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Se antes era comum as pessoas se preocuparem com as picadas de insetos somente quando iam para a praia ou campo, atualmente o uso de repelente se tornou item necessário para proteção. Um exemplo de agente transmissor de doenças é o mosquito Aedes aegypti, responsável pela epidemia de zika vírus e dengue, além de transmitir a febre chikungunya e febre amarela. Para se prevenir da contaminação pelo mosquito, o repelente é a arma mais eficaz. "A pele é uma barreira natural do corpo, mas o mosquito é capaz de quebra-la com sua picada, por isso é importante preveni-la", explica a dermatologista Ana Mósca, diretora da Sociedade de Dermatologia do Rio de Janeiro (SBDRJ).
O problema do repelente é que ele é um produto tóxico, e precisa ser usado com cuidado. Para ajudar nossos leitores a se proteger da melhor forma, conversamos com duas especialistas e elaboramos um guia. Confira a seguir.
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Tipos de repelente e indicações
O primeiro passo é entender qual repelente usar. "Hoje existem três tipos de repelente no Brasil que têm durações e efeitos diferentes", explica a dermatologista Giovana Moraes, Médica membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Sociedade Europeia de Dermatologia e Venereologia. Diferencie cada um deles:
Icaridina Hoje, esse princípio ativo é considerado o mais eficiente contra o Aedes aegypti. Isso porque em concentrações entre 20 a 25% ele pode ter uma duração de até 10 horas, mas isso também é influenciado pelo calor e suor do corpo. Não é indicada para crianças menores de dois anos.
DEET Esse é um dos princípios ativos mais comuns em repelentes, pode ser usado em concentrações de 10 a 15% para adultos ou 6 a 9% para crianças com mais de dois anos. "Mas ele só se torna completamente eficaz quando concentrado acima de 50%, opção que não existe no Brasil", ressalta Ana Mósca. De modo geral ele tem uma duração mais curta, de até seis horas, o que pode ser diminuído em condições de calor e suor.
IR3535 Já esse princípio ativo de repelentes é o único indicado para crianças com idade entre seis meses e dois anos. Em geral ele é vendido em concentrações de 20%, o que equivale à proteção oferecida pelo DEET à 10%.
Menores de 6 meses
E as crianças menores de 6 meses? No caso os repelentes não são indicados, devido a toxicidade de seus componentes. Portanto, o ideal é encontrar outras formas de protegê-las. "Roupas de manga comprida são boas opções, que também já protegem a criança da exposição solar, além do uso de mosquiteiras em casa", considera Giovana Moraes.
A permetrina é outra opção interessante. Essa substância repelente pode ser aplicada em tecidos, se comprada em soluções de 0,5%. "Sua vantagem é que ela pode ter duração de vários dias, ao contrário dos repelentes comuns. No comércio existem roupas já com esse componente, principalmente em lojas de caça e pesca, mas é mais simples comprar o spray e aplicar nas próprias roupas", considera a dermatologista Ana.
O que devo olhar na embalagem?
A melhor forma de saber a composição de seu repelente é olhar a embalagem antes de comprar. "Normalmente a informação dos princípios ativos está discriminada nos ingredientes, incluindo sua concentração", explica Giovana Moraes. No entanto, a duração normalmente vem escrita na parte da frente da embalagem, o que ajuda a ter uma noção da potência do produto.
Na hora de escolher seu repelente, tome cuidado com seu odor. "Mosquitos costumam ser atraídos por perfumes, portanto repelentes sem odor costumam ser mais vantajosos", explica a especialista.
O mesmo repelente protege de pernilongos e mosquitos?
Todos os princípios ativos dos repelentes espantam os mosquitos e pernilongos da mesma forma, portanto você já estará protegido. "Não há garantia de eficácia contra marimbondos ou vespas, mas os outros insetos que costumam picar a pele normalmente são repelidos de forma satisfatória", considera Ana Mósca.
Como aplicar o repelente
O repelente é importante, mas quando usado em grandes quantidades suas substâncias podem ser tóxicas, por isso é preciso saber de alguns detalhes antes de aplica-lo no corpo.
Cuidados ao passar
Ao usar o repelente é importante que ele seja o último item a ser aplicado. "Quando você o passa antes do protetor solar ou de algum creme hidratante, e depois aplica o segundo produto por cima, ele perde seu efeito", alerta Ana Mósca.
Além disso, é importante aplicá-lo longe das mucosas do rosto, como olhos e boca. "Mas não deixe de passar na face, afinal apesar de raro, é uma região exposta que pode ser picada", lembra Giovana.
Outro cuidado importante é usar o repelente apenas em áreas de pele expostas. "As roupas já são uma proteção natural contra os mosquitos e pernilongos, portanto aplicar o produto embaixo delas só deixará você exposto a uma maior quantidade de produto sem necessidade", frisa Giovana. Afinal, por mais que a pele sirva como uma barreira, ela pode absorver o produto e fazer mal. Outro ponto é que não é preciso aplicar o repelente ao longo da pele toda, passar em uma região grande já protege em outras. Por exemplo: se você aplicar o repelente nas coxas e canelas, mas esquecer de aplicar nos joelhos, eles estarão protegidos também.
Precauções com crianças
Crianças são ainda mais sensíveis aos produtos do repelente, por isso é importante tomar alguns cuidados na aplicação. "Os pais nunca devem aplicar o spray direto na pele do filho, sempre se deve passar primeiro nas mãos e depois na pele da criança", orienta a dermatologista Ana. Isso porque há mais risco de a criança aspirar o repelente quando se aplica dessa forma.
Reaplicações
Outro cuidado importante é com as reaplicações. Ao contrário do que se pensa, os repelentes só podem ser reaplicados poucas vezes ao dia, justamente por que a superexposição às substâncias dele pode fazer mal à pele. Veja a seguir quantas aplicações são recomendadas por idade:
- Crianças menores de dois anos: 1 aplicação ao dia
- Crianças de até sete anos: 2 aplicações ao dia
- A partir dos 7 anos e adultos: 3 aplicações ao dia.
Mas como garantir a proteção se só se pode reaplicar tão poucas vezes? De acordo com Ana Mósca, o segredo está em escolher horários chave para se proteger. "Se a intenção é se proteger contra o aedes aegypti, o ideal é optar por passar o repelente no começo da manhã e no fim do dia, horários em que o mosquito costuma circular no ambiente?, reforça
Em relação a hora de dormir, a Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda sempre tomar um banho antes de dormir para retirar o repelente do corpo. Para se proteger a noite, vale investir nos repelentes elétricos, desses que você coloca na tomada, ou aplicar o repelente comum em telas nas janelas, que impedem a entrada dos mosquitos. Mas garanta sempre que a tela seja nova, pois com o tempo as fibras vão de desgastando, permitindo a passagem dos insetos. O ar condicionado e os ventiladores também são repelentes indiretos de mosquitos.
Repelente natural é eficaz?
Como os repelentes são produtos tóxicos, alguns itens naturais têm sido indicados. De modo geral o Ministério da Saúde não os indica. Em nota oficial, eles avisam que "produtos como velas de citronela, óleo de cravo ou andiroba, entre outros, ao contrário do que muita gente pensa, não tem eficácia comprovada no combate ao mosquito Aedes aegypt, pois têm efeito indeterminado e temporário". Entenda melhor como cada um eles funciona e suas limitações:
Óleos naturais Os óleos podem fazer barreiras físicas contra as picadas, impedindo que ele chegue até a pele. A ação do óleo puro no corpo, no entanto, não é tão eficaz quanto os repelentes químicos industrializados, mas pode servir como uma alternativa para quem não pode usar repelentes comuns. Além disso, produtos contendo óleos vêm sendo feitos: "nos Estados Unidos são usados os óleos de soja e eucalipto limão e têm mostrado resultado", ressalta Ana Mósca.
Citronela e andiroba Óleos como a citronela e andiroba parecem ser eficazes, mas ainda não há estudos comprovem sua eficácia cientificamente. Mas o principal problema é sua duração: "esses compostos são muito voláteis, portanto evaporam rapidamente e duram pouco tempo na pele, principalmente no calor", ressalta Mósca. Portanto, mesmo que protejam, essa barreira dura pouquíssimo tempo no corpo.
Vitaminas do complexo B: Muitas pessoas acreditam que o consumo de suplementos das vitaminas do complexo B podem ajudar a espantar os mosquitos, por mudarem o odor do suor, principal característica que atrai ou repele os insetos. "No passado essa técnica foi muita usada, mas um estudo norte-americano tentou mensurar isso e percebeu que não há uma quantidade exata de vitaminas, a quantidade e a ação repelente variavam muito de pessoa para pessoa, portanto não conseguiram comprovar a eficácia dessa substância", explica Ana Mósca.
Medidas alternativas ao repelente
Além de lançar mãos dos repelentes, outros cuidados podem impedir as picadas. "Os mosquitos costumam ser atraídos por roupas coloridas e perfumes, portanto evite os dois itens se você estiver em áreas endêmicas", explica a dermatologista Giovana.
Saiba mais: Elimine focos do aedes aegypti em casa
Além disso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia indica o uso de repelentes elétricos próximos à portas e janelas e também o uso de ventiladores e ar condicionado, que atuam de forma indireta ao espantarem os mosquitos.
Por fim, evitar criadouros do mosquito é o item mais importante. Não deixe que água parada se acumule em garrafas, pneus, vasos de flores, caixas d'água e outros recipientes. O mosquito só se reproduz em água limpa, e evitar esses focos ajuda a impedir que eles se reproduzam.