Médica pediatra, segunda-secretária da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro da Câmara Técnica de Assessor...
iFormado pela Universidade Luterana do Brasil, no Rio Grande do Sul, é especializado em conteúdos de saúde
O que é Vacina contra dengue?
A vacina contra dengue foi desenvolvida para prevenir a infecção e os sintomas causados pelos quatro sorotipos do vírus, uma vez que não existem tratamentos específicos disponíveis para a dengue. No Brasil, a incidência da doença em 2023 é de 278 casos a cada 100 mil pessoas. A dengue é uma epidemia e está disseminada em mais de 100 países, o que representa metade da população mundial.
Tipos
Vacinas contra dengue no Brasil
Atualmente, há duas vacinas contra a dengue aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a Dengvaxia® (Sanofi Pasteur) e a Qdenga® (Takeda), sendo esta última autorizada no primeiro semestre de 2023.
As duas vacinas da dengue aprovadas no Brasil são produzidas com vírus vivos atenuados. Elas estimulam uma resposta imunológica robusta e não têm capacidade de provocar a doença, já que os vírus presentes na vacina estão enfraquecidos. Essas vacinas permitem que o organismo reconheça o agente causador da dengue e desenvolva estratégias eficazes para combatê-lo.
Até o momento, Dengvaxia® é a única vacina contra a dengue disponível para aplicação ao público. Destinada a pessoas de 9 a 45 anos de idade que já tiveram contato com o vírus alguma vez, a vacina é tetravalente, ou seja, protege contra quatro sorotipos de dengue em circulação: DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4.
A eficácia na população acima de nove anos é de, aproximadamente, 66% contra os quatro sorotipos de vírus da dengue. Isso significa que, em um grupo de 100 pessoas, 66 estariam protegidas contra a doença. Além disso, reduz os casos graves - aqueles que levam ao óbito, como a dengue hemorrágica - em 93% e os índices de hospitalizações em 80%.
A vacina contra dengue Qdenga®, aprovada no primeiro semestre de 2023, é indicada para a população entre 4 e 60 anos e deve chegar às clínicas particulares de vacinação até o fim de 2023. Com eficácia de 66,2% para indivíduos que não tiveram contato prévio com o vírus, ela deve ser aplicada por via subcutânea em esquema de duas doses com intervalos de três meses entre as aplicações.
Há, ainda, outra vacina em desenvolvimento, criada pelo Instituto Butantan. O imunizante mostrou eficácia de 79,6%, de acordo com os primeiros resultados do estudo clínico da fase 3.
Saiba mais: Entenda os testes da vacina contra dengue no Butantan
Existem quatro tipos de dengue: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A infecção por um deles dá proteção permanente para o mesmo sorotipo, mas imunidade parcial e temporária contra os outros três. Ou seja, a pessoa pode se infectar com os outros sorotipos.
Embora muitas vezes pareça pouco agressiva, a doença pode evoluir para a dengue hemorrágica e para a síndrome do choque da dengue, caracterizadas por sangramento e queda de pressão arterial, o que aumenta o risco de morte. A vacinação, portanto, é importante para prevenir casos graves.
Contraindicações
A vacina contra a dengue é contraindicada para:
- Pessoas imunodeprimidas
- Alergia grave (anafilaxia) a algum dos componentes da vacina
- Gestantes
- Mulheres que estão amamentando
- Pessoas com doença aguda, febril moderada ou grave em curso. Isso ocorre porque os vírus atenuados não causam doença em pessoas com o sistema imunológico em ordem, mas não foi testada em pessoas com o sistema de defesa mais deficiente
A vacina Dengvaxia® é contraindicada para pessoas que não tiveram contato com o vírus da dengue (soronegativos). A aplicação, no entanto, pode ser avaliada pelo médico em áreas consideradas endêmicas, ou seja, onde pelo menos 70% das pessoas sejam soropositivas para o vírus.
Já a vacina Qdenga® poderá ser aplicada tanto em quem já teve a doença como para quem nunca teve contato com o vírus.
A vacina contra a dengue previne outras doenças?
A vacina contra a dengue só é capaz de imunizar contra o vírus da dengue, não sendo eficaz, por exemplo, para outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como o Zika e a febre chikungunya, por exemplo.
Perguntas frequentes
Qual a importância da vacina da dengue?
Muito importante. O primeiro ponto a ser lembrado é que a vacina não causa a doença. Uma pessoa pode ter dengue até quatro vezes durante a vida, apresentando sintomas ou não, já que há quatro tipos diferentes de vírus que podem infectar em momentos diferentes. A segunda infecção, no entanto, pode ser mais grave que a primeira.
Outro aspecto importante é que 75% dos casos de dengue são assintomáticos, ou seja, a grande maioria das pessoas que é contaminada não sabe que teve contato com o vírus. Sendo assim, tanto do ponto de vista individual quanto de saúde pública, prevenir uma infecção subsequente em pessoas que já tiveram dengue pode desempenhar um papel importante na redução da carga social e econômica da doença.
Existem efeitos adversos da vacina?
É possível esperar efeitos colaterais comuns, como febre, reação no local em que foi aplicada, entre outros.
Onde encontrar a vacina da dengue?
Atualmente, apenas a vacina Dengvaxia® está disponível para aplicação no Brasil, e somente em clínicas e hospitais privados, uma vez que não faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e não se encontra na rede pública. A vacina Qdenga® deve chegar às clínicas em breve.
Qual o valor da vacina contra a dengue?
A vacina contra a dengue Dengvaxia® custa, em média, entre R$ 200 e R$ 300, sendo que o valor varia de acordo com o estabelecimento.
Saiba mais: Diferencie a dengue, zika e chikungunya
Grávida pode tomar a vacina contra dengue?
Gestantes não devem tomar a vacina contra a dengue por ser um imunizante com vírus atenuados, ou seja, com maior potencial (mesmo que teórico) de causar doenças em pessoas com o sistema imunológico mais deficiente.
Se eu tomar a vacina contra a dengue, ainda preciso me proteger do Aedes?
Sem dúvida! Não se deve esquecer que a fêmea do mosquito Aedes aegypti ainda transmite outras doenças, como Zika, chikungunya e febre amarela. A vacina contra a dengue só protege contra essa doença, e para prevenir as outras e suas complicações, é importante evitar a picada do mosquito ou, no caso da febre amarela, também se vacinar.
Referências
João Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP)
Sheila Homsani (CRM-RJ: 534.941), diretora médica da Sanofi Pasteur, divisão de vacinas
Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm). Disponível em: https://familia.sbim.org.br/
"Response to Dengue Fever - The Good, the Bad, and the Ugly" - The New England Journal of Medicine. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMcibr1005904
'Updated Questions and Answers related to the dengue vaccine Dengvaxia® and its use' - World Health Organization (WHO). Disponível em: https://www.who.int/immunization/diseases/dengue/q_and_a_dengue_vaccine_dengvaxia_use/en/
Key background documents for the meeting of the Strategic Advisory Group of Experts (SAGE) on Immunization. Disponível em: http://www.who.int/immunization/sage/meetings/2018/april/YB_SAGE_APR_2018_Final.pdf?ua=1.
"Dengue and Severe Dengue." - World Health Organization (WHO). Disponível em: www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/dengue-and-severe-dengue.
Shepard, Donald S, et al. "The Global Economic Burden of Dengue: a Systematic Analysis." The Lancet Infectious Diseases, vol. 16, no. 8, 2016, pp. 935?941., doi:10.1016/s1473-3099(16)00146-8.
Mizumoto, Kenji, et al. "On the Risk of Severe Dengue during Secondary Infection: A Systematic Review Coupled with Mathematical Modeling." The University of Tokyo, J Vector Borne Dis 51, 2014, pp. 153?164.
Mizumoto, Kenji, et al. "On the Risk of Severe Dengue during Secondary Infection: A Systematic Review Coupled with Mathematical Modeling." The University of Tokyo, J Vector Borne Dis 51, 2014, pp. 153?164.