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Para fugir da lei seca, muitas pessoas estão usando um remédio chamado Metadoxil, normalmente usado para o tratamento do alcoolismo e de alterações no fígado. O medicamento é composto por pidolato de piridoxina (um derivado da vitamina B6) e carboxilato pirrolidona (ácido que atua no sistema neurológico). Por ser de tarja vermelha, o Metadoxil só pode ser vendido sob prescrição e orientação médica. Entretanto, o remédio está sendo consumido em altas quantidades - até seis pílulas de uma vez - com a intenção de enganar o bafômetro, aparelho que mede o nível de álcool no sangue, ou para reduzir os efeitos da bebida. Conversamos com especialistas no assunto e descobrimos como o Metadoxil age em nosso corpo e quais os riscos do consumo sem indicação:
Para quais casos ele é indicado?
O Metadoxil é usado para tratar intoxicações agudas e crônicas do fígado. "Quando o indivíduo alcoolizado precisa ser hospitalizado, uma das medidas para reverter o quadro é o uso do medicamento", afirma a hepatologista Edna. "Mas devemos lembrar que é apenas parte do tratamento, que envolve procedimentos como hidratação e reposição de glicose e vitaminas", completa. No caso da intoxicação crônica, como a esteatose hepática, ou quando a pessoa tem o vício e precisa parar de beber, uma das alternativas é o Metadoxil. "Ele ajuda o individuo a manter a abstinência, mas esse não é o único medicamento com essa função e nem o mais eficaz para esse caso." O Metadoxil é normalmente ingerido em torno de quatro comprimidos por dia em horários determinados, durante 60 a 90 dias.
Qual a ação do medicamento em nosso corpo?
Quando ingerimos bebidas alcoólicas, mais de 90% do álcool vai para o nosso fígado, que irá metabolizar a substância, ou seja, absorver o que é aproveitável e excretar o que não é. "Os resultados dessa metabolização são basicamente água, gás carbônico e muitos corpos tóxicos ao organismo, que podem causar alterações, como a esteatose hepática (fígado gorduroso)", explica a hepatologista Edna Strauss, da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Ao exagerar na bebida alcoólica, nosso fígado produz mais corpos tóxicos do que pode suportar, e é nesse cenário que o Metadoxil começa a agir. "O medicamento irá eliminar essas substâncias tóxicas e repor nutrientes que são importantes para o fígado funcionar corretamente", diz a hepatologista.
Ele realmente elimina o álcool do sangue?
Não. "É comprovado que o Metadoxil metaboliza o álcool no fígado mais rapidamente, o que causa uma leve diminuição de suas quantidades no sangue, mas de forma alguma reduziria a zero", diz o endocrinologista e gastroenterologista Joaquim Melo, presidente da Associação de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD). De acordo com o especialista, o medicamento pode até retardar os efeitos da embriaguez, deixando a pessoa com a sensação de que não está tão bêbada quanto de costume. "No entanto, isso não é o suficiente para que conste no bafômetro que ele não bebeu", completa.
Ele impede uma pessoa de ficar embriagada?
Não. O fígado metaboliza em média uma dose de bebida alcoólica por hora - o equivalente a uma lata de cerveja (360ml), uma taça de vinho (100ml) ou de destilado (40ml) - e mesmo esse tempo pode variar de pessoa para pessoa ou conforme outros fatores, como a ingestão de líquidos e alimentos. "Ao tomar o Metadoxil, o fígado começa a trabalhar com maior eficiência e impede uma intoxicação alcoólica imediata, efeito parecido com o de beber sem estar com o estômago vazio", explica Joaquim Melo. Esse efeito pode causar uma impressão de maior sobriedade, evitando num primeiro momento graves alterações fisiológicas. Mas, segundo o presidente da Abead, ele não é capaz de manter sóbria uma pessoa que ingeriu álcool.
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Quais os efeitos colaterais do uso inadequado da medicação?
O uso indiscriminado do Metadoxil pode causar sintomas como alterações gástricas (gastrite, azia) mal estar, taquicardia e convulsões. Mulheres grávidas ou amamentando não podem ingerir a medicação, e pessoas sensíveis aos componentes do remédio podem sofrer as consequências mais graves. Entretanto, os especialistas afirmam que no geral a pessoa sentirá apenas um desconforto estomacal.