Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iO alcoolismo geralmente representa um impacto profundo em diversos aspectos da vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,2% da população preenche critérios para abuso ou dependência de álcool, sendo 6,9% entre homens e 1,6% entre mulheres.
Nesse cenário, a família é uma peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo do álcool, como em casos em que o problema já está instalado.
Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento contra o alcoolismo se inicia na família, principalmente porque o usuário de álcool não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas traz consequências negativas ou está desmotivado para buscar ajuda.
Portanto, um acompanhamento específico e dirigido para os familiares é essencial para que compreendam a doença e seus desdobramentos e, posteriormente, recebam orientação adequada sobre a melhor forma de ajudar o ente querido e a si mesmo.
Ajuda familiar contra o alcoolismo
Além da Orientação (ou Aconselhamento) Familiar, cujo objetivo é fornecer informações sobre a substância, orientar a família sobre como lidar com a dependência e propiciar meios para que eles se sensibilizem com o problema, há outros dois modelos frequentemente aplicados:
- Terapia sistêmica: destinada à natureza interdependente do relacionamento familiar e como essas relações influenciam (positiva ou negativamente) a doença, sob a perspectiva da família como um sistema. O foco do tratamento é intervir nos complexos padrões de relações entre os membros da família a ponto de gerar mudanças positivas para todo o núcleo
- Terapia Cognitivo-Comportamental (familiar e de casal): considerando que comportamentos associados ao uso indevido de álcool podem ser reforçados por meio de interações familiares, essa abordagem tem como objetivos principais alterar comportamentos que atuam como gatilho para o uso de álcool, melhorar a comunicação entre os membros da família e fortalecer e ampliar habilidades sociais.
É importante alertar ainda que, muitas vezes, a família adoece junto ao dependente alcoólico, em um fenômeno chamado de codependência. Em termos gerais, ele é descrito como uma relação disfuncional entre o paciente e o familiar, na qual o familiar passa a se preocupar mais com o dependente do que consigo mesmo, sentindo-se dominado pelas suas necessidades e desejos.
Com o tempo, esse padrão de pensamentos e comportamentos pode se tornar compulsivo e prejudicial, como se a pessoa se tornasse dependente do dependente. Nesses casos, as próprias abordagens psicoterápicas citadas acima podem auxiliar o familiar. Contudo, existem grupos de ajuda mútua específicos para familiares, como é o caso do Codependentes Anônimos (CoDA) e os Grupos Familiares Al-Anon.
Em síntese, a família desempenha um papel importante no tratamento do alcoolismo, já que auxilia na aderência, permanência, na superação de dificuldades decorrentes do processo e no estabelecimento de um novo estilo de vida sem o uso do álcool.
Por último, a família também pode ajudar a equipe multidisciplinar, identificando mudanças comportamentais abruptas, como isolamento, irritabilidade, instabilidade do humor, prejuízo no desempenho do trabalho, que podem ser indicativos de complicações ou possíveis recaídas, as quais muitas vezes podem ser evitadas.