Médico endocrinologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com residência em Endocrinologia no Instit...
iRecentemente tem-se falado muito do novo medicamento para emagrecer aprovado recentemente pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão regulatório no nosso país): a Lorcaserina. Esta notícia foi recebida com alegria pelos endocrinologistas brasileiros uma vez que o último lançamento de medicamento para tratamento da obesidade no Brasil se deu em 1998, ou seja, foram 18 anos sem novidades na praça.
Como a Lorcaserina funciona?
A Lorcaserina é tida como um agonista seletivo dos receptores da serotonina no hipotálamo. Em outras palavras, este remédio, comercializado nos EUA desde 2012 com o nome de Belviq®, ativa/liga receptores presentes em uma região especializada do nosso cérebro chamada hipotálamo, responsável, entre outras coisas, pelo controle da ingestão alimentar.
Com isso o paciente reduz a quantidade de comida consumida (em termos técnicos, a droga induz "hipofagia"). Parece interessante, não? Mas como tudo na Medicina, há que se comprovar esse racional teórico em estudos feitos em seres humanos (os chamados estudos clínicos).
Então aí vai: nos seus dois principais trabalhos apresentados a comunidade científica (estudos BLOOM e BLOSSOM), a Lorcaserina induziu uma perda de peso de 3,6% e 3,1% além daquilo que o placebo foi capaz de proporcionar. Estes estudos avaliaram 3.182 e 4.008 pacientes, respectivamente, por 52 semanas (cerca de 1 ano). Tal resultado pode ser considerado apenas modesto. Ou seja, infelizmente, este não será um medicamento que produzirá grandes perdas de peso nos pacientes. Passará a fazer parte do leque de opções medicamentosas de que o endocrinologista dispõe para auxiliar o paciente obeso na perda de peso, porém não pode ser visto como uma panaceia. Segue sendo o tratamento farmacológico um coadjuvante a modificação no estilo de vida. Elemento este, sim, chave no tratamento.
Mas qual a vantagem da Locarserina?
Apesar de produzir um resultado discreto em termos de impacto no peso, há um atrativo neste medicamento: a segurança. Uma vez que atua especificamente nos receptores de serotonina presentes no hipotálamo (receptores do tipo 5-HT2c) e não atua sobre os receptores de serotonina presentes no coração (receptores do tipo 5-HT2b), não ocasiona alterações nas válvulas cardíacas. Na década de 90, dois medicamentos com mecanismo de ação muito parecido com o da Lorcaserina foram retirados do mercado em função de efeitos colaterais graves envolvendo estas válvulas: a fenfluramina e a dexfenfluramina. No entanto, tal fato se deu pois ambos atuam sobre os receptores de serotonina presentes no coração.
Os efeitos colaterais mais relatados nos estudos da Lorcaserina foram considerados leves e dentre eles podemos citar:
- Dor de cabeça
- Zumbido no ouvido
- Infecção de vias aéreas superiores
- Náuseas.
Vale ressaltar que, nos estudos citados anteriormente, a incidência de alterações nas válvulas cardíacas foi semelhante no grupo de pacientes que fez uso de Lorcaserina em comparação com o grupo de pacientes que fez uso de placebo (pílulas de farinha) ao se avaliá-los por meio de ecocardiograma. Por outro lado, recomenda-se cautela uma vez que se trata de um remédio ainda muito novo. Mais estudos e mais tempo de mercado são necessários para se tirar uma conclusão mais definitiva sobre a segurança desta substância.
Saiba mais: Entenda como moderadores de apetite são usados para emagrecer
Por fim, relembro a todos que a aprovação de novos medicamentos para o tratamento da obesidade é fundamental, ainda que a eficácia não seja tão expressiva. Engordar o hall de opções a disposição do endocrinologista é entender que cada paciente é único. É aceitar que o que funciona para um, pode não funcionar para o outro e vice-versa. Além disso, são muito bem-vindos medicamentos com perfil de segurança e efeitos colaterais mais "limpos".
Por outro lado, é essencial deixar claro que o centro do tratamento é a chamada MEV ? modificação do estilo de vida. Mudar hábitos é a ordem do dia! Sempre!
Aceitar (e querer) uma rotina estruturada de exercícios e uma reeducação alimentar profunda é a chave para o sucesso no tratamento. Sempre que possível compondo uma equipe multidisciplinar para cuidar do paciente, na qual haja um professor de educação física e uma nutricionista ao lado, é claro, do endocrinologista. Outro aspecto que deve ficar claro é que medicamento é coisa séria. Portanto, não pratique a auto-medicação! Nunca. Uma avaliação endocrinológica é essencial antes do início de qualquer medicamento para pessoas com excesso de peso. Procure seu médico!