Médica especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Humana e diretora da EngravideMédica formada pela Pont...
iCom experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
O que é cesariana?
A cesariana é uma via de nascimento de bebês indicada quando há algum risco ou problema com a realização de um parto normal.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a cesárea é uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém apenas quando indicada por motivos médicos. Entenda a diferença entre parto normal e cesariana.
Preparo da paciente para a cesárea
Por se tratar de uma cirurgia, um parto cesariana necessita de alguns preparos. A maioria deles só pode ser feita em caso de cesáreas eletivas (isto é, as cesáreas que, por algum motivo maior, são marcadas por antecedência), já que, em uma cesárea de emergência, não há tempo. O preparo para um parto cesariana inclui:
- Jejum de 8 horas (de comida): garante uma segurança maior de não haver refluxo de alimento, vômitos e aspiração deste conteúdo na hora do parto
- Só beber água até 4 horas antes da cirurgia
- Retirar esmaltes das unhas (ou usar esmaltes transparentes): As extremidades dos dedos e a própria coloração do leito ungueal fornecem informação sobre a oxigenação da paciente
- Preferir refeições sem alimentos fermentativos: garante que as alças intestinais não estejam distendidas.
Passo a passo da cesariana
- Chegada da mãe na mesa cirúrgica: neste momento, a equipe de enfermagem providenciará acesso das veias para infusão do soro e das medicações durante a cirurgia e colherá informações do histórico da paciente que possam ser importantes para a cirurgia
- Anestesia: para que a anestesia seja aplicada, a paciente é posicionada sentada com as pernas cruzadas e relaxando bastante a coluna cervical, para que os espaços intervertebrais se abram. É aplicada a anestesia, geralmente a raquidiana, na lombar
- Limpeza: em seguida, ela será adequadamente posicionada e submetida a uma limpeza sistemática de sua barriga e órgão genital, pela equipe de enfermagem. Já anestesiada, será sondada, evitando assim qualquer desconforto com a passagem da sonda. Os médicos farão ainda mais uma limpeza, chamada de antissepsia e colocarão os campos cirúrgicos
- Abertura da pele: é feita uma incisão de cerca de 12 cm, que dará acesso ao tecido celular subcutâneo, também conhecido como tecido gorduroso e em seguida a uma tela fibrótica. O músculo reto-abdominal é cuidadosamente cortado na sequência, e depois um tecido fino, o peritônio. Assim, os médicos acessam o útero e fazem uma incisão delicada para ter acesso ao feto
- Retirada do bebê: o bebê é retirado do útero da mãe
- Corte do cordão umbilical: após a retirada do feto, o obstetra aguarda cessarem os batimentos deste cordão umbilical e clampeia o cordão
- Apresentação do bebê à mãe
- Avaliação da saúde do feto
- Limpeza da cavidade uterina e retirada da placenta
- Fechamento dos tecidos cortados na cirurgia: sutura (costura dos tecidos) dos planos anteriormente abertos, um a um, iniciando pelo útero, terminando na pele
- Curativo: a equipe faz um curativo no corte da pele.
Recuperação da cesariana
O parto cesárea é uma cirurgia de grande porte e sua recuperação não é fácil. Logo após a cirurgia, a mulher fica 2 a 4 horas na sala de recuperação pós anestésica, até recuperar-se da anestesia.
Cerca de 8 a 12 horas depois, a sonda da bexiga é retirada e é recomendado levantar pela primeira vez. A mulher fica internada de 2 a 4 dias após o parto, no geral.
A intensidade e duração das dores, desconfortos e limitações da paciente, assim como o tempo total de recuperação da cesária, varia de mulher para mulher.
Para que a recuperação da cesárea aconteça de forma mais rápida, é recomendado por alguns médicos o uso precoce da cinta pós-parto. Ela ajuda nos movimentos e evita o acúmulo de líquido na região da cicatriz.
O inchaço nos pés e pernas é comum devido ao acúmulo de líquidos que ocorre na gravidez. Para recuperar-se, recomenda-se hidratação e caminhadas leves.
A ingestão de água deve ser de 2 a 3 litros por dia e a alimentação deve ser rica em proteína.
"O organismo precisa de 6 meses para se recuperar por completo, mas em 30 dias a maioria das atividades já podem ser retomadas", diz a ginecologista obstetra Alessandra Fernandez.
Para quem é indicado
O parto cesariana é indicado apenas em casos especiais, em que ele é a alternativa secundária para um parto que deveria ser normal, mas que a avaliação do obstetra julgou haver nele mais riscos que benefícios.
Isso geralmente ocorre em 15% dos partos. Estes riscos são detectados principalmente durante o pré-natal.
Segundo o Ministério da Saúde, a indicação absoluta de parto cesariana é feita para os seguintes casos:
- Placenta prévia: Nos casos de placenta prévia centro-total ou centro-parcial, é recomendado que seja feita um parto cesáreo. A placenta prévia é a implantação da placenta na porção mais baixa da cavidade uterina
- Placenta acreta: Em gestantes com acretismo placentário (condição na qual a placenta se implanta e adere ao músculo uterino, impedindo sua separação do útero no pós-parto, tanto vaginal quanto cesariano) é recomendado programar a operação cesariana
- Feto pélvico: O parto cesariana é indicado para os bebês que estão com apresentação pélvica (ou seja, "sentados", ao invés de estar com a cabeça em direção ao canal vaginal) a partir da 36ª semana. Neste caso, o Ministério da Saúde recomenda que os profissionais tentem um procedimento chamado Versão Cefálica Externa. Se não apresentar resultados, recomendam a cesárea. No entanto, a decisão da mãe deve ser levada em conta, já que é possível fazer um parto normal assim, apesar de ser mais arriscado
- Mães infectadas pelo vírus HIV: neste caso, cesárea deve ser feita na 38ª semana, a fim de se evitar tanto a prematuridade quanto o trabalho de parto e a ruptura prematura das membranas
- Mães infectadas pelo vírus da herpes simples: A operação cesariana é recomendada em mulheres que tenham apresentado infecção primária do vírus Herpes simples durante o terceiro trimestre da gestação, e em caso de infecção ativa no momento do parto.
Indicações errôneas comuns de parto cesárea:
Alguns problemas de saúde ou condições não são indicações necessárias de parto cesariana, apesar de se ouvir falar que eles sejam. Segundo o Ministério da Saúde, estes casos são:
- Obesidade da mãe
- Feto prematuro (se estiver em apresentação cefálica, com a cabeça em direção ao canal vaginal)
- Feto pequeno para a idade gestacional
- Infecção pelo vírus da Hepatite B ou C (o parto cesariana não é uma forma de impedir a transmissão vertical).
Além disso, o Ministério da Saúde estabeleceu que a utilização de pelvimetria clínica (medição da dilatação pelve) não é recomendada para dizer se há falha de progressão do trabalho de parto ou definir a forma de nascimento (parto normal ou cesáreo).
Cesárea dói?
Durante a cesárea, a mulher poderá sentir movimentos e pressões, mas não dor. Há um desconforto quando os profissionais fazem a higienização da cavidade abdominal, mas é passageiro.
No entanto, por se tratar de uma grande cirurgia, a recuperação necessita de medicação analgésica forte para que a mulher não sinta tantas dores.
Riscos do parto cesariana para a mãe
O parto cesariana é uma cirurgia de grande porte. Por isso, apresenta riscos. Entre eles, estão:
- Problemas decorrentes da anestesia (choque anafilático, queda brusca de pressão, e aspiração para o pulmão de comida/conteúdo do estômago se não tiver em jejum)
- Atonia uterina, ou seja, de que o útero não consiga contrair-se adequadamente e suficientemente a ponto de garantir um estancamento do sangramento
- Hemorragias, sangramento aumentado e até perda do útero por hemorragia uterina
- Embolia pulmonar ou embolia amniótica
- Infecções, principalmente nas mulheres que já têm alguma doença, defeitos da imunidade ou defesa do organismo, e nas que possuem mais tecido gorduroso
- Trombose
- Aderências de alças intestinais e bexiga no útero
- Dor no pós operatório, que leva a dificuldade de amamentação e cuidados com o bebê
- Má-cicatrização e quelóides
A longo prazo, o parto cesariana apresenta outros riscos elevados para a mãe, em uma próxima gestação:
- Rompimento uterino em próxima gestação
- Placenta prévia, que é implantação da placenta na porção mais baixa da cavidade uterina
- Placenta acreta, quando a placenta fica aderida no útero após o parto, podendo causar hemorragia e perda do útero
- Maior chance de ter um próximo parto cesáreo de novo.
Riscos do parto cesariana para o bebê
Um parto cesariana também apresenta riscos para o bebê. Eles são:
- Nascimento prematuro, se o nascimento foi realizado antes de completar o termo (tempo certo do bebê nascer, que deve ser após 39 semanas)
- Desconforto respiratório, com dificuldade de respirar ao nascer.
De acordo com Renata de Camargo Menezes, obstetra e especialista em medicina reprodutiva, diretora da Engravide e membro das Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e de Reprodução Assistida, os riscos do parto cesariana para o bebê estão atrelados à não entrada em trabalho de parto.
"Se uma criança passou pelo trabalho de parto, foi porque o organismo materno sinalizou que estava na hora de nascer. Muitos hormônios e substâncias moderam o trabalho de parto e todos contribuem para terminar o amadurecimento orgânico do recém-nascido", diz a obstetra.
Por isso, um parto cesariana que acontece sem que o bebê entre em trabalho de parto aumenta as chances de problemas respiratórios, alergias, intolerâncias, disfunções do aparelho digestório, entre outros.
Cesárea eletiva por opção
Apesar de apresentar mais riscos à gestante e ao bebê do que um parto normal em uma gravidez saudável, uma operação cesariana pode ser solicitada pela mãe.
Segundo resolução do Conselho Federal de Medicina, isso pode acontecer após a mãe ter recebido todas as informações sobre benefícios e riscos das duas vias de nascimento.
Se mesmo assim a mulher optar por uma cesárea, deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido registrando a opção. A cesárea eletiva, no entanto, deve acontecer só a partir da 39ª semana de gestação.
Caso o médico não concorde com a decisão, tem o direito de encaminhá-la a outro profissional.
No estado de São Paulo foi aprovada uma lei que permite cesárea por opção.
Cesárea humanizada
A cesárea é uma via de nascimento que pode ser humanizada. Ela deve ser opção apenas em situações em que seja estritamente necessária, o que é o caso de 10% a 15% dos nascimentos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Quando isso acontece, há algumas recomendações para uma assistência humanizada a esse parto, de acordo com as especialistas consultadas na nossa matéria sobre parto humanizado:
- não amarrar os braços da mãe
- baixar a luz da sala de cirurgia
- abaixar o campo cirúrgico na hora do nascimento para que ela veja
- corte tardio do cordão umbilical
- aumentar a temperatura do ar condicionado para que não esteja tão frio quando o bebê nascer
- trilha sonora da escolha da mãe.
Amamentação após a cesariana
Após um parto normal, a descida do leite (apojadura) acontece entre 48 e 72 horas, tempo necessário para que o mecanismo hormonal, propiciado pela sucção, promova o aumento harmônico da prolactina e da ocitocina. Até então, o bebê suga e se abastece com o colostro.
No entanto, de acordo com o ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum, diferentemente do parto normal, quando o bebê nasce através de uma cesariana, o processo pode não seguir assim. Principalmente quando ainda não houve o início do trabalho de parto e, portanto, a placenta ainda não está madura, a harmonização hormonal se faz mais lentamente e a apojadura pode demorar mais um ou dois dias.
Neste período, desde que a criança esteja em boas condições, nada deve ser oferecido como complemento (nem água, chá, leite).
É recomendado para mulheres submetidas a cesariana:
- Nas primeiras 24 horas amamentem deitadas com o ventre para cima
- No segundo dia, fiquem de lado com o recém-nascido também de lado, com a barriguinha encostada na barriga da mãe, procurando deixar que mãe e filho se entreolhem
- A partir do 3º dia podem oferecer o seio sentadas, tendo um bom apoio para os braços, com travesseiros ou cobertor dobrado debaixo do bebê e/ou nas costas da mãe, ou acomodado em posição invertida sobre um travesseiro.
Fontes:
- Alessandra Fernandez, médica ginecologista e obstetra (CRM 92.223)
- Renata de Camargo Menezes, médica ginecologista, obstetra e especialista em medicina reprodutiva (CRM 99227), diretora da Engravide e membro das Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e de Reprodução Assistida.
- Organização Mundial da Saúde: Declaração sobre Taxas de Cesáreas
- Ministério da Saúde: Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana Conselho Federal de Medicina: Resolução sobre cesáreas eletivas.