Carolina dos Santos Lázari atualmente é médica assessora para análises clínicas em Infectologia do Grupo Fleury e médica...
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O que é Febre tifoide?
A febre tifoide é uma doença infecciosa causada pela bactéria Salmonella enterica typhi. Ela é transmitida através do consumo de alimentos e de água contaminados com fezes ou urina de uma pessoa infectada. Seus sintomas são semelhantes aos da gripe, incluindo tosse, fadiga e, em alguns casos, diarreia.
Devido à sua forma de transmissão, a febre tifoide é mais presente em locais em que as condições sanitárias e de higiene são precárias. No Brasil, a doença ocorre de forma endêmica, com algumas epidemias onde as condições são mais precárias. A seguir, entenda mais sobre o que é febre tifoide, seus sintomas, como acontece a transmissão e como funciona o tratamento.
Causas
Transmissão da febre tifoide
A transmissão da febre tifoide ocorre através da ingestão de água ou alimentos contaminados com a bactéria Salmonella enterica typhi. De acordo com a infectologista Carolina Lázari, do Fleury Medicina e Saúde, os alimentos podem ser contaminados ainda no ambiente, pelo contato com fezes e urinas de pessoas infectadas.
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“Isso é comum em hortaliças irrigadas com água contaminadas ou em pescados provenientes de águas poluídas com esgoto”, explica a especialista. Também é possível que a contaminação ocorra durante o preparo desses alimentos. “[Isso ocorre] Quando manipulados por pessoas doentes, mas pouco sintomáticas ou assintomáticas, sem a higienização adequada das mãos”, completa.
Sintomas
Sintomas de febre tifoide
De acordo com a infectologista Carolina, a intensidade dos sintomas de febre tifoide é progressiva ao longo da primeira semana. “Na segunda semana, a febre passa a ser intermitente e a diarreia pode ser substituída por obstipação intestinal, ou seja, intestino preso”, explica. “Nessa fase, podem surgir manchas rosadas no corpo, principalmente no tronco”, acrescenta.
No geral, os principais sintomas de febre tifoide são:
- Febre alta de início súbito
- Fadiga
- Perda de apetite
- Dor de cabeça
- Dor abdominal
- Diarreia
“Nos casos não tratados, a doença pode progredir com complicações, como diarreia abundante e hemorrágica, perfuração intestinal, inflamação da vesícula biliar (colecistite), formação e abcessos e choque séptico”, afirma.
Diagnóstico
O diagnóstico da febre tifoide é feito através do exame clínico, assim como o histórico do paciente e do que ele consumiu, de como são seus hábitos de higiene e da região onde ele vive. Além disso, exames complementares devem ser solicitados para confirmar o diagnóstico, já que os sintomas são comuns a outras doenças que afetam o sistema gastrointestinal, como:
- Exame de sangue
- Exame de fezes
- Exame de urina
- Punção medular
“A cultura do sangue é recomendada nas duas primeiras semanas da doença e, das fezes, da segunda à quinta semana”, explica Carolina. “Para casos mais graves, em que as culturas não consigam definir o diagnóstico, pode ser realizada a punção de medula óssea com cultura do aspirado medular”, afirma.
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A infectologista acrescenta, ainda, que existe uma opção de exame sorológico para diagnosticar febre tifoide, chamado “reação de Widal”. “Mas é pouco sensível e específico e, portanto, não é o mais recomendado”, diz.
Buscando ajuda médica
Ao notar os sintomas de febre tifoide, principalmente febre alta de início súbito e diarreia, busque ajuda médica para que o diagnóstico preciso seja feito e, assim, o tratamento iniciado. As especialidades que podem diagnosticar e tratar a infecção são:
- Clínico geral
- Infectologista
Tratamento
Tratamentos para febre tifoide
O tratamento para febre tifoide deve ser iniciado tão logo a doença é diagnosticada. Ele consiste no uso de medicamentos antibióticos, no repouso e na hidratação constante do paciente. Além disso, é fundamental que a higiene pessoal seja mantida durante o período de tratamento e que pessoas contaminadas evitem preparar ou servir alimentos para outras pessoas.
Em casos mais graves, pode ser necessária uma internação para hidratação e administração venosa de antibióticos. Porém, essas situações são mais raras e, normalmente, o paciente é tratado em nível ambulatorial.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de febre tifoide são:
- Androfloxin
- Bacteracin e Bacteracin-F
- Bactrim
- Cefalotina
- Ciprofloxacino
- Clordox
- Doxiciclina
- Norfloxacino
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
A febre tifoide tem cura e o tratamento com antibióticos dura entre 10 e 14 dias, a depender de cada caso. “Algumas pessoas, que resolvem os sintomas iniciais da doença sem tratamento ou com tratamento incompleto podem apresentar a infecção assintomática por longos períodos, o que chamamos de ‘estado de portador’”, explica a infectologista Carolina.
“Essas pessoas são importantes para a cadeia de transmissão da doença, pois podem ser fonte de infecção para novos casos, principalmente se manipulam alimentos que serão consumidos por outras pessoas”, acrescenta. “Esses portadores devem ser tratados com antibióticos por 4 a 6 semanas para eliminar a bactéria e interromper a transmissão”, afirma.
Prevenção
Vacina contra febre tifoide
Apesar de ser uma forma de prevenção, a vacina contra a febre tifoide não é a principal arma para seu controle. Essa doença exige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento básico. A vacina, portanto, não apresenta valor prático para o controle de surtos, não sendo também recomendada em situações de calamidade.
Sabe-se que a vacina atualmente disponível não possui um alto poder imunogênico e que a imunidade é de curta duração, sendo indicada apenas para pessoas sujeitas a exposições excepcionais, como os trabalhadores que entram em contato com esgotos, para aqueles que ingressam em zonas de alta endemicidade, por ocasião de viagem e, ainda, para quem vive em áreas onde a incidência é comprovadamente alta.
Ações de educação em saúde
Destacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos. Esse aspecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e que trabalham na atenção de pacientes e crianças. Observar cuidados na preparação, na manipulação, no armazenamento e na distribuição de alimentos, bem como na pasteurização ou na ebulição do leite e de produtos lácteos.
Medidas gerais
- Proceder à limpeza e desinfecção periódica das caixas de água de instituições públicas (escolas, creches, hospitais, centros de saúde, asilos, presídios, etc.), a cada 6 meses, ou com intervalo menor, se necessário
- Orientar a população para proceder à limpeza e desinfecção das caixas de água domiciliares, a cada 6 meses, ou com intervalo menor, se necessárias
- Em locais onde a água for considerada suspeita, orientar a população para ferver ou clorar a água.
Complicações possíveis
De acordo com Carolina, a febre tifoide, quando não tratada, pode causar complicações e, até mesmo, levar ao óbito. “As principais complicações que podem levar ao óbito são as hemorragias intestinais, a perfuração intestinal, a meningite, a miocardite e a sepse”, afirma.
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Referências
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)