Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (2004). Concluiu no ano de 2008 a Residência em Clínica...
iParece complicado, mas não é. A tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo de Hashimoto) é a causa mais comum de hipotireoidismo no Brasil, causada pela ação de anticorpos que o organismo fabrica e que acabam atacando a tireoide. Na medicina, chamamos essas condições em que o nosso organismo fabrica anticorpos de forma errada - que podem atacar órgãos - de doença autoimune.
A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune que tem predisposição genética mas também tem um gatilho ambiental. Isso quer dizer que mesmo que a pessoa carregue uma genética que indique risco de ter uma doença autoimune, se o organismo vai ou não fabricar auto-anticorpos, vai depender se houve um desencadeante - ou gatilho - ambiental.
Há muitas linhas de pesquisas que se dedicam a estudar vírus que possam ser esse gatilho, mas há outras linhas de pesquisas indicando que alterações na microbiota intestinal (nas nossas bactérias intestinais) possam ser um dos gatilhos para que o organismo passe a fabricar anticorpos.
Em 2018, uma pesquisa publicada na revista Thyroid avaliou 28 pacientes com diagnóstico de tireoidite de Hashimoto e comparou seus exames de fezes com 16 indivíduos saudáveis. Os resultados mostraram que as bactérias predominantes na microbiota dos pacientes em Hashimoto eram diferentes destes controles saudáveis. A hipótese é que a alteração na microbiota possa se relacionar com o desenvolvimento de doenças autoimunes, dentre elas lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e a própria tireoidite de Hashimoto.
Saiba mais: 7 atitudes que podem prevenir distúrbios da tireoide
No entanto, há um longo caminho a ser percorrido com diversas perguntas: qual a alteração de bactérias realmente indicaria o perfil de uma pessoa mais predisposta? Existiria um tipo específico de bactéria ou seria uma combinação de bactérias que aumentariam o risco? E por fim, será que há realmente uma conexão entre a diferença vista nas bactérias com a doença?
Em um terreno também de muitas incertezas se encontra o estudo dos efeitos dos adoçantes sobre o funcionamento da tireoide. Apesar de um crescente movimento nas redes sociais tentando correlacionar o uso de adoçantes com o risco de doenças de tireoide, na verdade ainda não há dados definitivos sobre os efeitos dos adoçantes no funcionamento da tireoide. Em 2013 no Congresso da Sociedade Americana de Endocrinologistas clínicos (AACE) foi apresentado um caso de paciente que desenvolveu tireoidite de Hashimoto após consumir grandes quantidades de adoçantes.
Sabe-se no campo dos estudos do diabetes que o uso de adoçantes pode contribuir para o desbalanço da flora intestinal e potencialmente aumentar o risco para diabetes, pré diabetes e obesidade. Apesar dos especialistas na área serem unânimes em indicar que os adoçantes não são a causa, porém parte de um problema muito mais complexo, é recomendado que os pacientes procurem seus médicos para definir ou não a necessidade de uso de adoçantes.
De forma correlata é o estudo do uso dos adoçantes e seus efeitos sobre a imunidade na tireoide. Pesquisas em andamento indicam que alguns tipos de adoçantes podem alterar o funcionamento do eixo da tireoide em ratos, mas ainda precisamos de muito mais pesquisas e em humanos também para termos certeza sobre o real papel dos adoçantes.
Referências
Palkowska-Gozdzik E, Bigos A, Rosolowska-Huszcz D. Type of sweet flavour carrier affects thyroid axis activity in male rats. Eur J Nutr. 2018;57(2):773-82.
Zhao F, Feng J, Li J, Zhao L, Liu Y, Chen H, et al. Alterations of the Gut Microbiota in Hashimoto's Thyroiditis Patients. Thyroid. 2018;28(2):175-86.
Sachmechi I. Abstract #1083. Presented at: the AACE Annual Scientific and Clinical Congress; May 1-5, 2013; Phoenix.