Pediatra especializada em medicina do adolescente, conhecida como hebiatria. Formada pela Pontifícia Universidade Católi...
iA obesidade é tida hoje como um problema de saúde pública e sua prevalência, em todas as faixas etárias, vem aumentando em todo o mundo. No Brasil, dados do IBGE de 2014 mostram que 15% das crianças entre 5 e 9 anos e 25% dos adolescentes, têm sobrepeso ou obesidade. O aumento desses índices está relacionado principalmente a fatores ambientais, como a redução do tempo dedicado às atividades físicas e as mudanças de hábitos alimentares, com a diminuição do aporte de frutas e vegetais e aumento do consumo de alimentos industrializados e ricos em açúcares e gorduras, com grande valor calórico.
A maioria dos adolescentes obesos apresentam obesidade desde a infância, mais especificamente desde antes dos cinco anos de idade. A manutenção da obesidade está relacionada com diversos fatores, entre eles a idade de início (quanto mais precoce maior o risco) e o grau de obesidade (quanto mais obeso, maior o risco). E a grande maioria dos adolescentes obesos se tornam adultos obesos, sendo maior a relação quanto maior a severidade de obesidade.
Causas da obesidade na adolescência
A obesidade tem diversas causas. Dentre seus fatores predisponentes estão:
- Fatores genéticos: filhos de pais não obesos têm 9% de possibilidade de se tornarem obesos, enquanto que se um dos pais for obeso a chance sobe para 40% e se ambos os pais forem obesos, para 80%
- Fatores individuais: cada indivíduo tem suas próprias características de metabolismo, com maior ou menor capacidade de ganhar ou perder peso
- Fatores ambientais: têm grande influência na obesidade do adolescente, geralmente consequente ao grande aporte de calorias e baixa quantidade de atividades físicas. O erro alimentar e o sedentarismo são responsáveis por grande parte dos casos de obesidade na infância e adolescência
- Doenças: apesar de não serem a causa mais comum de obesidade, existem algumas doenças que podem desencadeá-la, como doenças endocrinológicas ou síndromes genéticas.
Consequências da obesidade na adolescência
Muitos são os agravos de saúde relacionados com a obesidade na adolescência, sendo os principais:
- Hipertensão arterial: cerca de 24% dos adolescentes brasileiros têm pressão arterial elevada, sendo a obesidade responsável por 20% dos casos
- Diabetes tipo 2: a obesidade pode provocar o aumento da insulina e piorar a sua sensibilidade à glicose, levando ao diabetes tipo 2. Quando não tratado pode causar problemas cardiovasculares, oculares, renais, entre outros, já no adulto jovem
- Dislipidemias: as alterações de colesterol, com aumento do LDL, triglicérides e VLDL, e queda do HDL, estão muito relacionadas com a obesidade e podem provocar AVCs, coronariopatias e infarto agudo do miocárdio. Quando as alterações se iniciam na infância ou adolescência, podem provocar a morte súbita na idade adulta
- Doenças hepáticas e biliares: a obesidade é a principal causa de esteatose hepática (gordura no fígado) e cálculos biliares (pedras na vesícula) em crianças e adolescentes
- Problemas ortopédicos: o excesso de peso pode levar à diversos problemas ortopédicos, incluindo fraturas e dores musculoesqueléticas
- Problemas oncológicos: pessoas obesas têm maior risco de desenvolver alguns tipos de câncer, como os de endométrio, mamas, intestino, fígado, vesícula e rins
- Problemas psicossociais: crianças e adolescentes obesos podem desenvolver baixa autoestima, distorção de autoimagem, ansiedade, depressão, isolamento social, transtornos alimentares, além de serem alvos frequentes de bullying. Alguns permanecem com algum transtorno mesmo após o emagrecimento.
Como lidar com a obesidade na adolescência
O sobrepeso e a obesidade devem ser combatidos e tratados precocemente, para evitar agravos na saúde durante a juventude e depois, no decorrer da vida. Estudos em adultos mostram que 70% das doenças como coronariopatia, câncer e diabetes podem ser prevenidos com a perda ou controle de ganho de peso nas primeiras 2 décadas de vida. Crianças e adolescentes têm o benefício de se valer do crescimento para melhorar a proporção peso/altura. Para eles, o fato de não ganhar peso, mesmo não emagrecendo, já surte resultado, pois continuam crescendo.
É consenso entre os especialistas que a mudança de estilo de vida é o principal meio para a redução e controle do peso. Além da reeducação alimentar e do estímulo à atividade física, certos hábitos devem ser modificados, tais como comer assistindo televisão e não ter rotina para as refeições.
A dieta recomendada é rica em fibras e ômega 3, como verduras, legumes, frutas, castanhas e peixes e pobre em açúcares, sal e gorduras. Os alimentos industrializados devem ser evitados ou controlados, tais como salgadinhos, frituras, bolachas, sucos e chás adoçados. É preciso tomar cuidado para não exagerar na restrição calórica, já que crianças e adolescentes necessitam de energia e nutrientes para o seu crescimento e desenvolvimento.
Aconselha-se atividades físicas diárias durante 60 minutos, sendo que 3 vezes na semana devem ser de média a alta intensidade. Também faz parte do combate ao sedentarismo restringir o tempo dedicado às telas, ou seja, a somatória do tempo em atividades no computador, televisão, celulares e tablets não deve ultrapassar 2 horas ao dia.
Quando a obesidade for consequência de alguma doença, ou deixar sequelas do ponto de vista físico ou psíquico, o tratamento será orientado pelo médico ou psicólogo.
As famílias obesas devem ter em mente que as pessoas não conseguem modificar seus genes, mas podem melhorar seus hábitos, encorajando seus filhos a se alimentarem de forma saudável e a praticarem atividades físicas. Essas mudanças trazem benefícios para todos os membros da família, inclusive para as próximas gerações, que irão crescer em um ambiente saudável e sem os riscos associados à obesidade.