Pediatra da Maternidade Pro Matre Paulista
Redatora especialista na elaboração de conteúdo sobre saúde, beleza e bem-estar.
Em filmes e novelas, a amamentação sempre parece algo mágico: o bebê naturalmente mama muito bem, a mãe sorri satisfeita e não ocorre nenhum contratempo. A vida real, porém, não é sempre assim.
Na verdade, é bem comum que as mães tenham dificuldade para amamentar, sintam dores e até mesmo frustração, a ponto de desistir. "Isso acontece porque há uma idealização de que a amamentação é natural na mulher, uma consequência do nascimento, algo que não precisa ser aprendido", afirma Marcia Regina Silva, enfermeira integrante do Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno do Hospital e Maternidade São Luiz.
Na análise de Monica Carceles Fraguas, pediatra neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista, também há um fator cultural nessa questão: "Não há muita divulgação e conversa sobre as dificuldades. Um século atrás, as mulheres observavam umas às outras amamentando; irmãs, primas e amigas passavam adiante dicas do que funcionava e do que prejudicava na hora do bebê mamar. Tudo isso facilitava o aprendizado. Hoje em dia não existe mais essa tradição, e no Brasil ainda são raros os grupos em que mães amamentam juntas para haver essa troca".
Apesar da dificuldade no primeiro momento, as mães devem lembrar que os contratempos, na maioria das vezes, podem ser superados, mas caso não sejam, saiba que, de modo algum, você será menos mãe por esse motivo.
Reunimos abaixo dicas para tornar a mamada mais agradável e também para resolver situações comuns do dia a dia da amamentação.
Pega correta: o que é e por que é importante?
Gestantes e mães de recém-nascidos já ouviram ou ouvirão falar em pega correta da amamentação. Trata-se da forma perfeita de o bebê se "encaixar" no seio da mãe para tirar o máximo proveito da alimentação natural que tem à disposição sem machucá-la. Para uma pega correta é necessário que:
- O rosto do bebê esteja virado para a mama
- O bebê seja levado à mama, e não o contrário
- A boca do bebê esteja bem aberta
- Os lábios do bebê fiquem virados para fora (?boca de peixinho?), encostando na mama
- A aréola esteja pouco visível por estar coberta pela boca do bebê ou, pelo menos, mais visível em cima do que embaixo (em casos de aréolas grandes)
- O queixo do bebê toque a mama.
É importante estar atenta à pega correta porque ela garante que o bebê consiga movimentar a língua da forma necessária para sugar o leite, se alimente bem a cada mamada e haja menos incômodos físicos ou emocionais para a mãe.
Como lidar com a dor ou insegurança na amamentação?
O momento da amamentação é importante para reforçar o toque da pele com pele, que melhora o sistema imunológico infantil, bem como a intimidade entre mãe e filho. Para te ajudar a aproveitá-lo da melhor forma, reunimos abaixo os oito problemas mais comuns que podem acontecer e como lidar com eles.
1. Não ter leite para amamentar
Descobrir que não pode amamentar pode ser um momento delicado para as mães e que requer apoio, porque é fundamental que esta mãe saiba que o bebê ainda crescerá forte e saudável mesmo se a alternativa médica for a indicação de fórmulas infantis. Além disso, uma mulher não se torna menos mãe por isso porque não pode oferecer seu próprio leite, pois durante a alimentação ela podem reforçar seu todo o lado materno, cheio de amor e afeto.
2. Medo do leite fraco
Uma insegurança que pode assombrar as mamães é achar que seu leite é fraco, mas saiba que não existe leite fraco. O aleitamento materno é o melhor e mais completo alimento para os bebê. E, de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), até os seis meses de vida é indicado que ele seja o único alimento dos pequenos, pois possui todos os nutrientes necessários para nutri-los e hidratá-los.
"Muitas vezes, a mulher acha que o leite dela não é forte o suficiente porque o bebê não ganha o peso esperado ou até perde peso, mas na verdade são os problemas da amamentação que impedem que ele mame a quantidade necessária. Resolvendo-os, tornando as mamadas eficazes, tudo fica dentro das expectativas", observa Marcia Regina.
3. O bebê não mama no primeiro dia
Ele pode estar cansado, principalmente depois de um longo trabalho de parto. O recém-nascido quer dormir e tudo bem, porque o descanso também é saudável. Neste caso, é importante que a mãe e o bebê estejam no mesmo ambiente para colocá-lo no peito nas ocasiões em que ele estiver razoavelmente desperto, como nas trocas de fralda e nas mexidas mais vigorosas.
Mesmo que recém-nascido mame só algumas gotas de colostro ou não mame nada, lembre-se que ele tem reservas e que é normal perder até 10% do peso do nascimento nos primeiros dias de vida.
4. O bico do seio é invertido ou plano
No caso do bico invertido ou plano, a mulher precisa aprender a fazer uma "prega" para que ele se projete para fora. Feito isto, o bico do seio irá normalmente para dentro da boca do bebê e, com uma pega correta, a amamentação tende a correr bem. É comum que as equipes de pediatras e enfermeiras das maternidades públicas e particulares ensinem as novas mães a fazer essa pequena manobra.
Muitas mulheres lançam mão dos bicos de silicone para iniciar a amamentação, o que Monica e Marcia desaconselham. Eles fazem com que o bebê se acostume a mamar apenas no bico do seio, o que vai totalmente contra a pega correta e dificulta ou até impossibilita uma transição para as mamadas diretamente no peito da mãe.
5. A mãe sente dor ao amamentar
Sentir um leve incômodo, algo próximo de uma dor, nas primeiras semanas de amamentação é normal - afinal, trata-se de uma situação nova. A pele dos seios e dos mamilos também é delicada e o bebê ainda está se adaptando, mas caso o incômodo aumente ou persista, providências precisam ser tomadas.
O mais provável é que a pega esteja incorreta e então é necessário corrigi-la. Se tudo estiver bem nesse ponto, vale uma consulta com um mastologista para checar a saúde das mamas.
6. O bico do seio fica com fissuras
As fissuras são resultado da pega incorreta, portanto, basta corrigi-la para que os machucados se cicatrizem e tudo volte ao normal. O ginecologista pode indicar alguma pomada que ajude nesse processo.
Se a mulher aguentar, pode continuar oferecendo a mama fissurada para o bebê nas mamadas. Mas, se a dor e/ou o sangramento estiverem incomodando muito, a mãe pode e deve se respeitar e trocar o lado até se recuperar.
Para não haver um acúmulo de leite, que leva ao ingurgitamento (vamos tratar desse assunto em seguida), o melhor é massagear a mama para liberar esse líquido.
7. Acontecer acúmulo de leite nas mamas (ingurgitamento mamário)
O ingurgitamento é o acúmulo de leite na mama, que pode ser resultado de uma produção excessiva inesperada ou, mais comumente, de intervalos muito longos entre as mamadas e o não-esvaziamento total das mamas a cada vez que o bebê se alimenta.
Quando o leite não sai completamente, o empedramento do líquido nos dutos mamários, inchaço e endurecimento na região, além de uma dor de média a forte podem aparecer.
A solução para este problema, em um primeiro momento, é simples: retire o leite. Se possível, mesmo com dor, coloque o bebê para mamar no lado onde há o acúmulo, enquanto isso, massageie a área inchada e dura ajuda a diminuir o inchaço e a desfazer o empedramento.
Para aliviar a dor, nos intervalos entre as mamadas, massageie mais e deixe sair a quantidade de leite que for necessária - não se preocupe, ele não fará falta para o bebê - e invista em compressas frias, pois o calor estimula a produção de leite e pode piorar muito a situação.
8. Ser diagnosticada uma mastite
A mastite é definida como a inflamação, geralmente causada por uma bactéria, do tecido mamário. O surgimento do problema está diretamente ligado ao ingurgitamento, ou seja, ocorre quando nenhuma providência é tomada em relação àquele leite empedrado que entope os dutos mamários.
O tratamento indicado pelo especialista geralmente é feito com medicamento antibiótico e, se necessário, anti-inflamatório associado. Mas, a amamentação pode continuar normalmente enquanto isso.
As especialistas destacam que os quatro últimos problemas podem surgir em qualquer fase da amamentação (do primeiro dia até o desmame) e que uma experiência perfeita ou cheia de adversidades com o primogênito não significa que haverá repetição com outros filhos. "São duas pessoas diferentes: um bebê novo e uma mãe que não é, psicologicamente, a mesma que da vez anterior. No segundo já não há tanta insegurança e a mulher tem mais jeito para segurar o bebê, mas cada vivência é única", diz Monica.
Quando é necessária a ajuda de uma consultora de amamentação?
Não há nada que possa ser feito para preparar os seios para a amamentação - aquelas histórias antigas de "calejar" os mamilos não têm embasamento científico nem evidências de eficácia -, então recorrer ao auxílio de uma consultora de amamentação só faz sentido depois do nascimento do bebê. E, de preferência, já em casa, depois da alta.
"As maternidades contam com equipes de médicos e enfermeiras que ajudam a nova mãe a aprender a amamentar, e ter uma pessoa de fora nesse momento pode causar um conflito desnecessário. Se restar alguma dúvida ou dificuldade, a consultora será muito útil e bem-vinda no ambiente familiar", justifica Marcia Regina.