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Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicada na última semana no periódico BMJ Journals, discute o tratamento que mulheres e recém-nascidos recebem durante o parto. Segundo o estudo, há "cada vez mais evidências comprovando que mulheres ao redor do mundo enfrentam tratamento inaceitável durante o nascimento de seus filhos".
Entre os maus-tratos, está a violação ao direito à privacidade, ao consentimento informado e de ter um acompanhante de confiança durante o trabalho de parto. De acordo com a OMS, essas condições podem "prejudicar seriamente a confiança no hospital ou centro de saúde", fazendo com que as mulheres evitem esses lugares antes, durante e depois do parto.
Abuso físico e procedimentos não consensuais
Segundo a análise feita pela agência da ONU, gestantes que não podem ter um acompanhante são, geralmente, as que mais relatam "abuso físico, procedimentos médicos não-consensuais e falhas na comunicação".
Mais pesquisas são "necessárias com urgência" para entender melhor as experiências das grávidas na hora do parto e melhorar o tratamento, avaliando a satisfação delas e visando responsabilizar aqueles que cometem maus-tratos.
Além disso, o estudo mostra que boa comunicação e transparência nos processos de consentimento, especialmente durante exames vaginais, são cruciais, sendo necessário "reduzir a exposição da mulher e aumentar a privacidade, sempre com o uso de cortinas". No caso das adolescentes grávidas, o tratamento inadequado pode contribuir para a "insatisfação e perda de oportunidade de engajamento com esse grupo".
A pesquisadora do Departamento de Saúde Reprodutiva da OMS, Ozge Tunçalp, ressalta que "melhorar a experiência das mulheres durante o nascimento dos bebês é essencial para aumentar a confiança nos centros de saúde e garantir acesso a cuidados de qualidade no pós-parto".
Além disso, Ozge afirma que "quando mulheres e seus bebês recebem cuidados respeitosos, de qualidade e centrados na pessoa, existem mais chances delas buscarem cuidados de saúde e procurarem seus médicos".
Violência obstétrica atinge mais mulheres negras
O levantamento Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), feito em 2012, mostra que 30% das mulheres atendidas em hospitais privados sofrem violência obstétrica, enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS) a taxa é de 45%.
Quem mais sofre são mulheres negras - cerca de 65,9% segundo outro estudo, realizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), em 2010. De acordo com o Ministério da Saúde, as mulheres negras também recebem menos consultas pré-natais, além de terem menos acesso às informações sobre os riscos na gravidez em comparação com as gestantes brancas.
O conceito é usado para definir situações de abuso, desrespeito, violação de direitos e maus-tratos sofridas por mulheres desde o pré-natal, passando pelo parto e pós-parto. São caracterizadas como violência obstétrica condutas como:
- Negar atendimento
- Impedir a presença de um acompanhante, direito previsto em lei
- Recriminar a mulher por suas características físicas, como estrias, obesidade, pelos etc
- Abusar sexualmente da paciente
- Negar analgesia quando a paciente assim a requerer
- Impedir que a gestante se alimente
- Realizar a episiotomia - corte cirúrgico no períneo - quando o procedimento não é realmente necessário
- Submeter a mulher a procedimentos dolorosos, desnecessários ou humilhantes
- Não informar a paciente corretamente sobre os procedimentos e uso de medicamentos
- Ofender verbalmente, realizar ameaças e praticar violência física contra a gestante.