Redator de saúde e bem-estar, entusiasta de pautas sobre comportamento e colaborador na editoria de fitness.
Desde 2018, a campanha "Outubro Rosa", que visa conscientizar a população sobre o câncer de mama e sua prevenção, é oficializada no Brasil. Porém, grande parte dessa divulgação aborda exclusivamente casos e maneiras de prevenção para mulheres cisgêneras, ou seja, aquelas que se identificam com o gênero designado ao nascer.
Por conta disso, a maioria da população transgênera e não-binária não tem fácil acesso às informações necessárias para se prevenir da doença, segundo Maria Julia Calas, mastologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional RJ.
"Outro grande desafio é a escassez de conhecimento científico e dos profissionais da área de saúde quando se trata de cuidar da comunidade transgênera", completa a especialista.
No Brasil, estima-se que há aproximadamente três milhões de pessoas declaradas transgêneras, ou seja, aquelas que não se identificam com o gênero designado no nascimento.
Pessoas trans podem ter câncer de mama?
De acordo com Maria Julia, os riscos de câncer de mama existem tanto para mulheres trans e travestis em terapia hormonal com estrogênio quanto para homens transgêneros em uso de testosterona.
No caso das mulheres trans, por conta dos hormônios, as mamas se desenvolvem e o risco de câncer pode aumentar também. Um estudo publicado na revista PubMed e realizado pela University Medical Center, de Amsterdã, concluiu que mulheres transgêneras têm cerca de 47 vezes mais chances de ter câncer de mama do que homens cisgêneros.
Geralmente, homens transgêneros são submetidos à mastectomia masculinizadora, que retira toda a glândula mamária e reconstrói um tórax masculino. Neste caso, assim como na mastectomia preventiva, os riscos de desenvolver câncer de mama diminuem significantemente, porém, ainda é importante ter atenção ao autocuidado.
Prevenção do câncer de mama
A mamografia é o principal exame utilizado para a detecção do câncer de mama e pode reduzir em até 30% as mortes causadas pela doença, segundo estudo sueco Two-County Trial of mammographic screening.
Segundo pesquisa feita pela Sociedade Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por imagem, o rastreio do câncer de mama por mulheres trans deve ser realizado se houver uso de hormonioterapia por mais de cinco anos, com periodicidade de um a dois anos a partir dos 50 anos.
Já homens trans que não realizaram a mamoplastia devem fazer o exame de rastreio a cada dois anos, a partir dos 50 anos até os 69 anos de idade. "Para homens transgêneros mastectomizados bilateralmente, o rastreio não é indicado", completa a mastologista Maria Julia.