Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iOs riscos do consumo exagerado de bebida alcoólica durante a pandemia de COVID-19 e o maior convívio com familiares em razão das medidas de isolamento acenderam a luz amarela de quem mora com uma pessoa que faz uso abusivo de álcool ou, até mesmo, daqueles que perceberam em si alguns sinais de alerta para a dependência.
Uma alternativa viável para quem busca ajuda em relação ao consumo de álcool é Alcoólicos Anônimos (A.A.), uma organização de ajuda mútua de recuperação para dependentes de álcool com mais de 85 anos de fundação que tem como base o programa dos 12 passos. Atualmente, os encontros têm sido realizados, inclusive, de forma virtual.
Mas você pode estar se perguntando "será que funciona mesmo"? Não é de hoje que pesquisas científicas procuram responder essa pergunta. Uma revisão sistemática de 27 estudos* publicada recentemente pela reconhecida revista Alcohol and Alcoholism demonstrou que o programa de 12 passos traz resultados tão bons quanto outras abordagens e, em alguns parâmetros, até superior.
Uma minuciosa análise desses estudos, que totalizavam mais de 10 mil pessoas, indicou que a metodologia de 12 passos de A.A., quando aplicada de maneira rigorosa, foi mais efetiva do que alguns tratamentos psicoterápicos para a promoção da abstinência e para impedir recaídas. Para outros desfechos, como redução da intensidade do consumo e das consequências relacionadas ao uso de álcool, os resultados foram tão positivos quanto os de outros tratamentos. Outra vantagem é proporcionar menores custos de cuidados com a saúde.
Os autores destacaram ainda que o fator social, o suporte dos pares e o companheirismo são elementos importantes para as melhores taxas de abstinência entre os membros de A.A. Além disso, sugerem que a maior taxa de abstinência e a consequente menor taxa de recaída estão associadas à aderência dos membros de A.A. em longo prazo.
Esses resultados vão ao encontro dos dados do inquérito realizado por A.A. junto aos seus membros no Brasil, em 2018: a abstinência contínua predomina entre os participantes com mais de cinco anos de sobriedade (63%) e, em relação à recaída, 68% dos membros não tiveram qualquer episódio.
Como já falei por aqui, a participação em grupos de ajuda mútua, como A.A., é uma das opções terapêuticas para o tratamento do alcoolismo, sendo um interessante recurso de apoio, sobretudo para quem tem algum tipo de crença espiritual e para quem não pode arcar com os custos de um tratamento multidisciplinar. E, diante do momento de pandemia que estamos vivendo, pode ser uma interessante opção inicial, especialmente pela possibilidade da participação nas reuniões virtuais.
É preciso lembrar que cada pessoa é única e o ideal é buscar ajuda com profissionais de saúde para uma avaliação diagnóstica detalhada e identificação do tratamento mais adequado. Se você tem interesse no tema, convido a assistir a série de vídeos sobre alcoolismo que o CISA - Centro de Informações sobre Saúde e Álcool produziu.