Redator de saúde e bem-estar, entusiasta de pautas sobre comportamento e colaborador na editoria de fitness.
Com o avanço da vacinação contra a COVID-19 no Brasil, a internet se deparou com uma situação inusitada. Em agosto deste ano, a foto de uma jovem de Joinville, Santa Catarina, sendo imunizada através da aplicação perto do glúteo viralizou nas redes sociais e fez os internautas se questionarem: a vacina é aplicada no braço ou perto do glúteo?
Muitas pessoas que receberam as duas doses ou a dose única dos imunizantes também se perguntaram se há um local correto para aplicar a vacina ou até mesmo se há uma diferença na ação da vacina. Pensando nisso, conversamos com Lorena Castro Diniz, alergista e coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), que tirou essas e outras dúvidas.
Por que a vacina foi aplicada perto do glúteo?
A região na qual a vacina foi aplicada é chamada de ventroglútea e é uma das melhores alternativas para vacinas intramusculares, segundo Lorena. "Essa região oferece a melhor espessura de músculo, é livre de nervos e vasos sanguíneos, com uma camada mais estreita de gordura, além de apresentar redução de dor durante a aplicação", explica.
As vacinas intramusculares são aquelas injetadas diretamente no músculo por conta da alta vascularização nestas regiões do corpo. Ou seja, no músculo há muito sangue, logo também há uma presença maior de células do sistema imunológico, fazendo com que a vacina seja mais eficaz.
No caso da cidade de Joinville, essa forma de aplicação é padrão e, de acordo com a prefeitura municipal, cada pessoa pode escolher se a vacina é aplicada no braço ou no ventroglúteo.
Há diferença na eficácia da vacina?
Não há diferença na eficácia da vacina aplicada em qualquer um dos dois músculos. O que pode alterar, de acordo com Lorena, é a quantidade de fagócitos, ou células de defesa, de acordo com a região aplicada. "A região dorsoglútea, muito usada para a administração de imunobiológicos e medicamentos em geral no passado, deixou de ser um sítio de primeira escolha devido ao risco de lesão do nervo ciático, além de ser uma região que apresenta falta de células fagocíticas adequadas, necessárias para a imunogenicidade", explica.
Apesar disso, a via de administração não deixou de ser utilizada completamente. "Atualmente, é uma opção para a administração de volumes maiores, como determinados tipos de soros - antirrábico, por exemplo - e imunoglobulinas - como anti-hepatite B e catapora", complementa a médica.
A vacina contra o coronavírus pode ser aplicada em outro lugar?
Sim, além do braço e do ventroglúteo, outros músculos do corpo podem receber o imunizante contra a COVID-19. O que importa, na verdade, é que a aplicação intramuscular esteja distante de grandes nervos e vasos sanguíneos, para evitar qualquer tipo de lesão.
"O músculo vasto lateral da coxa e o músculo deltoide são as áreas mais utilizadas para a administração de vacinas, mas também podemos utilizar a região do ventroglúteo, enquanto outras vacinas estão autorizadas a aplicação por via subcutânea", detalha a alergista.
Quais são as outras vias de aplicação de vacinas?
No caso das vacinas, a aplicação pode ser realizada em outras regiões do corpo, além dos músculos.
- Via oral: imunizantes absorvidos no trato gastrointestinal e são administrados na boca, em gotas. "É o caso de vacinas contra o rotavírus e poliomielite", explica Lorena
- Via intradérmica: são aplicadas na derme, uma das camadas mais superficiais da pele, como é o caso da vacina BCG, segundo a especialista
- Via subcutânea: utilizadas em vacinas que são absorvidas mais lentamente, aplicadas na camada subcutânea, logo abaixo da derme. "São as vacinas de febre amarela, tríplice viral, tetra viral", afirma a alergista.
Lorena também afirma que, no momento, o desenvolvimento de vacinas intranasais contra o coronavírus está sendo estudado. "Existem vacinas em estudos onde a aplicação será intranasal, como é o caso da vacina em fase de estudo no Brasil contra COVID-19".