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O câncer da mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo - só no Brasil, o Ministério da Saúde estima mais de 50 mil casos novos por ano. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, cerca de uma a cada 12 mulheres terão um tumor nas mamas até os 90 anos de idade.
Via de regra, o tratamento para câncer de mama inclui a cirurgia para retirada do tumor, que pode ser parcial ou total. Entretanto, casos considerados avançados podem não ter indicação para cirurgia, partindo para outras modalidades. O câncer de mama pode ser localmente avançado, quando há comprometimento de estruturas vizinhas, como músculos, pele e glândulas linfáticas, ou então avançado com metástases, quando o tumor já atingiu outros órgãos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 75% das mulheres já são diagnosticadas com câncer de mama em estágio avançado.
Em meio aos tratamentos tradicionais, como quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia, existe a terapia alvo. Ela é baseada em medicações que agem especificamente num grupo de tumores, nos quais é possível se identificar uma alteração molecular (proteína alterada ou gene alterado). "O medicamento age neste 'alvo', inibindo sua ação e vindo a reduzir o crescimento tumoral", diz o oncologista Artur Malzyner, da Clinonco, em São Paulo. No entanto, só se beneficiam da terapia alvo pessoas que apresentam as alterações moleculares que possam ser atingidas pelo medicamento.
Essas novas modalidades terapêuticas têm como objetivo dirigir o tratamento mais especificamente às células doentes, poupando as células saudáveis normais, diferentemente do que acontece com a quimio, radio e hormonioterapia.
Para o câncer de mama avançado, a terapia alvo surge como uma esperança de controlar a doença sem expor a paciente aos efeitos colaterais mais agressivos dos outros tratamentos, uma vez que eles afetam as células do corpo inteiro, contribuindo para aumentar a expectativa de vida dessas mulheres. Conheça os diferentes tipos de terapia alvo para câncer de mama e quais os grupos indicados para cada medicação:
Everolimo
Pacientes portadoras de câncer de mama metastático, que expressam receptores de estrogênio ou progesterona, e que apresentaram falha de tratamento com inibidores de aromatase não-esteroidais (anastrozol ou letrozol) são indicadas para o tratamento com everolimo.
No Brasil, o everolimo foi aprovado pela Anvisa em 2013 para o tratamento de mulheres na pós-menopausa, com câncer de mama avançado receptor hormonal positivo (RH+) e negativo para o receptor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2-).
Tumores da mama que apresentam o receptor estrogênico dependem da ativação deste receptor para crescer. É como se o receptor de estrógeno mandasse um aviso para as células da mama, dizendo que elas devem continuar proliferando. Na maioria das pacientes, a terapia hormonal inibe essa via de sinalização, impedindo as células tumorais de se multiplicarem.
Porém, em alguns casos os receptores conseguem utilizar "vias de escape" para enviar essas mensagens às células. Essas são chamadas de vias de sinalização intracelular alternativas (via de mTOR). "Quando isso acontece, a proliferação da célula tumoral se perpetua e o tumor se torna resistente ao tratamento hormonal", diz o oncologista clínico Vladmir Cordeiro de Lima, do A.C.Camargo Cancer Center.
O everolimo inibe a mTOR, impedindo assim a ativação do receptor do estrógeno e quebrando a resistência do tumor ao tratamento hormonal. "Desta maneira, o tratamento com everolimo associado aos inibidores da aromatase é parceiro na inibição do crescimento do tumor", afirma o especialista. "O tratamento proporciona a possibilidade de adiar o início da quimioterapia que, claramente, apresenta efeitos colaterais mais importantes e com resposta muito semelhante", explica o mastologista André Mattar, do Hospital Pérola Byington de São Paulo.
O medicamento é ministrado por via oral, geralmente uma vez por dia. Entre os efeitos colaterais pode acontecer diarreia, fadiga, falta de ar, feridas na boca e tosse. O everolimo também pode elevar os níveis de glicose e triglicérides no sangue, bem como aumentar o risco de infecções. Apesar de estar disponível para mulheres com plano de saúde, o everolimo ainda não é disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Trastuzumabe
Produzido a partir de uma proteína do sistema imunológico, o trastuzumabe é um tipo de medicamento conhecido como anticorpo monoclonal. O método pode ser utilizado em mulheres com tumores que expressam a proteína HER2. Os tumores da mama que tem essa proteína em sua superfície tendem a se disseminar de forma mais agressiva. "O trastuzumabe funciona se ligando a essa proteína HER2, retardando esse crescimento", explica o oncologista Vladmir. Além disso, ele estimula o sistema imunológico a combater a doença com mais força.
O trastuzumabe é administrado por via intravenosa, uma vez por semana, geralmente combinado com quimioterapia. Podem ocorrer efeitos colaterais nas primeiras doses, entre eles febre, calafrios, fraqueza, náuseas, vômitos, tosse, diarreia e cefaleia. Desde 2013, o trastuzumabe está disponível no SUS, além de também ser acessível para mulheres com plano de saúde.
Pertuzumabe
O pertuzumabe também é um anticorpo monoclonal que se liga à proteína HER2. No entanto, o pertuzumabe vai agir de outra maneira. "O medicamento impede que a HER2 se associe com outras proteínas necessárias para seu funcionamento", explica o oncologista Vladmir. Dessa forma, enquanto trastuzumabe inibe a ação da proteína, o pertuzumabe irá impedir que esta se ligue a outras proteínas necessárias para a proliferação do tumor.
O pertuzumabe é administrado por infusão intravenosa a cada três semanas. Podem haver efeitos colaterais como diarreia, perda de cabelo, náuseas, fadiga e diminuição dos glóbulos brancos, principalmente quando associada ao trastuzumabe. O medicamento é aprovado no Brasil como tratamento de primeira linha para tumores HER2 positivos metastáticos, e está disponível não só na rede particular de hospitais, como também no SUS.
Lapatinibe
Exclusivo para pacientes com câncer de mama avançado, o lapatinibe também é indicado para mulheres com câncer de mama que expressam a proteína HER2, mas não responde ao tratamento com quimioterapia ou trastuzumabe.
O lapatinibe age inibindo o funcionamento da proteína HER2 e impedindo, assim, o crescimento do tumor. É administrada via oral e pode causar efeitos colaterais como náusea, diarreia, vômitos e erupções cutâneas.
Há estudos em andamento para aprovar o lapatinibe como opção de tratamento para câncer de mama em estágio inicial. "Mas, por enquanto, é indicado apenas para casos avançados após falha do trastuzumabe", explica o oncologista Vladmir. Entretanto, o lapatinibe não está disponível pelo SUS, apenas para mulheres com plano de saúde.
Bevacizumabe
"O bevacizumabe inibe a formação de novos vasos sanguíneos no tumor", afirma Vladmir Cordeiro de Lima. Isso é necessário porque todo tumor precisa criar novos vasos sanguíneos para se desenvolver e crescer. O bevacizumabe inibe o crescimento endotelial vascular, impedindo os tumores de formarem novos vasos sanguíneos.
Ministrado por via intravenosa, o bevacizumabe é mais frequentemente usado em combinação com a quimioterapia. Pressão alta, cansaço, dores de cabeça, feridas na boca e diarreia estão entre os efeitos colaterais mais comuns. É aprovado no Brasil como tratamento de primeira linha para qualquer tipo de câncer de mama metastático. O bevacizumabe ainda não está disponível no SUS para tratamento do câncer de mama, mas pode ser encontrado em alguns planos de saúde.
Ado-trastuzumabe entansina
Essa terapia alvo é indicada para o câncer de mama HER2 positivo metastático, após falha de tratamento com trastuzumabe e/ou pertuzumabe. Diferente das outras terapias alvo, o ado-trastuzumabe entansina necessariamente precisa que a paciente faça o tratamento com quimioterapia DM 1 conjugada. "Isso porque o medicamento se conecta ao quimioterápico, levando ele diretamente e especificamente a células do tumor de mama que apresentem a proteína HER2 na sua superfície", esclarece o oncologista Vladmir.
A quimioterapia é um conjunto de medicamentos que são infundidos por via oral ou diretamente na corrente sanguínea com o objetivo de destruir, controlar ou inibir o crescimento das células doentes. Seja por via oral ou intravenosa, o tratamento não é feito de forma local - ou seja, o medicamento irá circular por todo o organismo, inclusive onde o tumor se encontra. Isso pode fazer com que a medicação afete outras partes do corpo, causando efeitos colaterais indesejáveis como enjoos, quedas dos cabelos e enfraquecimento das unhas.
Quando usado em parceria com o ado-trastuzumabe entansina, o quimioterápico é direcionado exatamente até as células tumorais, evitando que ele afete outros órgãos. Pode trazer efeitos colaterais como fadiga, dor muscular e óssea, dor de cabeça, constipação e problemas cardíacos e pulmonares. Aprovado recentemente pela Anvisa, o medicamento ainda não está disponível no SUS.