Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Marcus Borba é especialista em Cirurgia de cabeça e...
iA tireoidectomia é uma intervenção cirúrgica que consiste na retirada da tireoide. Esse procedimento ainda desperta apreensão entre pacientes devido aos riscos dessa cirurgia. No entanto, costumo falar para meus pacientes e seus familiares que o conhecimento ajuda muito a tomarmos juntos esta decisão.
A cirurgia da tireoide é um método seguro, com baixa incidência de complicações, mas que, quando ocorrem, podem ser inquietantes, merecendo explicação detalhada antes da intervenção.
Quando um médico indica a cirurgia, o paciente pode avaliar junto com ele os riscos e os benefícios do procedimento. Se indicada, os benefícios superam em muito os riscos. Há duas formas de tireoidectomia: a parcial, que retira metade da glândula, e a total.
Uma dúvida comum dos pacientes é se é possível ter qualidade de vida sem a tireoide. A resposta é sim. A falta da glândula implicará na necessidade de tomar um comprimido diariamente, em jejum, com a dosagem recomendada do hormônio tireoidiano durante toda a vida.
Indicações
As principais indicações para cada uma dessas intervenções são: o câncer de tireoide, a suspeita de câncer, o bócio volumoso e o hipertireoidismo não resolvido com outras condutas.
No primeiro caso, quando após uma biópsia é detectado o câncer, a cirurgia é o único tratamento capaz de levar à cura. Após isso, podem ser feitos tratamentos complementares como a iodoterapia.
É importante considerar que, em alguns casos, o ultrassom e a punção não conseguem deixar claro se o nódulo na tireoide é benigno ou maligno. Em casos como esse, a tireoidectomia é indicada para se ter uma confirmação do diagnóstico.
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Embora o "papo" volumoso seja uma doença benigna, a cirurgia de retirada da tireoide trata os sintomas que são muito incômodos, como entalo, engasgos, dificuldade para engolir ou dificuldade para respirar.
Outra indicação da tireoidectomia é o hipertireoidismo, tratado inicialmente com medicamentos que inibem a função da tireoide e depois por meio da iodoterapia. Uma vez que os tratamentos não obtenham resultado, a retirada da tireoide pode ser indicada.
Riscos da tireoidectomia
Os riscos da tireoidectomia são variáveis como em qualquer cirurgia. As chances de complicação dependem do quadro clínico do paciente e do tipo de intervenção. Por exemplo, quanto mais velho for o paciente e quanto mais doenças associadas ele tem, como diabetes e hipertensão, o risco de qualquer procedimento aumenta.
Além disso, a depender da complexidade da cirurgia, há mais riscos, a exemplo de um bócio intratorácico ou um câncer de tireoide que esteja avançando na traqueia. São casos em que há maior possibilidade de algum problema pós-operatório.
Complicações
As complicações cirúrgicas decorrentes da tireoidectomia são muito raras. Em geral, os pacientes apresentam uma recuperação muito boa após o procedimento, e a alta hospitalar pode ser dada até mesmo no dia seguinte.
A complicação mais comum da tireoidectomia é o hipoparatireoidismo. O ser humano conta com quatro glândulas paratireóides responsáveis pela produção do paratormônio que controla os níveis de cálcio no sangue. Na tireoidectomia elas devem ser preservadas para evitar o hipoparatireoidismo e a consequentemente hipocalcemia, queda dos níveis de cálcio no sangue que provoca sintomas como câimbras, dormências, formigamentos, agitação, contrações involuntárias e desmaios. Esses sintomas aparecem nos primeiros dias após a tireoidectomia.
Entre as complicações, pode existir sangramento, embora a probabilidade seja baixa, há riscos que ocorra em pacientes hipertensos ou que usam remédios anti-agregantes plaquetários. Quando um sangramento ocorre, o curativo fica encharcado de sangue e há um inchaço significativo do pescoço, que pode inclusive levar à falta de ar. Em geral, essa complicação aparece nas primeiras seis horas após a cirurgia e deve ter intervenção imediata da equipe de enfermagem e plantonistas, que devem chamar o cirurgião.
De cada lado da tireóide passam dois nervos muito importantes para a fala ? o nervo laríngeo recorrente e o nervo laríngeo superior. Na maioria dos casos, quando é feita uma tireoidectomia, esses nervos são preservados, mas muito raramente pode haver a necessidade de que sejam retirados no caso da invasão pelo câncer.
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Em decorrência da manipulação cirúrgica para soltar a tireoide, os nervos podem não funcionar nos primeiros dias pós-operatórios, mesmo adequadamente preservados, causando alteração na voz e rouquidão transitória. No caso da tireoidectomia total, pode acontecer a paralisia bilateral de prega vocal. O risco é muito baixo, mas existe a possibilidade extremamente rara dos dois nervos laríngeos recorrentes ficarem sem funcionar logo após a retirada do tubo orotraqueal a anestesia geral. Nessa situação, pode ser necessária uma traqueostomia de urgência.
Algumas complicações clínicas também podem ocorrer após a cirurgia da tireoide. Por isso, é fundamental que o cirurgião faça a avaliação pré-operatória. A maioria das complicações clínicas pós-operatórias tem relação com doenças que o paciente já apresentava.