Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iRedatora especialista em temas relacionados com bem-estar, família e comportamento.
O que é Hiperatividade?
A hiperatividade é um estado excessivo de energia, que pode ser motora ou mental. Se algum órgão ou glândula do nosso corpo estiver trabalhando mais do que o necessário, dizemos que ele está hiperativo (como no hipertireoidismo).
A "hiperatividade” por si só, pouco diz ao especialista, uma vez que sendo um sintoma inespecífico, pode ocorrer em múltiplas situações do dia a dia de crianças e adultos, sem causar qualquer espécie de problema. Entretanto, a hiperatividade pode ser de difícil avaliação quanto ao grau de comprometimento, especialmente em crianças mais novas.
Por isso, é necessário uma avaliação cuidadosa da hiperatividade em todos os contextos da vida da criança ou adulto, bem como a observação do grau de sofrimento, prejuízo e comprometimentos decorrentes do comportamento hiperativo.
Em geral o hiperativo é desatento, não possui um bom desempenho na escola e tende a ter problemas com a leitura e outras tarefas acadêmicas. Frequentemente esse transtorno pode ser acompanhado de outros atrasos no desenvolvimento como dificuldade na fala e falta de habilidade (dispraxia).
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Ela é classificada como patológica na presença de comprometimento em múltiplos setores e presença de sofrimento e prejuízos. Além disso, a hiperatividade pode se manifestar em qualquer idade e gênero embora a sua prevalência seja maior nos meninos.
Causas
As causas mais comuns são as de ordem genética e ambiental (uma suscetibilidade genética em interação direta com fatores ambientais).
Em crianças, podem existir as seguintes causas de hiperatividade:
- Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
- Uso de álcool, tabaco e substâncias psicoativas pela mãe durante a gestação
- Complicações na gestação, como injúria fetal e lesão cerebral
- Parto prematuro e baixo peso do bebê (PIG)
- Complicações no parto, como hipóxia, partos prolongados e traumáticos ao bebê
- Mãe sob estresse contínuo, mãe mal nutrida ou desnutrida
- Ambiente familiar desorganizado, caótico, desestruturado
- Maus tratos e abuso
- Problemas situacionais como crises familiares (luto, separação parental e outras) levando a quadros de hiperatividade reativa
- Transtornos de aprendizagem
- Deficiência intelectual
- Doenças invasivas do neurodesenvolvimento, como o autismo, por exemplo
- Doenças genéticas e outras doenças, como pós-encefalites virais, entre outras
Já entre os adultos, as causas mais comuns para hiperatividade são:
- Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
- Outros transtornos psiquiátricos como transtorno bipolar, mania agitada, entre outros
- Outros transtornos fisiológicos, como hipertireoidismo e fecromocitoma
- Doenças cérebro vasculares e outras do doenças do sistema nervoso central
- Intoxicação por chumbo, mercúrio e outros metais pesados
- Uso em excesso de medicamentos psicoestimulantes, drogas (cocaína), cafeína, tabaco
- Síndrome de abstinência de drogas
- Exposição à pesticidas e/ou adubos agrícolas e a produtos químicos
- Exposição a produtos domésticos com princípio ativo muito forte como diluente, amoníaco ou vernizes
- Meio familiar caótico, desorganizado, dinâmica agressiva
- Distúrbios emocionais, instabilidade no emprego e nos relacionamentos
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Tipos
Existem dois tipos de hiperatividade:
Hiperatividade motora: Está ligada à motricidade, aos movimentos. É a criança agitada, que não consegue ficar quieta um segundo sequer.
Hiperatividade mental: Pensamentos desorganizados, em excesso, prejudiciais ao raciocínio da criança, além de tender a deixá-la desatenta, ansiosa, irritada e agressiva.
Sinais
Como identificar hiperatividade infantil na escola?
Os principais sintomas da hiperatividade em crianças são:
- Estar sempre inquieto
- Estar sempre se mexendo (pés e mãos) e tamborilando dedos
- Sempre se levantar quando é para ficar sentado
- Ficar correndo, perambulando e falando excessivamente
- Ter dificuldades em participar de brincadeiras calmas
A hiperatividade pode se manifestar por sintomas de inquietação, nervosismo e movimentos excessivos. É comum vê-las se esbarrando nas pessoas ou nos móveis, tropeçando, caindo e se machucando, pois quase sempre estão se colocando em lugares perigosos.
Geralmente, até para comer ou assistir à TV ficam em pé, andando de um lado a outro da casa. O sono costuma ser agitado, falam muito e mesmo dormindo giram o corpo na cama, podendo se tremer e balançar a perna para dormir.
Todo esse comportamento excessivo com frequência se acompanha de uma dificuldade de concentração e manutenção do foco para prestar atenção nas aulas, realizar as tarefas, ler, fazer os deveres de casa e até para brincar de forma calma e segura com os colegas.
A fala é excessiva, podendo ser desorganizada pela “pressa para falar”, e por vezes é muito acelerada, parecendo que vão gaguejar.
Ainda assim, é importante distinguir a verdadeira hiperatividade dos comportamentos ativos e impulsivos exibidos pelas crianças sem a condição. A hiperatividade, sendo um sintoma dimensional, varia de intensidade dentro de um espectro, fato que pode deixá-la sujeita à relativização do observador.
O comportamento hiperatividade pode diminuir na adolescência e até desaparecer na vida adulta, embora seja muito comum a persistência das cicatrizes deixadas ao longo da vida.
Sintomas como sentir sonolência diurna e evitar brincadeiras “clássicas” e agitadas (como futebol e queimada) são menos observados no dia a dia dessas crianças, mas podem acontecer. Algumas crianças hiperativas se retraem por conta da própria hiperatividade, por exemplo.
Como identificar hiperatividade na fase adulta?
Os principais sintomas da hiperatividade em adultos são:
- Inquietude interna e ansiedade
- Dificuldade de ficar sentado em reuniões
- Tendência a ser workaholic, ou seja, viciado em trabalho
- Falar excessivamente
- Fumar e ou beber em demasia
Apesar dos sintomas mais notórios da hiperatividade serem da responsabilidade do cérebro, outras partes do corpo humano também têm um papel importante na hiperatividade. Pescoço, coluna, sistema imunitário, sistema digestivo e urinário estão envolvidos na hiperatividade. Por isso é que muitas crianças e adultos com hiperatividade têm:
- Problemas respiratórios como bronquite e asma
- Má postura física
- Um andar descoordenado ou desengonçado
- Tendência para tropeçar, ir contra coisas, quedas e acidentes
- Pouca habilidade com trabalhos ou atividades manuais
- Fazer xixi na cama com uma idade avançada
Diagnóstico
O diagnóstico antes dos quatro ou cinco anos raramente é feito, pois o comportamento das crianças nessa idade é muito variável e a atenção ainda não é tão exigida. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o transtorno numa idade bem precoce.
Crianças só hiperativas respondem de modo adequado as orientações específicas das professoras e ao conteúdo programático proposto em aula bem como as atividades físicas regulares, ao inverso das crianças acometidas com um distúrbio de hiperatividade, uma vez que elas também vão apresentar dificuldade em seguir regras e de controlar os seus impulsos.
Geralmente só os pais são chamados na primeira consulta. Nela, será obtida anamnese detalhada da criança, ou seja, de todo o seu histórico de vida desde a concepção.
Também é feita a análise do histórico de vida dos pais, irmãos e familiares biológicos, incluindo todos os dados do histórico patológico, análise do histórico e ambiente escolar (acadêmico), profissional, social, conjugal, dinâmica do sistema familiar, e sempre observando se os pais e irmãos conseguiram ou estão conseguindo aproveitar toda a capacidade de desempenho na vida.
Relatórios sobre a criança são solicitados à escola. Escalas específicas são feitas com os pais e encaminhados para a escola para ser preenchido também. São solicitados exames de sangue, imagem e avaliações específicas (pelo oftalmologista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicólogo etc.) conforme cada caso.
É importante detalhar com rigor a hiperatividade, com perguntas como as listadas abaixo:
- Desde quando observaram que a criança era hiperativa?
- A hiperatividade é estável ou vem aumentando ou diminuindo ao longo do tempo? Especifique?
- Quais os sintomas que mais incomoda em casa e na escola?
- Que outros sintomas a criança apresenta?
- Quais as queixas da professora?
- Ele é assim em que lugares e com que pessoas?
- Ele apresenta alguma situação que provoque a hiperatividade?
- Como é ele em relação a outras crianças da mesma idade?
Em uma segunda consulta, a criança é avaliada física e emocionalmente. Caso o especialista ache necessário, poderá solicitar uma avaliação neuropsicológica. Todo o diagnóstico é puramente clínico e será acompanhado regularmente a partir dos dados dos pais e professores.
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
Existem trabalhos que mostram diferenças em áreas do cérebro nas crianças com TDAH, se comparadas com um grupo de crianças sem o transtorno. Entretanto, é importante salientar que o diagnóstico é eminentemente clínico, baseado nas queixas da pessoa e em sua história de vida. Exames radiológicos, raios-X, tomografia ou eletroencefalograma (exame pedido com muita frequência) não ajudam a esclarecer o diagnóstico, seja em crianças, seja em adultos.
Fatores de risco
Entre os fatores de risco para a hiperatividade, encontramos principalmente fatores genéticos e ambientais, como:
- Parto prematuro
- Baixo peso ao nascer
- Tabagismo na gravidez
- Desajuste familiar
- Idade materna jovem
- História paterna de comportamento antissocial
- Depressão materna
Buscando ajuda médica
O diagnóstico é fundamentalmente clínico, realizado por profissional (de preferência, psiquiatra) que conheça profundamente o assunto e que necessariamente descarte outras doenças e transtornos, para então indicar o melhor tratamento.
Além de buscar ajuda médica, para o neuropsicólogo Sam Goldstein, em caso de criança hiperativa também é essencial compreender o comportamento dela, ver o mundo através de seus olhos e fazer a distinção entre comportamento resultante de falta de capacidade e comportamento resultante de desobediência deliberada.
Todas as pessoas (pais, amigos ou profissionais) que lidam com crianças hiperativas sabem o quão grande é o sofrimento que elas sentem. Por isso é tão importante tentar entendê-las e buscar ajuda de um profissional.
Medicamentos
A hiperatividade pode ter diversas causas, de modo que o tratamento varia de acordo com o diagnóstico estabelecido pelo médico. Por isso, somente um especialista capacitado pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Os remédios mais comuns no tratamento de hiperatividade são:
Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Referências
Evelyn Vinocur, psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo comportamental especializada em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Santa Casa de Misericórdia do Estado do Rio de Janeiro, SCMRJ. Membro associado da ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria e da ABDA - Associação Brasileira de Déficit de Atenção (CRM-RJ: 303514)