Geralmente, o dia-a-dia acaba não comportando visitas regulares aos consultórios médicos. Em se tratando da ala masculin...
iAinda na infância, é comun o especialista atender encaminhamentos de pacientes pediátricos e adolescentes com moléstias urogenitais. Conheça as causas mais comuns.
A criptorquidia
Nos últimos meses de vida intra-uterina, os testículos formados no interior do abdômen devem migrar para o escroto, seguindo uma rota que passa pelo canal inguinal. Quando essa migração fica comprometida por hérnias ou por falta de estimulo hormonal, os testículos não alcançam a bolsa escrotal naturalmente, constituindo-se uma afecção - a criptorquidia. Um termo usado para designar uma anomalia na posição do testículo, que pára no meio do caminho que deveria percorrer para chegar à bolsa escrotal. Essa alteração de percurso tem importância porque para viabilizar a produção de espermatozóides, os testículos precisam estar um grau e meio abaixo da temperatura corpórea.
Para manter o equilíbrio térmico, o escroto é formado por várias camadas de musculatura que o ajudam a relaxar no calor e a contrair-se no frio. Além disso, o cordão espermático por onde caminham
as artérias que vão nutrir os testículos e as veias que drenam o sangue está envolto pelo músculo cremaster. Esse mecanismo que permite a aproximação ou o afastamento dos testículos do corpo é crucial para manter a temperatura adequada para a produção de espermatozóides, além de permitir um desenvolvimento normal do testículo. Assim que a criança nasce é recomendável verificar se ela apresenta ou não a criptorquidia. Como o músculo cremaster, que participa do movimento de subida e descida dos testículos, é menos ativo nessa fase, o neonatologista pode perceber se os testículos estão bem locados dentro do escroto ou ausentes.
Existe também a associação entre o aumento da incidência de câncer dos testículos e o fato deles terem permanecido por anos dentro da cavidade abdominal ou nunca de lá terem sido retirados. A posição anômala do testículo associada às alterações de temperatura favorece o desenvolvimento de tumores malignos. Por isso, quando o tratamento ocorre numa fase tardia, se houver dificuldade de levar o testículo até a bolsa escrotal, onde é mais fácil ser examinado e acompanhado, o mais prudente é fazer um acompanhamento rigoroso anual. Em casos onde existe uma atrofia importante, a ablação pode ser realizada para evitar riscos. A ablação dos testículos, ou orquiectomia, é a retirada dos testículos.
Para tratar a criptorquidia, o urologista conta com o estímulo hormonal realizado pela gonadotrofina coriônica (hCG), que provoca o amadurecimento transitório e mais rápido do testículo, auxiliando a fase final de sua migração. Na maioria dos casos, entretanto, sobretudo quando o problema é unilateral, a orquidopexia, ou seja, a cirurgia é a melhor opção de tratamento para a criptorquidia. Através de um corte feito na região inguinal, isolam-se as artérias e veias, com o objetivo de liberar o testículo das aderências que se formaram dentro do abdômen a fim de permitir a fixação do testículo na bolsa escrotal.
Hidrocele
Às vezes, associada à criptorquidia, a criança apresenta também hidrocele, ou seja, o preenchimento da bolsa escrotal com um líquido que existe dentro do abdômen para permitir a movimentação das alças intestinais e que escorre pelo caminho que o testículo deveria ter percorrido. Segundo o médico, até o fim do primeiro ano de vida, os testículos podem migrar para o escroto e a hidrocele pode desaparecer, porque o canal de comunicação que permitiu a passagem do líquido abdominal se fecha. Por isso, a conduta inicial é observar como o caso evolui durante um ano, um ano e meio.
No passado, aguardava-se até os cinco, seis anos para corrigir a anomalia, se ela persistisse. Atualmente, optou-se pela intervenção precoce para evitar prejuízo nas células que compõem o testículo e irão desenvolver a produção de espermatozóides e de testosterona. O tratamento da hidrocele é cirúrgico.
Fimose
É a incapacidade de retrair o prepúcio e expor a glande. Ou seja, o anel mais fechado do prepúcio impede que a pele que recobre o pênis se retraia, o que compromete as condições de higiene e pode dificultar a relação sexual, no futuro. Atualmente, existem pomadas que ajudam a aumentar a elasticidade dessa pele,
fazendo ceder um pouco o anel que inviabiliza a exteriorização da glande. A cirurgia é a indicação para os indivíduos que não respondem satisfatoriamente a esse tratamento.
Antigamente, as mães eram orientadas para puxar o prepúcio devagar a fim de aumentar sua elasticidade. Hoje, este procedimento é contra-indicado porque pode provocar pequenas fissuras ou lesões - especialmente se o anel for muito fechado - cada vez que se traciona a pele para expor a glande e, como resposta, o organismo desenvolve uma reação inflamatória e uma fibrose que irão agravar o quadro. É preciso explicar que essa pele existe para proteger a glande que deve ser exteriorizada, sem força, para permitir a limpeza e a higiene do local.
Torção do testículo
Outro problema comum em crianças é uma afecção testicular aguda chamada torção do testículo. Os testículos originam-se na cavidade abdominal alta, ao lado dos rins, e, nos meses finais da vida intra-uterina migram para a bolsa escrotal, onde devem fixar-se. Com eles, vão os vasos encarregados de nutri-los, também oriundos da região próxima dos rins. É importante esclarecer que os testículos são envolvidos pelo músculo cremaster, cuja função é suspendê-los ou baixá-los, de acordo com as condições de temperatura. Às vezes, por anomalia na fixação do testículo na bolsa escrotal, esse movimento de levantar e descer pode promover a torção do testículo em torno de seu próprio eixo, que é constituído por veias, artérias e pelo cordão espermático.
O primeiro sintoma é uma dor semelhante à dor do infarto, porque a torção provoca constrição da artéria que deveria nutrir o testículo afetado, causando a interrupção da circulação sangüínea. Essa dor é aguda e súbita, de forte intensidade e associada a um processo inflamatório. Muitas mães relatam que o filho acorda, no meio da noite, gritando de dor. Isso acontece em virtude das contrações musculares que ocorrem durante o sono. Numa delas, o cremaster puxa o testículo mal fixado, que roda, e a irrigação sangüínea é suspensa. Assim como no infarto do miocárdio, que o sangue deixa de chegar pela artéria obstruída para nutrir o músculo cardíaco, a interrupção do fluxo de sangue provoca infarto do tecido testicular.
Ao perceber uma crise súbita de dor provocada pela torção do testículo, os pais devem procurar imediatamente assistência médica, porque o tratamento precisa ser iniciado, no máximo, entre 4 e 6 horas depois do início da crise. Quase todos os prontos-socorros contam com aparelhos de ultra-som com doppler que permite avaliar o fluxo sanguíneo e o pulso da artéria responsável pela irrigação do testículo. Esse exame é importante para o diagnóstico diferencial entre torção do testículo e orquite ou com a epididimite.
No primeiro caso, a circulação sangüínea está interrompida, o processo de isquemia instalado e a indicação é cirúrgica. Já nas orquites, o fluxo de sangue está aumentado como resposta ao episódio inflamatório e/ou infeccioso e exige o uso de antiinflamatórios e antibióticos.
O seu filho sofreu com algum problema urológico na infância? Como você cuidou?