Médica neurocirurgiã com formação em cirurgia cerebral por vídeo e cirurgia da base do crânio pela Ohio State University...
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O que é Narcolepsia?
A narcolepsia é um distúrbio do sono caracterizado por sonolência excessiva durante o dia e por frequentes ataques de sono, mesmo quando a pessoa dormiu bem à noite. Esses episódios costumam ocorrer repentinamente e a qualquer momento do dia - até mesmo em situações inusitadas, como em consultas médicas, dirigindo ou numa conversa entre amigos.
Ao contrário do que muitos acreditam, a narcolepsia não está relacionada à depressão, distúrbios convulsivos, desmaios, preguiça ou pela simples falta de sono durante a noite. Esta é uma condição crônica, para a qual não há cura, e que pode afetar seriamente a qualidade de vida de quem a tem.
No entanto, é perfeitamente tratável e seu principal sintoma - o excesso de sono durante o dia - pode ser controlado por meio de medicamentos e algumas mudanças no estilo de vida.
Causas
A causa exata da narcolepsia é desconhecida pelos especialistas, embora muitos acreditem que fatores genéticos possam estar diretamente envolvidos no aparecimento da doença.
Uma das possibilidades é que a narcolepsia seja causada pela perda de células localizadas no hipotálamo. Estas células morrem precocemente e não produzem um neurotransmissor chamado hipocretina, responsável por manter o corpo acordado.
Um desequilíbrio na quantidade desta substância química pode levar ao aparecimento do sono REM em horas inadequadas. Os médicos não sabem afirmar o que leva o corpo a produzir baixas quantidades de hipocretina, mas acredita-se que uma reação autoimune possa estar envolvida.
No processo natural do sono, uma pessoa passa por todas as primeiras fases antes de entrar no chamado sono REM, que é quando ocorre a grande parte dos sonhos. Já uma pessoa com narcolepsia pula todas essas primeiras fases, atingindo o sono REM muito mais rapidamente. Isso pode acontecer tanto à noite quanto durante o dia.
Sintomas
De acordo com a médica, o paciente com essa condição apresenta episódios repetidos de sonolência intensa durante o dia e também outras alterações que são características da doença, como o sono fragmentado e a cataplexia, situação em que há um relaxamento súbito da musculatura desencadeado por intenso estresse emocional.
Entenda mais sobre como a narcolepsia se manifesta:
Sonolência diurna excessiva
Pessoas com narcolepsia adormecem sem aviso prévio, em qualquer lugar e a qualquer hora. Em geral, esses ataques frequentes e repentinos de sono duram de alguns minutos a cerca de meia hora. Após despertar, a pessoa sente-se revigorada, mas pode cair no sono novamente em seguida.
Sonolência excessiva durante o dia é o primeiro e principal sintoma da narcolepsia e, muitas vezes, o mais problemático. Devido a ele, uma pessoa pode ter dificuldade de concentração e de foco.
Perda súbita do tônus muscular
Esta condição, chamada de cataplexia, pode causar uma série de mudanças físicas - de fala arrastada à completa fraqueza da maioria dos músculos do corpo. Este problema pode durar de alguns segundos a alguns minutos.
A cataplexia é incontrolável e é desencadeada por emoções intensas, geralmente positivas, como riso ou excitação. No entanto, também pode ser causada por sentimentos como medo, surpresa ou raiva.
A ocorrência de cataplexia entre pessoas com narcolepsia varia muito. Algumas apresentam apenas um ou dois episódios por ano, enquanto outras podem ter vários episódios durante um único dia.
Paralisia do sono
Pessoas com narcolepsia muitas vezes são temporariamente incapazes de se mover ou de falar enquanto adormecem ou despertam. Estes episódios são geralmente breves, com duração de, em média, um ou dois minutos.
Entretanto, nem todos que apresentam episódios de paralisia do sono têm narcolepsia. Muitas pessoas sem distúrbios de sonolência experimentam alguns episódios de paralisia do sono, especialmente na idade adulta jovem. Da mesma forma, nem todas as pessoas diagnosticadas com narcolepsia passarão, necessariamente, por episódios de paralisia do sono.
Alucinações
Há dois tipos possíveis de alucinações, as chamadas alucinações hipnagógicas, que ocorrem quando a pessoa cai no sono, e as alucinações hipnopômpicas, que ocorrem durante o despertar. Esses episódios ocorrem porque uma pessoa com narcolepsia ainda pode estar parcialmente acordada enquanto já começa a sonhar, de modo que pode confundir o sonho com a realidade.
Diagnóstico
O diagnóstico preliminar da narcolepsia é feito com base na descrição dos sintomas e na presença de pelo menos dois deles: sonolência excessiva durante o dia e cataplexia. Depois de uma análise inicial, o médico pode encaminhar o paciente para um especialista do sono para uma avaliação mais aprofundada.
Alguns dos exames mais usados pelos médicos para diagnosticar a narcolepsia são:
- ECG (que mede a atividade elétrica do coração)
- Eletroencefalograma (que mede as atividades do cérebro)
- Monitoramento da respiração
- Testes genéticos para identificar o gene da narcolepsia
- Polissonografia (estudo do sono do paciente)
- Teste Múltiplo de Latência do Sono (MSLT), em que o médico mede quanto tempo o paciente leva para adormecer durante uma soneca diurna. Pacientes com narcolepsia adormecem muito mais rápido do que pessoas que não têm a doença.
Narcolepsia e Apneia do sono
Ambas as condições fazem parte dos distúrbios do sono. Entretanto, apesar de serem confundidas, a narcolepsia e a apneia do sono são doenças com causas e sintomas desiguais.
Danielle explica que a narcolepsia é uma doença crônica que tem como principal forma de apresentação a ocorrência de episódios súbitos de sonolência durante o dia, que podem ocorrer nas mais inusitadas situações, como com a pessoa trabalhando, em pé conversando ou até mesmo dirigindo. Esses episódios de sonolência diurna aparecem de forma incontrolável e mesmo quando a pessoa dormiu bem em noites anteriores.
“Já a Apneia do sono é uma doença grave e crônica em que o indivíduo, durante a noite, em seu sono normal, apresenta diversos episódios de interrupção da respiração com duração geralmente de alguns segundos. A apneia pode causar uma sonolência excessiva durante o dia em consequência da má qualidade do sono noturno e, por isso, em algumas situações, esses diagnósticos podem ser confundidos, apesar de serem doenças distintas”, conta a especialista.
Fatores de risco
Fatores genéticos e processos infecciosos parecem ser os principais fatores de risco para a narcolepsia. Estudiosos acreditam, também, que a doença esteja diretamente relacionada à idade.
Saiba mais: Alimentação e sono
“A narcolepsia tem uma apresentação bimodal, ou seja, se apresenta em dois momentos ao longo da vida. Ela pode iniciar na adolescência e no início da vida adulta, por volta dos 20 anos de idade, ou ter uma apresentação mais tardia, após os 50 anos de idade, em especial em mulheres após a menopausa”, explica a neurologista Danielle de Lara.
Buscando ajuda médica
Ao apresentar sonolência excessiva durante o dia, com frequentes ataques de sono até mesmo durante situações inusitadas, como no meio de uma conversa, é recomendado que se procure um especialista imediatamente.
Entre as especialidades que podem diagnosticar narcolepsia estão:
- Clínico médico
- Neurologista
- Médico do sono
- Psiquiatria
- Psicólogo
- Geneticista
- Infectologista
- Otorrinolaringologista
- Pneumologista
Tratamento
De acordo com a neurologista Danielle de Lara, a narcolepsia não possui cura, mas deve ser tratada, pois traz um grande impacto psicossocial aos pacientes, que muitas vezes são rotulados como “dorminhocos” ou “preguiçosos”.
“O tratamento da narcolepsia é extremamente complexo e envolve uma equipe multiprofissional, trabalhando desde orientações comportamentais à família e ao paciente, com adaptações da rotina de trabalho e no sono e, até mesmo uso de medicações estimulantes”, explica a médica.
Entre as principais medicações prescritas pelos médicos para tratar narcolepsia estão alguns estimulantes, inibidores seletivos de recaptação de serotonina, antidepressivos e óxido de sódio.
Convivendo (Prognóstico)
Além do tratamento médico, modificações no estilo de vida também são importantes para controlar os sintomas da narcolepsia, como:
- Dormir e acordar na mesma hora todos os dias, incluindo aos finais de semana
- Tirar cochilos regularmente durante o dia. Cochilar por 20 minutos pode ajudar a reduzir a sonolência por entre uma a três horas
- Evitar nicotina e álcool. A utilização destas substâncias, especialmente à noite, pode agravar os sinais e sintomas da narcolepsia
- Fazer exercícios físicos regularmente. A atividade física pode ajudar a regular o sono durante a noite e o dia.
Complicações possíveis
Se não for devidamente tratada, a narcolepsia pode causar algumas complicações. Veja:.
Problemas em relacionamentos
A sonolência excessiva pode diminuir a libido e causar impotência - as pessoas com narcolepsia podem cair no sono até mesmo durante a relação sexual. Esses problemas podem levar a sentimentos que, eventualmente, podem desencadear os ataques de sono da narcolepsia, como raiva, decepção e ansiedade.
Danos físicos
Ataques de sono repentinos podem resultar em danos físicos a pessoas com narcolepsia. O paciente pode adormecer ao volante ou enquanto está cozinhando, de modo que se torna mais vulnerável, também, a cortes e queimaduras.
Obesidade
Pessoas com narcolepsia são duas vezes mais propensas a terem excesso de peso do que outras pessoas. O ganho de peso pode estar relacionado, principalmente, ao sedentarismo, à compulsão alimentar, à deficiência de hipocretina ou a uma combinação entre esses e outros fatores.
Referências
Ministério da Saúde
Danielle de Lara, Médica Neurocirurgiã em atividade na cidade de Blumenau (SC). Atua principalmente na área de cirurgia endoscópica endonasal e cirurgia de hipófise - CRM SC 12208
National Institute of Neurological Disorders and Stroke
Narcolepsy Network
National Sleep Foundation