Neurocirurgião (CRM SC 12148/RQE 9242) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com especialização pelo Hospit...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Nevralgia do trigêmeo?
A neuralgia do trigêmeo (também conhecida como nevralgia trigeminal) é um distúrbio nervoso caracterizado por dor intensa em uma ou mais partes do rosto. Considerada uma das piores dores do mundo, ela é descrita como a sensação de um fio elétrico desencapado encostando nas partes afetadas, que podem incluir, por exemplo, o nariz, os olhos, o couro cabeludo, o interior da bochecha, o céu da boca e até a língua.
Quem sofre de neuralgia do trigêmeo pode ter inúmeras crises de dor em um único dia, geralmente desencadeadas por gatilhos como o toque em determinadas partes da face ou atos simples como o de escovar os dentes e tomar água gelada. Estas crises de dor aguda podem durar de segundos até minutos e tendem a se repetir.
Distúrbio mais comum em pessoas de idade mais avançada e em mulheres, a neuralgia do trigêmeo pode acontecer de forma espontânea, mas também pode ser apenas um sintoma de outra condição de saúde.
Causas
A neuralgia do trigêmeo tem relação com o chamado nervo trigêmeo, um dos doze pares de nervos cranianos responsáveis pela enervação do rosto.
Este nervo é responsável pelas sensações que se tem ao encostar em partes da face, bem como pela musculatura envolvida na mastigação. Quando há compressão ou outro tipo de interferência no nervo trigêmeo, a funcionalidade dele fica comprometida, gerando então a dor.
Ainda que a condição possa acontecer espontaneamente, os seguintes quadros podem levar à neuralgia do trigêmeo:
Compressão do nervo trigêmeo
Em geral, a principal causa da neuralgia do trigêmeo é a compressão do nervo por alguma outra estrutura. Isso pode acontecer quando uma artéria localizada próxima fica dilatada devido a outros problemas de saúde, ou até pela aterosclerose (envelhecimento arterial), que tende a modificar a anatomia da artéria e fazer com que ela encoste no nervo.
A cada pulsação da artéria, o nervo acaba pressionando o nervo. Com isso, ele “descasca”, fica desprotegido e ocasiona, então, a sensação de choque sentida nas áreas com as quais ele tem relação – ou seja, o rosto.
A compressão do nervo trigêmeo, porém, nem sempre é causada por uma artéria. É possível, por exemplo, que um tumor cerebral ou outras lesões vasculares pressionem esta estrutura, levando então ao surgimento desta condição.
Influência do herpes zóster
Causado pelo vírus varicela zoster, o mesmo causador da catapora, o herpes zóster também está entre as possíveis causas da neuralgia do trigêmeo. A chamada neuralgia pós-herpética acontece quando o vírus causador da doença se hospeda no gânglio do nervo, provocando assim uma lesão que também faz a estrutura se “descascar”. Desta forma, os impulsos elétricos também acontecem e são traduzidos em dor no rosto.
Esclerose Múltipla
A neuralgia do trigêmeo pode ainda ser um dos primeiros sintomas de esclerose múltipla. Nesta doença neurológica progressiva, ocorre a destruição da chamada bainha de mielina, “capa” dos neurônios – e, quando isso acontece devido à condição, o paciente pode sentir a forte dor da neuralgia do trigêmeo.
Gatilhos para crises de neuralgia do trigêmeo
Independentemente da causa, crises de neuralgia do trigêmeo podem ser desencadeadas por determinados gatilhos. Geralmente, elas ocorrem após estímulos relacionados à face, como:
- Barbear-se
- Alimentar-se
- Escovar os dentes
- Beber água gelada
- Expor o rosto ao vento
- Sorrir
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Tipos
O nervo trigêmeo recebe esse nome porque tem três ramificações: o ramo oftálmico (que acompanha os olhos), o ramo maxilar (que acompanha todo o maxilar superior) e o ramo mandibular (que acompanha o maxilar inferior).
A dor provocada pela neuralgia do trigêmeo se distribui de acordo com o ramo do nervo afetado. Sendo assim, a neuralgia pode se manifestar na:
- Região frontal (órbita ocular e parte do nariz)
- Região malar (se estende até o nariz e parte do lábio superior)
- Região temporal (passa pelo lado do ouvido e acompanha o maxilar inferior)
Sinais
Sintomas de neuralgia do trigêmeo
De início, os sintomas de neuralgia do trigêmeo podem incluir apenas uma dor leve e ocasional, que acontece em pontadas. Com o passar do tempo, porém, a dor acontece de forma intensa, descrita como insuportável e semelhante à sensação de levar um choque na face.
Estas dores podem durar de segundos até minutos, e tendem a ocorrer ao sorrir, tocar determinadas partes do rosto, se alimentar, etc. Em geral, ela afeta apenas um lado do rosto, e tende a ficar cada vez mais forte com o passar do tempo.
Não é possível afirmar com precisão quantos dias dura uma crise de neuralgia do trigêmeo. A dor pode acontecer diariamente com breves interrupções e melhorar apenas a partir do tratamento.
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Diagnóstico
O médico poderá fazer o diagnóstico de neuralgia do trigêmeo baseando-se principalmente na descrição da dor feita pelo paciente. Para isso, ele segue três critérios principais:
- Tipo: a dor relacionada à neuralgia do trigêmeo é súbita, breve e semelhante a um choque elétrico
- Localização: o médico poderá comprovar se trata-se mesmo de um caso de neuralgia do trigêmeo a partir das partes do rosto que são afetadas pela dor
- Gatilhos: a dor relacionada à neuralgia do trigêmeo geralmente é causada por estimulação externa ou por simples ações do dia a dia, como comer, falar ou expor-se à brisa e ao vento
Além disso, o especialista pode realizar exames simples ou de imagem para diagnosticar a neuralgia do trigêmeo e determinar as causas subjacentes para esta condição.
Fatores de risco
Pessoas idosas e mulheres estão mais suscetíveis à neuralgia do trigêmeo. Por ser uma consequência comum destas condições, pacientes com esclerose múltipla e tumores cerebrais também têm mais risco de desenvolver o distúrbio.
Exames
De forma geral, a neuralgia do trigêmeo pode ser identificada a partir de um exame neurológico. Ao examinar o rosto do paciente, o especialista é capaz de determinar exatamente onde a dor está ocorrendo, pontuando assim quais ramos do nervo foram afetados. Além disso, é comum que o médico também peça uma ressonância magnética para determinar a causa da neuralgia, já que o exame permite visualizar vasos dilatados, tumores e mais.
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Buscando ajuda médica
Ao sentir dores muito fortes no rosto, especialmente se a situação for persistente e não aliviar com o uso de analgésicos, é recomendado buscar atendimento médico. Os especialistas mais indicados para identificar neuralgia do trigêmeo são neurologistas e neurocirurgiões, mas oftalmologistas, reumatologistas, odontologistas e otorrinolaringologistas também podem identificar sintomas.
Tratamento
O tratamento da neuralgia do trigêmeo depende da causa da doença. Se o comprometimento do nervo tiver como causa um tumor ou uma lesão vascular, é preciso tratar estes problemas de base – algo feito, de forma geral, por via cirúrgica.
Quando o nervo trigêmeo é comprimido por um vaso sanguíneo, pode ser realizada uma cirurgia em que uma espécie de “almofada” é posicionada entre os dois, de forma a impedir o contato e cessar, assim, as dores. Este procedimento é feito sob anestesia geral e é o que rende um período mais longo sem dores (dez anos em média).
Há ainda a possibilidade de se realizar um tratamento percutâneo, no qual uma agulha é inserida pela região da bochecha até alcançar o nervo. Assim, é possível inflar uma espécie de “balão” na região, comprimir o nervo e neutralizar o distúrbio – ou realizar a chamada rizotomia de radiofrequência, em que o nervo disfuncional é submetido a uma neuromodulação, também através da agulha. Nestes casos, os efeitos do tratamento duram de três a cinco anos).
Além disso, a neuralgia do trigêmeo pode ter seus sintomas controlados com medicação. Ainda que não atuem na causa física do problema, determinados remédios ajudam a controlar a dor.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de neuralgia do trigêmeo são:
- Carbamazepina
- Algina
- Dexalgen
- Mionevrix
É importante frisar que a automedicação é expressamente contraindicada. Somente um especialista pode receitar o remédio mais adequado para cada caso, e as orientações do médico devem ser seguidas à risca.
Tem cura?
A neuralgia do trigêmeo pode ter cura dependendo de sua causa. Se for causada por um tumor e este for tratável ou removível, é possível extinguir a compressão do nervo, fazendo então com que as dores cessem.
Quando a neuralgia ocorre de forma espontânea, sem uma condição de base, os tratamentos podem trazer bem-estar ao paciente por longos anos – mas, com o tempo, os efeitos dos procedimentos acabam e é preciso refazê-los. Nestes casos, portanto, não há cura.
Caso o problema seja causado, por exemplo, por esclerose múltipla – que é uma doença incurável – também não é possível curá-lo, mas apenas tratá-lo de forma a diminuir seu impacto.
Prevenção
Não há formas conhecidas de se prevenir a neuralgia do trigêmeo.
Complicações possíveis
A dor causada pela neuralgia do trigêmeo pode ser desencadeada por simples ações do dia a dia. Sendo assim, ela tende a gerar danos expressivos ao bem-estar do paciente.
Ela pode, por exemplo, comprometer a alimentação, gerando perda de peso ou desnutrição. Além disso, o paciente pode desenvolver comportamentos depressivos devido à dor debilitante.
A qualidade de vida, no entanto, pode ser recuperada com tratamentos.
Referências
Ministério da Saúde
The Facial Pain Association
National Institute of Neurologial Disorders and Stroke
Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
Academia Brasileira de Neurologia