal ocorre quando os rins já não são capazes de remover o excesso de líquidos e resíduos do sangue
- Coma e morte: quando não tratada pronta e apropriadamente, a desidratação grave pode ser fatal
Referências
Maira Marzinotto, gastroenterologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo