Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iParar de amamentar ou de mamar no peito, no caso do bebê deveria ser um processo simples que acompanha o desenvolvimento da criança, como largar as fraldas. Mas às vezes não é bem assim: a mãe sofre porque o filho pede algo que ela tem, mas não pode ou não quer mais dar; e o bebê acaba sofrendo porque, na verdade, o leite representa para ele muito mais que um alimento. É uma troca importante com a mãe, carregada de carga emocional.
Quando está sendo amamentado, o bebê reconhece o corpo da mãe, do qual já era íntimo bem antes do nascimento. Ele está familiarizado com seu cheiro, sua temperatura e os sons, como os da digestão e dos batimentos cardíacos.
Maria Inês de Souza Gandra, psicóloga e mestre em ciências da saúde, explica que nos primeiros meses de vida da criança, o peito significa porto seguro. Diante de qualquer desconforto que o pequeno venha sentir, o contato com o corpo da mamãe é o mais capaz de representar acolhimento. Por tudo isso, o Ministério da Saúde recomenda amamentação exclusiva até o sexto mês e que a criança continue mamando até os dois anos.
Um vínculo muito forte
Mas chega uma hora em que é preciso parar, seja depois dos dois anos, ou no caso de mães que voltam a trabalhar, têm algum problema de saúde, engravidam novamente... É importante que a mamãe entenda que a amamentação representa tranquilidade e segurança para a criança. Por isso, na época do desmame ela precisa estar muito presente, mantendo o vínculo e passando confiança ao seu filho porque o que ele realmente quer é proteção , diz a pediatra Lélia Cardamone Gouvêa, do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Na situação ideal, a idade de dois anos não é escolhida de forma aleatória para o desmame. Nessa fase, a criança passa a conhecer os alimentos e a descobrir novos sabores, o que diminui as mamadas sem qualquer sofrimento.
É também por volta dessa idade que ela começa a despertar o interesse pelo mundo a sua volta e passa a não sentir conforto somente com o peito da mamãe. Aos poucos ela o substitui pelo bichinho de pelúcia, por atividades como brincadeiras com algum familiar, carinhos da mamãe e do papai ou qualquer coisa que a distraia , explica a Dra. Maria Inês.
Algumas crianças passam naturalmente a não aceitar mais o leite materno (o que facilita no processo do desmame). Nessa fase ele é curioso e por isso aceita bem o que lhe é oferecido. Começa a conhecer as texturas, os odores e as cores. Ele está descobrindo o mundo e progredindo , diz Lélia. Isso torna tudo mais simples.
Para ser menos doloroso
Quando o desmame acontece antes dos dois anos, o cuidado deve ser maior. Muitas vezes a criança ainda não está preparada e pode encarar o final dessa fase como uma rejeição. Até o oitavo mês, o bebê entende que ele e a mãe são uma só pessoa , explica Lélia. Por isso uma separação feita na época e de forma errada pode gerar traumas. Um dos segredos é redobrar os carinhos.
A criança se sente importante no momento em que está sendo amamentada. Assim o instante da mamada pode ser substituído por alguma outra atividade em que a mãe dedique atenção personalizada. Pode ser cantar uma música, contar uma historinha. O papel do pai é fundamental para o filho nesse processo. Ele será uma espécie de ponte entre o bebê e o mundo e representará o que existe além do mundinho da relação mãe e filho.
Desmame tardio
Algumas mães amamentam mesmo após os dois anos de idade. Maria Zenaide Batista Silva, coordenadora de programação de tevê, amamentou seu primeiro filho Rafael, hoje com 10 anos, até quase os três anos e só parou porque engravidou novamente. Rafael se lembra com carinho dos momentos em que era amamentado , conta Maria Zenaide. A pediatra Lélia Cardamone Gouvêa não vê problema em caso de desmame tardio. Só é ruim se a mãe não souber impor limites e substitui alguma refeição pelo leite materno.
Depois dos dois anos, o leite materno deixa de ter importância nutricional e o ato tem apenas um significado sentimental. Mas a mãe precisa ter consciência de que deve permitir que o filho se desenvolva como uma pessoa independente dela , diz a psicóloga Maria Inês.
Passo-a-passo para interromper a amamentação
1. Nunca inicie o processo em momentos conturbados para o bebê. Situações como os primeiros dias na escolinha, a volta da mamãe ao trabalho, a separação dos pais ou enfermidade o deixa vulnerável e a amamentação tem uma função de equilíbrio emocional.
2. Não desmame de uma hora para a outra. Comece tirando uma mamada menos importante, como as do meio do dia. Atenção: se a mulher engravidar novamente, recomenda-se iniciar o desmame de forma lenta. Logo a criança perderá o interesse, pois o gosto do leite tende a mudar.
3. Nas horas habituais das mamadas, não ofereça o peito até que a criança peça. Tente entretê-la com alguma atividade ou ofereça outra opção de alimento. Esta técnica permite uma redução gradual no número de mamadas.
4. Procure diminuir a duração das mamadas. E depois de terminá-la, dê a seu filho um brinquedo ou sugira alguma atividade que ele particularmente goste.
5. Troque o lugar onde normalmente costuma amamentá-lo e varie sempre.
6. A mamada antes de dormir ou no meio da noite no geral são as mais difíceis e as últimas a serem tiradas. Se a criança já tiver mais de um ano, toda vez que ela pedir para mamar de madrugada, repita que a noite foi feita para dormir. Caso a criança durma perto da mãe, o primeiro passo é afastá-la. O papel do pai é fundamental. É ele quem deve atender aos chamados do filho no meio da noite, ser paciente e resistente mesmo que ele chore.