Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iA obesidade é hoje a epidemia de maior crescimento estável mundial. Além das questões óbvias relacionadas à infraestrutura das cidades, que não comporta esses indivíduos - como transporte público e banheiro adaptados - a estrutura relacionada à saúde também não permite que eles tenham acesso a todos os procedimentos. Como exemplo, podemos citar a maioria das esteiras ergométricas e mesas de hemodinâmica disponíveis, que toleram até 130 kg. A tomografia computadorizada também tem limite de peso e tamanho do paciente, levando os indivíduos que não estão aptos a realização do exame completá-lo em tomógrafos veterinários, habituados a pacientes de grande peso. Isso ainda falando da questão estrutural em saúde. E quando migramos para o microuniverso do paciente?
A obesidade do indivíduo
De uma forma acadêmica, é importante diferenciar obesidade de sobrepeso. Uma forma simples de diferenciar os dois é pelo índice de massa corporal (IMC). Esse é o peso em kg dividido pela altura em metros elevada ao quadrado. Um resultado entre 18,5 e 25 é normal. Entre 25 e 29,9 é sobrepeso. 30 ou mais é obesidade. Estudos dizem que IMC maior que 25 aumentam as chances de doenças, e acima de 30 já quase garante a associação da obesidade com pelo uma dessas condições: hipertensão, diabetes ou pré-diabetes e apneia do sono.
Mas como diferenciar um halterofilista de um obeso? Já que o peso e a altura podem ser iguais. Nesse cenário, a medida da circunferência abdominal vai ajudar e muito. Uma fita métrica pode ser utilizada para medir o contorno do abdome com o indivíduo em expiração (não forçada), na altura do umbigo. O normal eh abaixo de 82 cm em mulheres e abaixo de 95 cm em homens.
Mas ainda sim temos mais algumas coisas a considerar. Orientais, por exemplo tem maior tendência ao aumento de gordura visceral, que significa que a pessoa tem mais tendência a guardar gordura em locais nobres, como vasos sanguíneos. Isso quer dizer que a barriguinha de chope pode estar escondida nos asiáticos, como nas coronárias, como nas carótidas, como na aorta. E não só nos asiáticos: as mulheres e os idosos também guardam maior risco de estocar gordurinhas nesses lugares.
Entendendo a obesidade de cada um
O aumento de peso deve ser tratado como problema sério. Alguns estudos nos fazem crer que uma pessoa com sobrepeso aos 20 anos de idade vai perder um ano de vida, enquanto um obeso da mesma idade vai perder cerca de quatro anos de vida. Olhando apenas os obesos, obesidade moderada (35-40 de IMC) rouba cerca de dois a quatro anos de vida, enquanto a obesidade grave rouba de oito a 10 anos!
Que a obesidade pode reduzir a expectativa de vida, muitos já sabem. Então, o que podemos acrescentar a esse quadro dramático? Muito! Um exercício importante que deve ser feito para começar a tratar a obesidade é dar um passo para trás e ver se existe algum tipo de condição passada que possa estar afetando a perda ou o ganho de peso dessa pessoa. Muitos não fazem isso (eu também não fiz por muito tempo), mas é essencial para entender a condição daquela pessoa especificamente e o que pode ser feito para trata-la. Veja alguns exemplos:
- A apneia do sono pode alterar toda a fisiologia do armazenamento de calorias durante a noite, bagunçar o ciclo diário de cortisol e atrapalhar a redução do peso. Pessoas com obesidade se beneficiam ainda mais do tratamento por conta disso
- Existem também doenças que limitam a locomoção, como artrose ou lesões em joelhos pelo desgaste, que impedem uma orientação para caminhadas. Nesse caso, o melhor a fazer é orientar atividades na agua, onde o empuxo reduz a carga, ou exercícios que podem ser feitos deitado, como abdominais ou bicicleta
- Existem medicações atrapalhando a perda de peso? Alguns remédios tem como efeito colateral ganho de peso, como antidepressivos tricíclicos, propranolol e lítio. Uma decisão a se tomar é entender se essas medicações não essenciais ou podem ser substituídas, para não atrapalharem o tratamento da obesidade
- Parou de fumar recentemente? Parabéns, mas é bom lembrar que o primeiro ano após parar de fumar costuma estar associado a aumento de peso. Previna-se já iniciando a substituição do tabagismo por alguma atividade física
- Tem relato de "efeito sanfona", ou seja, variações de peso na tentativa de emagrecer que te fazem engordar novamente? Nesse caso, as estratégias em longo prazo, com maior enfoque em reeducação alimentar, tem mais efeito que dietas dramáticas
- Existem sinais de depressão? Depressão e distúrbios alimentares estão fortemente ligados. Algumas perguntas simples podem direcionar a pessoa para uma avaliação mais profunda por um psicólogo ou psiquiatra. Você se ente cansado durante a maior parte do dia? Triste? Problemas para dormir ou sono o tempo todo? Sensação de incapacidade ou inutilidade ou ainda culpa? Falta de concentração ou memoria? Pensamentos em morte ou suicídio? Nesses casos, a abordagem por uma equipe multiprofissional é essencial.
Hora de mudar
A pessoa precisa estar preparada para mudar. Então pense:
- O quão importante é para você a mudança?
- Você acha que consegue?
- Existe algum obstáculo impedindo isso?
- Como você acha que sua família e amigos vão encarar isso? Eles vão entender e ajudar?
Saiba mais: Hábitos para combater a obesidade infantil
Responder a essas perguntas ajuda a preparar o terreno e entender o campo de batalha. É bom lembrar que a perder 2kg já reduz pressão arterial e melhora apneia do sono, perder 5kg permite melhor controle de glicemia e redução do pré-diabetes, e perder 6 kg reduz dores articulares em joelhos. Esse cenário todo também ajuda a reduzir o risco de morte, AVC e infarto.