Formada na Escola Paulista de Medicina - UNIFESP, Residência médica em Gastroenterologia no Hospital Heliópolis 1987. Me...
iO câncer de fígado pode ser primário ou secundário. O câncer primário é o tumor que se origina no fígado, como o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular (CHC), que acomete as células do fígado (hepatócitos); o colangiocarcinoma, que acomete os ductos biliares dentro do fígado; o angiossarcoma, tumor de vaso sanguíneo; e o hepatoblastoma, que acomete crianças. O secundário é o metastático, ou seja, originado em outro órgão e que atinge também o fígado.
O hepatocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de fígado, surge por uma multiplicação desordenada dos hepatócitos decorrente de alteração no seu DNA, ou a partir de um nódulo de regeneração decorrente do processo de multiplicação das células após agressão, que evolui com o aparecimento de displasia (alteração na maturação e formato das células) e depois para células cancerosas propriamente ditas.
Apesar de alguns fatores ambientais aumentarem o risco de desenvolver o CHC (por exemplo, exposição a certos produtos químicos e ingestão de alimentos com aflatoxinas), ele raramente ocorre em pessoas sadias, geralmente acomete o fígado com doença avançada, ou seja, com cirrose.
Uma das grandes causas de cirrose é a ingesta abusiva de bebidas alcoólicas, mas outras doenças também podem causar cirrose, como as hepatites virais B e C, a hemocromatose (doença por excesso de ferro no fígado) e esteato-hepatite não alcoólica, que é decorrente de acúmulo de gordura no fígado, geralmente causada por distúrbios metabólicos, como obesidade, diabetes, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos.
Hepatite x Câncer no Fígado
As hepatites virais B e C são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de fígado, tanto por uma ação direta do vírus, como porque elas podem evoluir para cirrose, onde o risco de ocorrer um câncer é maior. A hepatite A não causa infecção crônica e não está associado ao câncer de fígado.
No caso da hepatite B, como o vírus é um DNA, pode ocorrer integração do seu material genético ao do hepatócito do doente, causando alteração no DNA da pessoa. Essa fusão de material genético pode causar mutações que levam ao desenvolvimento de câncer de fígado. As pessoas infectadas pelo vírus B tem 100 vezes mais chance de desenvolver câncer de fígado.
A hepatite C é responsável por 54% dos casos deste câncer no Brasil, os fatores virológicos relacionados ao desenvolvimento do câncer ainda não estão bem esclarecidos. Pesquisas detectaram a presença de uma mutação genética ligada à ocorrência de câncer, sua presença pode aumentar em 70% a incidência de câncer de fígado em portadores da hepatite C crônica. Cerca de 4% dos pacientes cirróticos com Hepatite C evoluem para câncer ao ano .
No mundo a incidência de câncer no fígado é de aproximadamente 560.000 novos casos ao ano, cerca de 80% deles apresentam hepatite viral crônica, pelos vírus B ou C. Mais comum em países com maior incidência de fatores de risco, como na Ásia pela alta incidência de hepatite B. No entanto, devido a grande incidência de hepatite C nas últimas décadas e de esteato-hepatite não alcoólica (associada à obesidade), a incidência está aumentando no Ocidente.
O hepatocarcinoma é um tumor altamente maligno, que dobra o seu volume a cada quatro a seis meses em média. Daí a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce, quando este ainda tem boas opções de tratamento e chance de cura.
Foco na prevenção!
A prevenção inicialmente é baseada em cuidados para evitar a transmissão da hepatite, ou seja, cuidados nos bancos de sangue, testes para hepatite nos doadores, cuidados no manuseio de materiais pérfuro-cortantes como agulhas, na esterelização de materiais de dentistas, de manicures, uso de preservativos, para evitar transmissão sexual.
Na prevenção da hepatite B a vacinação tem um papel muito importante, há pouco mais de 10 anos a hepatite B destacava-se entre os fatores que levam ao câncer de fígado, porém desde que se tornou possível a vacinação e prevenção da hepatite B, observou-se uma diminuição da prevalência do câncer associado ao vírus B. Essa foi a primeira vacina contra um tipo de câncer! Ainda não existe vacina para a hepatite C.
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Outras formas de prevenção do câncer seriam: ter hábitos de vida e alimentares saudáveis, evitar alcoolismo, além da identificação e tratamento dos pacientes com hepatite B e C.
O tratamento das hepatites pode evitar sua evolução para a cirrose e dessa forma reduzir o risco de câncer no fígado. Além disso, os portadores de hepatite crônica B e C, assim como os portadores de cirrose de outras etiologias, devem fazer seguimento clínico frequente, muito importante para o diagnóstico precoce do câncer, quando ele ainda pode ser tratado e às vezes curado. Esses pacientes devem realizar periodicamente uma ultrassonografia abdominal para avaliação do fígado e detecção de nódulos, e realizar a dosagem de alfafetoproteína sérica, que é uma substância produzida em 40% a 70% dos fígados acometidos pelo câncer, mas não pelo fígado normal. A alfafetoproteína sérica se apresenta elevada em 75% a 90% dos pacientes com câncer no fígado. Com isso pode-se diagnosticar o câncer em uma fase inicial.