Formado em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em 2013, ingressou na Universidade Estadual de Campi...
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O que é Câncer de fígado?
O câncer de fígado nada mais é do que uma tumoração maligna nesse órgão. De acordo com o cirurgião oncológico Rafael Leite Nunes, ele pode ser câncer primário do fígado ou secundário, caso em que o fígado se torna foco de doença metastática que se originou em outras partes do corpo.
A maior glândula do corpo humano, o fígado tem extrema importância para o funcionamento do organismo. Portanto, qualquer alteração, como o câncer, por exemplo, pode causar graves riscos ao paciente, sendo o rápido diagnóstico e o tratamento de extrema importância.
Tipos
O câncer de fígado primário mais comum, segundo o especialista é o hepatocarcinoma, ou carcinoma hepatocelular. Ele ocorre em mais de 80% dos casos e pode estar relacionado à cirrose ou ao vírus da hepatite B e C.
No entanto, existem outros tipos de câncer de fígado, sendo os demais:
- Carcinoma fibrolamelar: mais raro, esse tipo geralmente ocorre em adultos jovens e não tem associação com cirrose pré-existente, vírus das hepatites B e C (HBV e HCV), ou outros fatores de risco conhecidos. Possui uma maior taxa de tempo de vida após a ressecção
- Colangiocarcinoma: ocorre nos ductos biliares e é comum na China, com possível relação às infecções do fígado por fascíola hepática (verme que pode acidentalmente ser ingerido pelo homem). Nos demais lugares, é menos comum
- Hepatoblastoma: raro, o hepatoblastoma é um dos cânceres primários hepáticos mais comuns em bebês. Também pode se desenvolver em crianças, nesse caso causando a puberdade precoce
- Angiossarcoma: também raro, esse tipo afeta os vasos sanguíneos do fígado. O contato com o cloreto de vinila e arsênico podem dar origem a esse tumor
- Cistoadenocarcinoma: provavelmente é secundária à transformação maligna de um cistadenoma (tumor benigno) e muitas vezes atinge diferentes lobos hepáticos
Além disso, há ainda os casos de metástases hepáticas. Eles costumam ser mais comuns do que o câncer de fígado primário, principalmente derivados dos tumores que se originam no trato gastrintestinal, mama, pulmão e pâncreas.
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Sintomas
Entre os sintomas de câncer de fígado mais comuns estão:
- Dor abdominal do lado direito
- Massa abdominal e distensão (30% a 40%)
- Perda de peso não intencional
- Apetite reduzido
- Mal-estar
- Icterícia (coloração amarela da pele e dos olhos)
- Ascite (acúmulo de líquido no abdômen)
Alguns pacientes podem ainda evoluir com ruptura espontânea do tumor, caracterizada por dor súbita no hipocôndrio direito (entre o peito e a barriga) de forte intensidade, seguida de choque hipovolêmico (incapacidade de manter a circulação por perda de sangue) por sangramento intra-abdominal.
Diagnóstico
Segundo Rafael Leite Nunes, o câncer no fígado “muitas vezes vai se apresentar como achado no exame de imagem, que evidencia nódulo hepático”. Sendo assim, além da apresentação de sintomas descritos acima, testes laboratoriais, exames físico e de imagem podem auxiliar no diagnóstico da doença.
Vale afirmar, contudo, que os sintomas podem demorar a aparecer, por isso manter os exames periódicos em dia, principalmente em casos em que há fatores de risco, é de extrema importância.
Caso o paciente já tenha um diagnóstico de câncer em outro local do corpo, o médico pode suspeitar de metástase hepática quando o fígado se apresenta aumentado. A atenção deve ser redobrada quando se trata de tumores que tendem a causar danos ao órgão (trato gastrintestinal, mama, pulmão e pâncreas).
Nesses casos, exames de sangue de rotina, TGO e TGP, podem confirmar se o órgão está funcionando normalmente. No entanto, mesmo que os resultados apresentem alterações, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética podem ser usadas para uma análise mais precisa. O uso de contraste pode auxiliar na localização de possíveis tumores no fígado.
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Fatores de risco
O tabagismo e o uso de anabolizantes podem influenciar o desenvolvimento do câncer de fígado. Além disso, há outros fatores de risco, como:
- Cirrose
- Hepatite B ou C
- Gordura no fígado
- Diabetes
- Consumo exagerado de álcool
Em áreas endêmicas, a esquistossomose (também conhecida como barriga d’água) é considerada fator de risco. Sendo assim, a ingestão de grãos e cereais merece atenção.
Quando armazenados em locais inadequados e úmidos, esses alimentos podem ser contaminados pelo fungo aspergillus flavus, que produz a aflatoxina, substância cancerígena ligada ao hepatocarcinoma, além de doenças relacionadas com o depósito de ferro no fígado.
Exames
Exames de sangue tendem a ser o modo mais prático de checar se o fígado está saudável. E quando não há qualquer problema hepático anteriormente diagnosticado, o check-up de rotina inclui testagens mais simples, mas que fazem um bom mapeamento do funcionamento do órgão. Os mais indicados são:
- Transaminase glutâmico-oxalacética (TGO)
- Transaminase glutâmico-pirúvica (TGP)
- Gama GT
- Fosfatase alcalina
Além disso, o ultrassom de abdômen completo pode ser indicado para checar se o órgão está em seu volume normal ou se encontra aumentado, o que é um ponto de alerta para investigar mais a fundo a possibilidade de um tumor.
Já em casos de desconfiança de câncer de fígado, alguns exames de imagem podem ajudar a confirmar o diagnóstico. São eles:
- Tomografia computadorizada: consegue localizar tumores com exatidão de 75% a 90%, mas pode ter dificuldade de detectar lesões menores
- Ressonância Nuclear Magnética (RNM): sem muita diferença em relação à Tomografia Computadorizada quanto à exatidão, pode detectar melhor a extensão do tumor
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Laparoscopia: permite uma visualização direta e a biópsia do tumor, sua eficácia aumenta quando associada à ultrassonografia videolaparoscópica, aumentando o índice de ressecabilidade dos pacientes selecionados para a laparotomia
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Tratamento
“O tratamento pode ser diverso”, explica o cirurgião oncológico, Rafael Leite Nunes. Entre as opções estão:
- Ressecção (cirurgia): indicada para casos de tumor primário restrito a uma pequena parte do fígado estando o restante do órgão saudável. Pode também ser indicado em casos de tumores hepáticos, quando a lesão primária foi removida ou é passível de ser removida
- Transplante hepático: sugestão para casos de câncer hepático quando o restante do órgão não está saudável e de tumor de difícil remoção
Em alguns casos podem ser indicados tratamentos sistêmicos antes, após ou no lugar dos tratamentos citados acima. São eles:
- Quimioterapia: uso de medicamentos que tratam as células de todo o corpo a fim de evitar que o tumor mude de estágio ou retorne após ressecção. Pode ainda auxiliar na diminuição do tumor e permitir a ressecção em alguns casos em que ela não foi sugerida inicialmente devido ao tamanho do corpo estranho
- Radioterapia: atua de maneira localizada a fim de evitar que o tumor aumente de tamanho. Em casos avançados, tende a reduzir as dores causadas pela doença, mas sem grandes benefícios adicionais.
É importante lembrar que, quanto mais cedo, mais chances de sucesso no tratamento.
Tem cura?
Por ter poucos sintomas em sua fase inicial, o câncer de fígado é considerado um dos mais perigosos para os especialistas e suas taxas de cura são baixas. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de fígado foi o sexto que mais matou homens, em 2020 e o sétimo no caso das mulheres.
No entanto, quando diagnosticado precocemente, há cerca de 90% de chances de cura. Além disso, em casos de transplante de fígado há mais chances de que o paciente possa viver de maneira saudável por mais anos.
Referências
Dra. Silvia Calichman, clínico geral e gastroenterologista - CRM 134021/SP
Ministério da Saúde
Instituto Nacional de Câncer (Inca)
American Cancer Society