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A notícia de que os medicamentos inibidores de bomba de próton (IBP), como Omeprazol, Pantoprazol e lansoprazol, poderiam aumentar em até 2,4 vezes o risco de câncer de estômago deixou muita gente preocupada. Afinal, os medicamentos em questão possuem justamente a função de tratar casos de refluxo, gastrite e úlceras estomacais.
O estudo foi realizado pela Universidade de Hong Kong e pela University College London. Para chegar a essa descoberta, os pesquisadores recrutaram 63 mil adultos e compararam o uso do IBP a um outro medicamento, conhecido como H2, que também limita a produção de ácido estomacal.
Os participantes foram tratados entre 2003 e 2012 e depois acompanhados até o final do estudo, em 2015. O acompanhamento dos pesquisadores tinha como objetivo saber se os participantes do estudo morreram, tiveram câncer de estômago ou outra consequência.
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Neste período, 3.271 pessoas receberam IBP por aproximadamente três anos, enquanto 21.729 participantes tomaram bloqueadores de H2. No total, 153 pessoas desenvolveram câncer de estômago durante a pesquisa.
O estudo apontou que em pessoas que fizeram uso diário de IBP a chance de ter câncer de estômago aumentou cerca de 4,55 vezes em relação a quem fez uso semanal. Do mesmo modo, o risco de câncer aumenta cinco vezes se o medicamento for tomado por um ano e pode subir para oito vezes se for consumido por mais de três anos.
Não posso mais usar omeprazol?
A pergunta que muitas pessoas que fazem uso do medicamento querem saber é bem direta: preciso parar de tomar omeprazol?
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Os medicamentos inibidores de bomba próton costumam ser muito consumidos pela população em âmbito mundial. Sendo assim, ler uma notícia de que eles podem aumentar o risco de câncer de estômago assusta bastante. Por isso, o Minha Vida conversou com especialistas para entender um pouco mais sobre o assunto.
Segundo o oncologista Artur Malzyner, do Hospital Israelita Albert Einstein e consultor científico da Clinonco - Clínica de Oncologia Médica, os pacientes que se trataram com IBP tinham realizado anteriormente um tratamento contra a bactéria H pylori. Essa bactéria é responsável pela ocorrência de úlceras e gastrite crônica - quando ocorre inflamação no estômago - e é um fator de risco para certos tipos de tipos de câncer de estômago, inclusive linfoma gástrico.
"Não há como afirmar com certeza, mas é possível que o grupo que tomou o IBP já pudesse ser considerado um grupo de risco para o câncer de estômago uma vez que já havia tratado a bactéria H pylori", explica o oncologista. Além disso, ele diz que o número de pessoas diagnosticadas com câncer de estômago - cerca de 153 - é baixo em relação à quantidade de pacientes que fizeram uso dos medicamentos IBP - um total de 3.271 pessoas.
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Por ter sido feita com uma parcela específica de pacientes, segundo o oncologista, não é possível afirmar que o uso de omeprazol possa aumentar o risco de câncer de estômago em pacientes que não fizeram tratamento contra a bactéria H pylori.
Além disso, acredita-se que grande parte dos participantes da pesquisa fossem orientais, uma vez que o trabalho foi realizado em Hong Kong. Pensando nisso, a oncologista Anelisa Coutinho, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), afirma que a população oriental tem hábitos de vida e alimentação particulares, o que faz com que no Japão exista uma grande incidência de H pylori e, consequentemente, grande incidência de câncer gástrico também.
Uma pesquisa divulgada na World Journal of Gastroenterology explica que a dieta da população oriental possui alta concentração de sódio, nitratos e conservantes. Quando esses ingredientes são consumidos em grandes quantidades, podem aumentar o risco de câncer de estômago. De acordo com informação divulgada pelo Hospital do Câncer de Barretos, o câncer gástrico é a segunda causa de morte entre os homens e a principal entre as mulheres.
Os especialistas concordam ao dizer que o estudo é um formador de hipótese, mas não é conclusivo. Em declaração, a Federação Brasileira de Gastroenterologia disse que o estudo "deve ser analisado com muita atenção e cautela porque pode sugerir associação, mas não causa e efeito".
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Esse foi um estudo retrospectivo, observacional, não-randomizado, e como tal, deve ser analisado com muita atenção e cautela. Essas pesquisas podem sugerir associação, mas não causa e efeito, pois não foi encontrada uma relação direta que comprove que medicamentos inibidores de bomba próton possam causar câncer no estômago.
Malzyner acredita que, em pacientes que realizaram tratamento contra a bactéria H pylori, o consumo de omeprazol pode ser um risco, portanto é preciso cautela. Já em pessoas que não realizaram tratamento contra a bactéria, não há evidências suficientes de que possa aumentar o risco de câncer de estômago.
Por outro lado, Anelisa diz que pessoas que já foram tratadas para H pylori podem utilizar medicamentos da classe dos inibidores de bomba de prótons, como omeprazol, quando necessário, a depender da patologia e da indicação médica.
Independentemente de ter realizado tratamento contra a bactéria h pylori ou não, o ideal é conversar com o seu médico e avaliar se há necessidade de tomar medicamentos da classe de omeprazol ou se, em caso de problemas estomacais, é possível realizar o tratamento com outros medicamentos.