Obstetra e ginecologista, já realizou mais de 12.000 mil partos, já dirigiu maternidades importantes, como o Hospital e...
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O que é Vaginose na gravidez?
A vaginose bacteriana é uma infecção provocada por um desequilíbrio na flora vaginal que diminui os lactobacilos protetores da região. Isso eleva a proliferação de bactérias anaeróbias, como a Gardnerella vaginalis e a Gardnerella mobiluncus. Na gravidez, o desequilíbrio da microbiota vaginal pode ser consequência de alterações hormonais comuns no período, aumentando a colônia dessas bactérias.
A vaginose é um tipo de vulvovaginite, que também pode ser chamada de vulvite ou vaginite. Entre os principais sintomas da doença, é possível destacar corrimento de odor fétido e amarelado, cheiro vaginal semelhante ao de peixe podre e queimação na urina.
Causas
A queda de imunidade é um dos principais fatores associados à vaginose bacteriana na gravidez. Durante o período, o corpo produz diversos hormônios que atuam no sistema imunológico, diminuindo a sua capacidade de resposta. Isso ocorre para que o organismo não confunda o embrião com um corpo estranho e o ataque.
“Com a imunidade mais baixa, há também a mudança do pH vaginal para mais alcalino, o que propicia o aparecimento de infecções como a vaginose bacteriana”, explica Alberto d’Auria, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre Paulista.
A diminuição da acidez vaginose, associada à vaginose bacteriana, também pode estar relacionada a outros fatores, segundo a ginecologista Renata Gobato, do Hospital Anchieta de Brasília. São eles:
- Sangue menstrual em excesso
- Uso de tampão vaginal por tempo prolongado
- Coito frequente com depósito de semem em canal vaginal
- Abafamento vaginal
Sintomas
Os principais sintomas de vaginose na gravidez são:
- Cheiro vaginal semelhante ao de peixe podre que se intensifica após relações sexuais desprotegidas
- Corrimento de odor fétido e branco-acinzentado, que pode ser leve ou forte
- Vermelhidão e coceira na vagina
- Dor na relação sexual
Na maioria dos casos, a vaginose bacteriana não apresenta sintomas — especialmente se o desequilíbrio na flora vaginal for discreto. Além disso, os sintomas podem ser confundidos com outras infecções, como candidíase, o que torna indispensável um diagnóstico adequado por um ginecologista, pois o tratamento de ambas é diferente.
Diagnóstico
O diagnóstico de vaginose na gravidez é feito durante o pré-natal com base nos sintomas e do exame especular, que permite visualizar o colo do útero e a vagina e identificar alterações características da vaginose — como corrimento e odor vaginal desagradável. Também pode ser coletada uma amostra a fresco do conteúdo vaginal.
Os critérios diagnósticos de Amsel ainda são muito usados, de acordo com Renata, sendo eles:
- Corrimento vaginal homogêneo
- PH superior a 4.5
- Presença de clue cells a fresco (células do epitélio vaginal que são revestidas com a bactéria)
- Whiff teste positivo (cheiro de peixe quando uma gota de hidróxido de potássio a 10% é adicionada a uma amostra de secreção vaginal)
Tratamento
O tratamento de vaginose na gravidez é feito a partir do uso de bactericidas intravaginais, segundo Alberto. Eles são medicamentos inseridos na vagina para eliminar bactérias e podem estar disponíveis em forma de gel ou creme. Em casos mais graves, o especialista aponta que o tratamento pode combinar o uso de medicamentos antibióticos endovenosos e orais.
Prevenção
Por ser uma infecção silenciosa e que pode passar despercebida pela pessoa, o acompanhamento pré-natal é indispensável para, não somente identificar um possível quadro de vaginose, mas para preveni-lo e evitar complicações na gestação.
“Manter a genital ventilada, ter uma boa higienização, inclusive utilizar sabonete líquido com ácido lático como higienizante após utilizar o banheiro são formas que podem contribuir para a prevenção. A reposição de probióticos (lactobacillus) durante toda a gestação também é indicada”, finaliza Alberto.
Entre outros hábitos de prevenção de infecções como a vaginose é possível destacar:
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas, refrigerantes e café
- Consumir alimentos que ajudam a equilibrar a flora vaginal, como frutos silvestres, leites e iogurtes naturais
- Consumir dois a três litros de água por dia
- Usar roupas íntimas de algodão, que são mais confortáveis e que permitem a respiração vaginal
- Realizar exercícios de Kegel para fortalecer os músculos da pélvis
- Vigiar as características da urina, como cheiro, cor e quantidade
Complicações possíveis
A vaginose bacteriana não interfere no desenvolvimento do bebê, mas Renata aponta os riscos de ruptura prematura de membranas, ou seja, a bolsa pode estourar antes da hora e desencadear trabalho de parto prematuro. "Isso ocorre porque as bactérias possuem enzimas que podem 'quebrar' o tampão mucoso presente no colo uterino", esclarece.
Os bebês que sobrevivem à prematuridade podem enfrentar diversos problemas ao longo da vida, como:
- Paralisia cerebral
- Perda auditiva
- Problemas respiratórios
- Problemas visuais
- Dificuldade de aprendizado
Além disso, a vaginose aumenta o risco de mãe ter corioamnionite, uma inflamação aguda da membrana coriônica que pode trazer complicações obstétricas e problemas ao feto e neonatal.