As hepatites podem ser causadas por vírus hepatotróficos (principalmente A, B, C, D e E), álcool, medicamentos ou outras substâncias tóxicas, além das doenças metabólicas e do sistema imunológico. Os vírus A, B, C, D e E da hepatite são vírus completamente distintos, cada um com características diferentes, não a mesma com graus progressivos de gravidade.
As hepatites virais são adquiridas principalmente pelo contato com fezes contaminadas (geralmente através de água e alimentos) ou com sangue (diretamente, como nas transfusões, relação sexual, ou indiretamente, compartilhando agulhas ou utilizando instrumentos cirúrgicos, odontológicos, de manicure ou de tatuagem não esterilizados).
Se a doença for de início abrupto, geralmente causada por uma infecção, chamamos de hepatite aguda, onde há destruição intensa de células do fígado, podendo levar a febre, icterícia (amarelão na pele e olhos), náuseas, desconforto abdominal e falta de apetite. A icterícia (amarelão), náuseas, febre e desconforto no abdome são os mais característicos da hepatite aguda sintomática, devendo ser avaliados por um médico.
Em adultos e, especialmente, em gestantes e portadores de outras doenças do fígado, o risco de complicações é mais alto. A maioria das hepatites agudas, no entanto, é mais leve e pode causar apenas um mal estar e febre baixa, resolvendo-se em poucos dias e a pessoa acometida nem chega a descobrir que teve uma hepatite.
Alguns casos, felizmente raros, podem levar a todos os sintomas acima e ainda ao aparecimento de sonolência, confusão mental e sangramentos com facilidade, o que caracterizam uma hepatite aguda grave com falência do fígado e devem ser submetidos a tratamento intensivo, com a possibilidade de precisar de transplante do fígado. O quadro súbito de icterícia, acompanhada de sonolência, confusão mental e sangramentos caracteriza uma hepatite grave e deve ter avaliação médica de emergência.
Felizmente, a não ser em casos onde a destruição do fígado é maciça, assim que a causa da hepatite é eliminada o órgão utiliza a sua formidável capacidade de regeneração. O funcionamento do órgão retorna em poucas semanas, com normalização dos exames laboratoriais em até 6 meses, na maioria das vezes sem a necessidade de qualquer tratamento. A principal causa de hepatite aguda sintomática no Brasil é a causada pelo vírus da hepatite A. Outras causas incluem a hepatite tóxica por medicamentos e álcool, a causada pelo vírus da hepatite B e menos freqüentemente pelos vírus da dengue e da febre amarela.
Algumas causas de hepatite aguda, no entanto, não são facilmente eliminadas do organismo e persistem por mais de 6 meses. Isso não ocorre na hepatite A, mas ocorre em cerca de 5% das hepatites B, em 70 a 85% das hepatites C e em quase a totalidade das hepatites causadas pelo uso crônico de álcool, por doenças metabólicas como a esteato-hepatite não alcoólica, doença de Wilson, deficiência de alfa-1-antitripsina e hemocromatose e nas doenças auto-imunes, como a hepatite autoimune e cirrose biliar primária.
Na hepatite crônica, que é a persistência da inflamação por mais de 6 meses, a destruição das células do fígado é menos intensa e geralmente não causa sintomas, passando despercebida. No entanto, leva à formação de cicatrizes (fibrose) no interior do fígado, que vão aumentando em quantidade com o passar dos anos, até levar a deformação do órgão e comprometimento da sua função, o que chamamos de cirrose.
Profissionais da área da saúde, usuários de drogas endovenosas, pacientes em hemodiálise, pessoas com múltiplos parceiros sexuais, com outros fatores de risco e com antecedente de hepatite aguda sintomática (se não houve diagnóstico confirmado de hepatite A) devem realizar exames periódicos para investigação de hepatite.
Pela ausência de quaisquer sintomas na grande maioria dos casos de hepatite crônica, que por sua vez em sua grande maioria são precedidos de uma hepatite aguda assintomática, é comum que o diagnóstico da doença só ocorra tardiamente, no estágio de cirrose, quando as opções de tratamento são mais limitadas. Felizmente, a realização de exames de rotina, os exames pré-natais e a investigação de pessoas com maior risco para o surgimento de hepatite têm aumentado o diagnóstico precoce das hepatites crônicas, o que permite o tratamento adequado para impedir ou retardar a progressão da doença.
A prevenção da complicação das hepatites, especialmente a cirrose, está baseada na prevenção da infecção, através de medidas higiênico-sanitárias (saneamento básico, esterilização de materiais, utilização de preservativos, utilização de agulhas e seringas descartáveis e teste de sangue doado), vacinação (disponível contra as hepatites A e B), tratamento do alcoolismo e abuso do álcool e no diagnóstico precoce de pessoas com maior risco de adquirirem a infecção ou de desenvolverem doenças metabólicas (como obesos, diabéticos e pessoas com histórico de doença hepática não infecciosa e não alcoólica na família).
Você costuma fazer exames de rotina ou só vai ao médico quando percebe algo errado?