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Um surto de hepatite A tem preocupado os moradores do Estado de São Paulo. A região registrou um grande aumento no número de casos, o que levou a Organização Mundial de Saúde a emitir um alerta sobre o problema, que também está presente em outros 15 países da Europa, no Chile e nos Estados Unidos. De acordo com um boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, até o momento foram registrados 138 casos em 2017. Durante todo o ano passado, foram 68 casos no Estado de São Paulo, menos da metade do registrado neste ano.
A Secretaria de Saúde afirma que o público mais afetado é o de homens entre 20 e 49 anos que fizeram sexo com outros homens. A investigação de suspeita de surto no município de São Paulo identificou 101 casos de hepatite A, onde 80% das ocorrências são do sexo masculino. No mesmo período em 2016, foram notificados 31 casos. Porém, essa não é a única forma de contágio e existem ainda muitas dúvidas sobre essa doença. Por isso, reunimos abaixo as principais informações que você precisa para prevenir o contágio da doença:
1. A transmissão da Hepatite A só ocorre em relações sexuais entre homens?
Na verdade, existem diversas formas de contágio. Uma delas é pela via fecal-oral, especialmente quando há contato íntimo com o paciente. No surto da doença que se espalhou no Estado de São Paulo, os principais afetados foram os homens que tiveram relações sexuais com outros homens, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Vale ressaltar que a transmissão do vírus pode ocorrer mesmo usando medidas preventivas, como o uso de preservativos, principalmente devido ao contato fecal-oral durante a relação sexual.
A doença ainda pode ser transmitida pela ingestão de água ou alimentos contaminados com material fecal. Em geral, isso ocorre em locais sem saneamento básico, quando alguém infectado elimina as fezes contaminadas em uma água que outras pessoas terão acesso e poderão ingerir. A ingestão de alimentos crus lavados com essa água também pode transmitir a doença, assim como comer marisco ou frutos do mar crus vindos de local com água poluída com esgoto.
Também é possível ocorrer a contaminação quando alguém contaminado vai ao banheiro, não higieniza as mãos adequadamente e depois manipula alimentos. É frequente, inclusive, a transmissão de hepatite A entre crianças, que muitas vezes não lavam bem as mãos, pegam brinquedos que outras crianças vão interagir, colocando-os até na boca, o que pode levar à ingestão do vírus.
2. A pessoa contaminada com hepatite A precisa ficar isolada?
"De maneira alguma", diz o gastroenterologista Rafael Lima Kahwage. "Independente da causa da hepatite, seja por vírus, álcool, medicações, não há motivos para isolamento. A pessoa com hepatite deve viver normalmente, sem preocupações maiores e sempre mantendo consultas regulares com um gastroenterologista ou hepatologista", completa.
3. Beijar e compartilhar o sanitário com uma pessoa com hepatite A pode transmitir a doença?
Como a transmissão da hepatite A é oro-fecal, então a contaminação é feita ao ingerir algum tipo de material fecal contaminado. Porém, ao manter relações íntimas com alguém que tem a doença, é preciso redobrar os cuidados com a higiene. "É claro que o convívio íntimo com uma pessoa infectada pode aumentar as chances de exposição, mas com os cuidados certos não há necessidade de se preocupar", diz o médico clínico geral Eduardo Finger.
4. É possível contrair hepatite A ao beber direto na latinha de refrigerante?
A hepatologista Débora Dourado explica que isso é possível sim: "Qualquer objeto contaminado que for levado à boca pode transmitir as hepatites A ou E". A contaminação pode ser decorrente do simples manuseio do material por uma pessoa cujas mãos estejam contaminadas. Sempre prefira usar canudinhos que estejam embalados individualmente ou higienize muito bem as latinhas com água e sabão.
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5. Deixar frutas e legumes em água corrente por um minuto elimina o risco de transmissão da hepatite A?
Mesmo com alimentos orgânicos, nem sempre a utilização de água na lavagem do que vamos consumir é suficiente. A infectologista Graziella Hanna Pereira recomenda deixar frutas e legumes de molho na água com hipoclorito de sódio por cerca de 30 minutos. Se não puder usar o produto, ela indica fazer o mesmo processo com os alimentos sem a casca imersos na água. Já outros alimentos que serão fervidos não precisam do processo, uma vez que o vírus não consegue resistir ao calor da água fervente.
6. Posso contrair hepatite A pelo consumo de peixe cru ou outros frutos do mar?
Peixes e frutos do mar têm um agravante nas chances de contaminação, pois podem receber o vírus pelo contato com o esgoto, uma vez que o mesmo se espalha pelas fezes da pessoa doente. "Qualquer alimento manipulado por pessoas contaminadas está sujeito a conter o vírus ", afirma o hepatologista Raymundo Paraná. Na dúvida, peça o alimento frito, cozido ou assado, pois o vírus não é resistente a altas temperaturas.
7. É possível contrair as hepatites A após manipular dinheiro?
Você já deve imaginar que notas de dinheiro e moedas não são exatamente algo limpo, uma vez que circulam entre estabelecimentos e mãos de pessoas de todo o país, inclusive. O infectologista Paulo Olzon ressalta que a falta de higiene das mãos é uma das principais formas de contrair a hepatite A. "Assim, sempre que voltar da rua, antes de comer e após ir ao banheiro, você deve lavar as mãos", aponta. Dê atenção especial a objetos que são passados de mão em mão, como dinheiro e telefones públicos.
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8. Hepatite A tem cura?
A Hepatite A, um tipo de inflamação que acomete o fígado e é causada pelo vírus HAV, não tem tratamento específico, mas costuma ser curada espontaneamente pelo corpo em 90% dos casos. Para amenizar o processo, as recomendações são de descanso, alimentação leve e administração de remédios que controlem os sintomas.
9. Posso tomar a vacina contra hepatite A para prevenir a doença?
A vacina contra hepatite A não apresenta contraindicações, é considerada opcional e passou a ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde em 2014. A vacina é administrada em crianças ana faixa etária de um até dois anos de vida incompletos - no período de 12 meses. A vacina é dada pelo Ministério da Saúde com indicação médica nas seguintes situações: pessoas com doenças hepáticas crônicas; portadores crônicos de hepatites B ou C; problemas de coagulação; crianças com menos de 13 anos com HIV; adultos portadores de HIV e das hepatites B ou C; doenças genéticas ou trissomias, como a Síndrome de Down; pessoas com fibrose cística; candidatos a transplante de órgão; transplantados e doadores de órgão ou de medula óssea; pessoas com doenças do sangue e imunodeprimidos. Portanto, fora desses casos, não há necessidade de buscar a vacina.