Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iA maioria das pessoas planeja ter um filho em algum momento da vida. E embora conceber uma criança possa parecer o acontecimento mais simples e fácil do mundo, não é o que acontece para muitos casais. Um casal sem nenhum fator limitante para engravidar, tendo relações sexuais regulares, tem cerca de 25% de chance de engravidar a cada mês. Após o período de um ano, 85% conseguem obter uma gravidez, mas o número de casais que não tem sucesso tem aumentado nos últimos anos.
A dificuldade para ter filhos pode estar relacionada a diversas causas. Estresse, excesso de peso e endometriose, por exemplo, podem desencadear a infertilidade, que afeta aproximadamente 20% dos casais em idade reprodutiva. E a infertilidade só pode ser constatada pelo casal após um ano de tentativas e a gravidez não acontecer sem qualquer uso de métodos anticoncepcionais. Nesses casos, a melhor alternativa é buscar ajuda médica para descobrir as suas causas.
Em geral, os estudos recomendam procurar um especialista após esse período de 12 meses de tentativas sem sucesso, mas mulheres acima dos 37 anos não devem esperar um ano para procurar ajuda. A idade é um fator decisivo para a fertilidade, pois os ovários seguem o ciclo biológico e seu envelhecimento diminui as chances de gravidez.
Saiba mais: Inseminação artificial: como funciona a fertilização
Avaliação de infertilidade
Todos os pacientes que enfrentam dificuldades que envolvem sua fertilidade devem passar, inicialmente, por uma avaliação médica, que possibilita fazer um diagnóstico preciso e definir qual é a alternativa de tratamento mais indicada para aquele caso.
É importante deixar claro que o diagnóstico da infertilidade é conjugal e não só da mulher ou do homem. Por essa razão, no processo de avaliação ambos passam por uma consulta médica. Além de exames mais detalhados, que serão solicitados conforme os achados dessa consulta médica, o casal deverá fazer uma bateria de exames, chamada de pesquisa básica. Os exames solicitados nessa pesquisa são: espermograma; ultrassonografia pélvica e transvaginal; histerossalpingografia; e exames de sangue, como de tipagem sanguínea, sorologias, hemograma, glicemia de jejum, hormônios da tireoide.
Em muitos casos de infertilidade as causas podem ter tratamentos clínicos ou cirúrgicos. Nos casos mais complexos, a indicação pode incluir as técnicas de reprodução assistida como inseminação artificial, fertilização in vitro (FIV) e injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI).
No Brasil, o número de casais que procuram clínicas especializadas em Reprodução Assistida vem aumentando consideravelmente. Esse é o nome que se dá para os tratamentos oferecidos a casais com problemas de infertilidade, desde os mais simples, que chamamos de baixa complexidade, como a inseminação intrauterina, até os mais complexos como a fertilização in vitro, mais conhecida como bebê de proveta.
Conhecendo os tratamentos
Na reprodução assistida pode-se lançar mão de técnicas simples, como a escolha dos melhores espermatozoides pelo processamento seminal até a micromanipulação de gametas e pré-embriões, biopsia de embrião, diagnóstico genético pré-implantacional, monitoragem continua dos pré-embriões no laboratório e várias outras que surgem a cada dia. Antes de se indicar a reprodução assistida, deve-se ter a certeza de que ela a melhor forma de tratamento para o casal, por ser onerosa e estressante.
Saiba mais sobre as técnicas:
Inseminação artificial - permite a colocação dos espermatozoides (contidos no líquido seminal ou sêmen do homem) diretamente no útero da mulher, aumentando as chances de encontro entre essas células masculinas e o óvulo feminino. O sêmen pode ser depositado no fundo da vagina ou diretamente intraútero. Para tornar-se mais receptiva aos espermatozoides, a mulher passa por um tratamento medicamentoso que induz a sua ovulação.
Fertilização in vitro (FIV) - diferentemente da inseminação artificial, o encontro entre o óvulo e o espermatozoide neste caso acontece fora do corpo da mulher, no laboratório, e o embrião resultante é colocado no útero para que possa se desenvolver de forma saudável. Também neste caso é importante preparar a mulher para receber o embrião e promover o seu desenvolvimento.
Injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) - quando os espermatozoides estão "fracos" ou há risco de não ocorrer a fertilização "espontânea" in vitro, eles são colocados nos óvulos graças a um moderno microscópio (micromanipulador), provocando a fertilização. A técnica foi idealizada para casais cujo problema é com o homem, mas hoje ela é amplamente utilizada. As demais etapas são as mesmas da FIV.
Quando procurar ajuda?
O casal deve procurar um especialista quando se encontrar entre quaisquer das seguintes categorias:
- Não conseguiram engravidar após um ano de vida sexual ativa sem utilizar métodos contraceptivos
- Mulheres que têm ciclo menstrual irregular com evidências de ovulações irregulares ou ausentes
- Mulheres que têm um histórico de três ou mais abortamentos
- Homens com espermatozoides em número baixo ou com má formação
- Mulheres com mais de 35 anos
- Mulheres com histórico prévio de infecção pélvica
- Pacientes que necessitam de microcirurgia, tratamento para endometriose ou problemas tubários.